São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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Laudo de 97 mostrava problemas no prédio

WILSON TOSTA
da Sucursal do Rio

Pilares rachados, paredes trincadas, infiltrações: oito meses antes da tragédia de anteontem, esse era o quadro do condomínio Palace traçado pelo arquiteto Nelson de Moraes Guimarães, em parecer técnico que integra processo que corre na 39ª Vara Cível.
Na ação, iniciada no ano passado, os condôminos exigem que a Matersan Materiais de Construção (subsidiária da Sersan) assuma e pague os consertos necessários. Eles acusam a empresa de não ter respeitado o Memorial Descritivo, que prometia materiais de boa qualidade para a obra.
A pedido dos moradores, Guimarães examinou todo o bloco 1, áreas comuns aos dois blocos e os dois níveis de garagens no subsolo. Em seu parecer, de junho de 97, o assistente técnico não opina sobre risco de desabamento, mas aponta o que considera falhas nos materiais usados e nas técnicas empregadas.
Entre as mais de cem fotos que ilustram o documento, chamam atenção aquelas que reproduzem o estado de alguns pilares das garagens. Um está estufado, com rachaduras. Outros estão com as armaduras (ferragens) expostas e nitidamente corroídas.
Segundo Gregório Duarte Santos, ex-síndico, o pilar que cedeu inicialmente no domingo (na segunda garagem, sob o bloco 2) não aparece nas fotografias. Santos disse que, curiosamente, a pilastra que pode ter iniciado o desmoronamento não aparentava problemas até a madrugada de anteontem, quando cedeu.
Armaduras de ferro também aparecem expostas nas fotos de vigas e lajes da primeira garagem. Também foram fotografadas infiltrações, como a de um reservatório, onde um vazamento claramente mancha as paredes.
O parecer também aponta trincas na sauna, infiltração no salão de festas e umidade na sala de musculação. Também são expostas infiltrações de água em vestíbulos, escadas, lixeira, garagens e até no apartamento do porteiro. O documento mostra ainda trincas em paredes de alvenaria que, segundo o arquiteto, eram decorrentes de problemas técnicos e descumprimento de prazos mínimos em sua construção.
Também são denunciados procedimentos inadequados e uso errado de materiais nas obras, como no caso das placas de mármore do revestimento externo do bloco 1, que começaram a se soltar e ameaçavam cair (algumas foram retiradas pelos próprios moradores).
Para Guimarães, as placas estavam estufadas e se soltando por causa do uso, para preparar o cimento, de água contaminada com salitre, além de rejuntamento (vedação das juntas) feito "de maneira imprópria" e com falhas, o que teria facilitado a penetração da água.
Outro suposto caso de uso inadequado de materiais e técnicas é apontado no revestimento de ardósia do piso do térreo. Segundo Guimarães, a espessura das placas era imprópria para suportar o peso de veículos.



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