São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 2000

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NORTE

Praias nobres do litoral norte perdem estilo caiçara e se tornam "paulistanas"

Verão será de noites badaladas e transtorno



Marcelo Min/Folha Imagem
Pôr-do-sol em Juqueí, uma das praias em que as belezas naturais convivem com os confortos (e os problemas) da cidade grande


GUSTAVO CHACRA
ENVIADO ESPECIAL AO LITORAL NORTE

Bares pitorescos, festas rave e boates que lembram Ibiza (Espanha) para as pessoas se divertirem nas noites e madrugadas, além de restaurantes caros e com gastronomia requintada.
Ao mesmo tempo, trânsito congestionado, dificuldades para estacionar, filas nos restaurantes, falta de produtos, preços altos, barulho, multas, assaltos, sequestros-relâmpago.
Esse é o quadro mais provável de como será neste verão o litoral norte paulista, cada ano mais distante do estilo caiçara e da calmaria das décadas de 70 e 80.
No verão que começa oficialmente neste sábado, muitas das mazelas e das qualidades de São Paulo se transferem para a grande faixa de quase 300 quilômetros que compõem o litoral paulista (leia sobre o litoral sul à pág. 4 e sobre Santos, São Vicente e Guarujá à pág. 20).
A praia de Maresias, que até dez anos atrás era um paraíso de surfistas e de poucos visitantes paulistas que se misturavam aos pescadores locais nos fins-de-semana, é a síntese dessa temporada da noite e do estresse. Seus pouco mais de três quilômetros de extensão se tornaram o "point" tanto da diversão quanto dos principais transtornos enfrentados por veranistas e moradores.
Percorrer a principal avenida da praia (que é a própria Rio-Santos) pode demorar mais de 40 minutos. Em dias normais, gasta-se menos de cinco minutos.
Mas não é apenas no trânsito que a praia fica igual à cidade: segundo previsão de proprietários, o tempo de espera nos restaurantes mais badalados deverá chegar a mais de uma hora.
Quanto aos preços, eles serão bem mais salgados do que na capital. As boates da região chegam a cobrar R$ 50 de entrada e de R$ 1,50 a R$ 2 por um refrigerante.
Estacionar o carro é outro motivo de estresse. Parar na rua pode resultar em multa, como aconteceu com o engenheiro Luís Fernando Siqueira, 24, autuado na Barra do Sahy. Ou em coisa bem pior, como foi o caso do estudante Francisco Araújo, 20. Ao sair de uma boate em Camburi para pegar o carro, foi sequestrado por dois homens armados. Após duas horas rodando, ele foi solto na rodovia, descalço e sem dinheiro.
Se depender da boa vontade das operadoras, o uso de telefones celulares causará menos aborrecimento aos usuários do que no ano passado.
A Tess, que cede à BCP o sistema que completa as ligações quando o aparelho está fora da área de sua operadora (o "roaming"), diz ter dobrado o número de circuitos e de antenas em relação à última temporada. A Telesp Celular informa que terá uma Operação Verão, mas não especificou o que vai fazer para dar conta da multiplicação de usuários, das ligações que não completam e da falta de sinal.
Portanto, quem estiver no litoral norte para curtir praia e calor também deverá ter na bagagem uma boa dose de paciência.

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