São Paulo, quarta, 23 de dezembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice VIOLÊNCIA Líder indígena é acusado de estuprar estudante, e sua mulher, de co-autoria no crime, ocorrido em maio de 92 Justiça condena Paiakan a 6 anos de prisão
LUÍS INDRIUNAS da Agência Folha, em Belém A Justiça do Pará condenou, em segunda instância, o líder indígena Paulinho Paiakan, 43, a seis anos de prisão por atentado violento ao pudor. Em maio de 92, Paiakan foi acusado de estuprar a estudante Sílvia Letícia Ferreira, na época com 18 anos. Os juízes, que votaram a sentença por unanimidade, decidiram também que a mulher de Paiakan, Irekran Caiapó, acusada de co-autoria no crime, deve cumprir seis anos em regime semi-aberto. Irekran teria a pena abrandada por ser "indígena e em fase de adaptação a vida e meio social". Segundo a sentença, Irekran terá que morar próximo a alguma sede da Funai. Em 1992, Sílvia acusou Paiakan de tê-la estuprado com a ajuda de Irekran. O crime teria acontecido no carro do líder indígena após um churrasco, em Redenção (1.085 km de Belém). O crime repercutiu mundialmente já que, na época, acontecia a ECO-92, Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, no Rio. Em novembro de 94, Paiakan e Irekran foram absolvidos. O Ministério Público recorreu no mês seguinte, mas o recurso só foi julgado na última quinta-feira. No depoimento que deu à polícia na época, Paiakan nega que tenha estuprado a estudante e aponta sua mulher como autora dos ferimentos na vagina encontrados no exame de corpo delito. Irekran teria incentivado Paiakan a manter relações com Sílvia. Segundo o depoimento dele, Irekran teria dito: "É isso que eu quero porque eu sei que ela está a fim de você e eu quero que você transe com ela". Num determinado momento, Irekran teria arranhado a vagina de Sílvia. A promotora Mirna Gouveia dos Santos, autora do recurso julgado, tem outra versão para o caso. Para ela, Paiakan estuprou Sílvia com a ajuda da mulher. Segundo Mirna, um dos peritos do IML (Instituto Médico Legal) disse, em depoimento, que determinados ferimentos encontrados em Sílvia só poderiam ter sido feitos pelo pênis. O advogado da Funai (Fundação Nacional do Índio) João Costa Neto disse que irá recorrer da sentença no Superior Tribunal Federal. Durante dois anos, o líder cumpriu prisão domiciliar na aldeia A-Ukre (a 280 km de Redenção). Ontem à tarde, Paiakan disse à Agência Folha que não sabia da sentença e que a maioria dos detalhes do caso ele não se lembrava mais. Ele, no entanto, voltou a negar o estupro. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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