São Paulo, Quinta-feira, 23 de Dezembro de 1999


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Ciência cria teste para avaliar poluentes hormonais

especial para a Folha

Os chamados interruptores endócrinos, também conhecidos como poluentes orgânicos persistentes (POPs), são o pesadelo de qualquer cientista: muito complicados e, ao mesmo tempo, muito controversos. Graças a um teste inventado por pesquisadores britânicos, esse abacaxi poderá começar a ser descascado.
O anúncio foi feito na edição de dezembro da revista científica "Nature Biotechnology". Pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Alimentos de Norwich (Reino Unido) apresentaram um novo teste para detectar minúsculas quantidades de compostos estrogênicos na comida.
A vantagem da nova técnica é não empregar métodos muito complicados e caros, como substâncias radiativas e cultura de células. Mais simples, o teste tem potencial para disseminar-se e, com isso, permitir uma avaliação mais ampla de quanto desses poluentes já se acumulou em seres humanos e alimentos.
Sua presença já foi detectada em pássaros, répteis, peixes e até em ursos polares. São associados com perturbações fisiológicas e comportamentais bizarras nesses animais, como infertilidade e abandono da prática de construir ninhos e chocar ovos.
O temor é que efeitos semelhantes expliquem algumas perturbações em humanos, como a diminuição na contagem de espermatozóides e o desenvolvimento incompleto de testículos. O alarme foi dado por Theo Colborn, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), no livro "Our Stolen Future" (Nosso Futuro Roubado).
Nesse grupo de compostos cabe muita coisa, do inseticida DDT a alguns de seus substitutos para uso doméstico (piretróides), das dioxinas e furanos a herbicidas e fungicidas, de produtos de limpeza a aditivos alimentares.
Essas substâncias têm a capacidade de imitar a ação de hormônios como o estrógeno (feminino). Como possuem alguns elementos da estrutura química semelhantes ao hormônio verdadeiro, são reconhecidos pelos receptores específicos para esses hormônios nas células animais.
As células não têm como "saber" se o sinal que estão recebendo é de um hormônio de verdade ou de uma imitação posta a circular pela indústria moderna. Passam a agir como se estivessem na presença do estrógeno. Isso pode atrapalhar o desenvolvimento de um feto masculino.
Os cientistas de Norwich usaram essa capacidade dos POPs de ocupar os receptores do estrógeno. Em seu teste, empregam receptores desvinculados de células vivas. Quantidades definidas de estrógeno humano (17-beta-estradiol) passam a competir por eles com os pseudo-hormônios da amostra.
Quanto mais interruptores endócrinos houver no alimento, mais receptores ficarão ocupados e, portanto, indisponíveis para o verdadeiro estrógeno usado no teste. Medindo o nível deste último, consegue-se estimar a concentração dos poluentes. (ML)




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