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SANEAMENTO
Relatório mostra que órgão sugeriu ao governo tirar poder de municípios pequenos na titularidade dos serviços de água
Banco Mundial estimulou privatização
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
Um documento elaborado pelo
Banco Mundial sugeriu ao governo federal tirar poder dos municípios com menos de 100 mil habitantes na titularidade dos serviços
de água no país.
O governo solicitou ajuda do órgão para a elaboração de um projeto de saneamento básico. A proposta do projeto de lei que regulamenta o setor deve ser enviada em
fevereiro ao Congresso.
No documento "Regulação e
Saneamento no Brasil. Prioridades Imediatas", de abril de 99, o
Banco Mundial sugeria ao governo usar "toda extensão de seus
poderes administrativos para desestimular que municípios com
população inferior a 100 mil habitantes outorguem concessões independentes".
A solicitação do governo ao
Banco Mundial aconteceu após
assinatura do protocolo com o
FMI, em 8 de março de 1999,
quando o Brasil se comprometeu
a preparar "a moldura legal para a
privatização e a concessão de serviços de água e esgoto", conforme
o item 27 do protocolo assinado.
Na 1ª Conferência Nacional de
Saneamento realizada também
em 99, em Brasília, Abelardo de
Oliveira, secretário-executivo da
Frente Nacional pelo Saneamento
Ambiental, e o professor da Universidade Federal da Bahia Luís
Roberto Santos Moraes já mostravam que o governo usaria a
"cartilha do Banco Mundial para
a privatização do saneamento
brasileiro".
A assessoria de imprensa do
Banco Mundial, em Brasília, confirmou que o documento foi elaborado pelo órgão. De acordo
com a assessoria, é normal o banco realizar estudos setoriais para
seus clientes.
O projeto do governo que vai regulamentar o setor prevê a organização do sistema por bacias hidrográficas e o poder concedente
será definido por essa organização. Hoje, não existe uma norma
para isso e cada município decide
como fazer em relação ao seu sistema de água.
De acordo com o secretário-executivo da frente, além de o
projeto obedecer à orientação do
Banco Mundial, a questão não está sendo tratada como "uma ação
de saúde pública". Para Oliveira, a
frente é contra a privatização do
setor por entender que "a água é
um direito fundamental do ser
humano e não pode ser tratada
como mais um negócio".
Para Moreira Franco, assessor
especial da Presidência, o projeto
foi elaborado justamente para regularizar o setor. Para ele, as divergências em relação à proposta
do governo são "ideológicas" e
não técnicas. "A origem do dinheiro não importa. O que vale é
que o projeto vai dar condições
para aumentar a extensão dos serviços de distribuição de água e coleta de esgoto no país".
Multinacionais e empresas privadas esperam a regulamentação
do setor para aumentar a participação no mercado. Atualmente,
95% do mercado está nas mãos de
governos estaduais e municipais.
O Fórum dos Secretários Estaduais de Recursos Hídricos se
reúne hoje, às 10h, em Brasília, para discutir a proposta de titularidade dos serviços de saneamento
básico. A proposta faz parte do
projeto de lei que será encaminhado pelo governo federal ao
Congresso no próximo mês.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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