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Ciência cria teste para avaliar poluentes hormonais
especial para a Folha
Os chamados interruptores endócrinos, também conhecidos
como poluentes orgânicos persistentes (POPs), são o pesadelo de
qualquer cientista: muito complicados e, ao mesmo tempo, muito
controversos. Graças a um teste
inventado por pesquisadores britânicos, esse abacaxi poderá começar a ser descascado.
O anúncio foi feito na edição de
dezembro da revista científica
"Nature Biotechnology". Pesquisadores do Instituto de Pesquisa
de Alimentos de Norwich (Reino
Unido) apresentaram um novo
teste para detectar minúsculas
quantidades de compostos estrogênicos na comida.
A vantagem da nova técnica é
não empregar métodos muito
complicados e caros, como substâncias radiativas e cultura de células. Mais simples, o teste tem
potencial para disseminar-se e,
com isso, permitir uma avaliação
mais ampla de quanto desses poluentes já se acumulou em seres
humanos e alimentos.
Sua presença já foi detectada em
pássaros, répteis, peixes e até em
ursos polares. São associados
com perturbações fisiológicas e
comportamentais bizarras nesses
animais, como infertilidade e
abandono da prática de construir
ninhos e chocar ovos.
O temor é que efeitos semelhantes expliquem algumas perturbações em humanos, como a diminuição na contagem de espermatozóides e o desenvolvimento incompleto de testículos. O alarme
foi dado por Theo Colborn, do
Fundo Mundial para a Natureza
(WWF), no livro "Our Stolen Future" (Nosso Futuro Roubado).
Nesse grupo de compostos cabe
muita coisa, do inseticida DDT a
alguns de seus substitutos para
uso doméstico (piretróides), das
dioxinas e furanos a herbicidas e
fungicidas, de produtos de limpeza a aditivos alimentares.
Essas substâncias têm a capacidade de imitar a ação de hormônios como o estrógeno (feminino). Como possuem alguns elementos da estrutura química semelhantes ao hormônio verdadeiro, são reconhecidos pelos receptores específicos para esses
hormônios nas células animais.
As células não têm como "saber" se o sinal que estão recebendo é de um hormônio de verdade
ou de uma imitação posta a circular pela indústria moderna. Passam a agir como se estivessem na
presença do estrógeno. Isso pode
atrapalhar o desenvolvimento de
um feto masculino.
Os cientistas de Norwich usaram essa capacidade dos POPs de
ocupar os receptores do estrógeno. Em seu teste, empregam receptores desvinculados de células
vivas. Quantidades definidas de
estrógeno humano (17-beta-estradiol) passam a competir por
eles com os pseudo-hormônios
da amostra.
Quanto mais interruptores endócrinos houver no alimento,
mais receptores ficarão ocupados
e, portanto, indisponíveis para o
verdadeiro estrógeno usado no
teste. Medindo o nível deste último, consegue-se estimar a concentração dos poluentes.
(ML)
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