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AMBIENTE
Depósito com substâncias cancerígenas em Santo André terá estudo pago pela empresa poluidora
Cetesb faz acordo sobre cal contaminada
MARCELO LEITE
especial para a Folha
Um ano e cinco meses depois de
denunciada a contaminação de
um depósito de cal com dioxinas
e furanos, a Cetesb chegou a um
consenso com a empresa Solvay
Indupa, de Santo André (Grande
São Paulo), sobre como enfrentar
o problema.
A agência ambiental paulista e a
Solvay firmaram ontem um
"compromisso de acordo procedimental". O documento foi assinado também pelo Ministério Público de Santo André e pela organização não-governamental
Greenpeace, que fez a denúncia.
Dioxinas e furanos são substâncias cancerígenas. Sua toxicidade
é tanta que, segundo a Organização Mundial de Saúde, um adulto
não deve ingerir por dia mais que
4 ppt (partes por trilhão) -ou
0,000000004 grama por quilo.
Pesa sobre elas, também, a suspeita de pertencerem a um grupo
de compostos capazes de romper
o equilíbrio hormonal humano,
os "interruptores endócrinos".
Eles provocariam, entre outros
distúrbios, a feminização de fetos
masculinos, infertilidade masculina e cânceres de testículo e de
mama.
O acordo anunciado ontem não
contempla a descontaminação
(destruição) das cerca de 100 mil
toneladas contaminadas, num
depósito a céu aberto com mais
de 1 milhão de toneladas de cal. A
Solvay se compromete, no entanto, a pagar estudos para identificar uma alternativa "tecnicamente viável" para realizá-la.
A decisão final sobre a necessidade ou não de pôr em prática alguma forma de descontaminação
caberá à Cetesb e ao Ministério
Público. Ambos têm prazo de seis
meses para tomá-la.
Enquanto essa tecnologia não
for definida, a Solvay deverá realizar a contenção geológica e hidrológica do depósito, que fica num
terreno de 160 mil m2 em área
protegida, de mananciais, a poucas dezenas de metros do rio
Grande. Serão construídas barreiras para impedir que as dioxinas e
furanos alcancem as águas do rio
ou de lençóis freáticos.
Os projetos de engenharia para
confinamento deverão ser apresentados pela empresa em no máximo quatro meses. As obras começam em maio de 2000 e terão
de ser concluídas até maio de
2002 -quase quatro anos depois
de detectada a contaminação.
Entre as obrigações da Solvay
incluídas no acordo, está o monitoramento químico contínuo do
depósito e das águas em redor. As
amostras serão enviadas para
análise pelo laboratório Cegeq/
Cenpes, da Petrobras, o único no
Brasil capacitado para detecção
de dioxinas e furanos.
Serão também separados no
máximo 10% do material coletado para servirem como "amostras-testemunha", para envio a alguma "instituição internacional
de renome". Ou seja, para realizar
uma espécie de contraprova.
"Só o começo"
"Não é a conclusão (do processo), é o começo", disse o engenheiro químico Marcelo Furtado,
militante da ONG Greenpeace
que acompanhou toda a negociação coordenada pela Cetesb.
"Se não fosse por nossa denúncia, ninguém jamais ficaria sabendo desse depósito", disse Furtado.
Ele acrescentou que a ONG não se
limitou a denunciar, mas participou de toda a discussão.
Reinaldo Silveira, consultor jurídico do grupo Solvay, concorda
em que se trata somente de um
começo. Mas afirma que as iniciativas definidas no acordo vão
"permitir que se apurem de maneira clara as denúncias do
Greenpeace". A empresa diz ter
mais de 200 amostras discordantes da contaminação alardeada
pela ONG.
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