|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura limita a 1 kg a quantidade de leite mensal dada a um terço dos alunos; secretário alega economia
SP corta leite de crianças pela metade
ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local
A Prefeitura de São Paulo vai reduzir a quantidade de leite em pó
integral distribuído por mês para
as crianças menores de 7 anos,
dentro do programa Leve-leite.
Uma das principais bandeiras da
campanha que elegeu o prefeito
Celso Pitta (PPB) em 1996, o Leve-leite fornece, mensalmente, uma
lata de 2 kg de leite em pó para os
alunos que frequentam no mínimo
90% das aulas.
O programa abrange alunos das
creches, escolas infantis e de ensino fundamental (antigo primeiro
grau) da rede pública municipal.
A partir deste mês, porém, os
alunos das creches e escolas infantis -que representam quase um
terço do total- vão receber 1 kg.
Os da rede fundamental continuarão ganhando 2 kg.
"Não há prejuízo para a a alimentação das crianças. O problema é que temos de fazer economia.
A situação do país não é brincadeira", afirmou Naor Guelfi, secretário do Abastecimento. O programa
atende 850 mil crianças, sendo 250
mil em escolas infantis e creches. A
economia, segundo a prefeitura,
será de R$ 1,2 milhão por mês.
Nos últimos dois anos, a prefeitura paulistana já havia reduzido
as verbas destinadas às merendas,
ao mesmo tempo em que aumentou a abrangência do Leve-leite.
Estudo do vereador Carlos Neder
(PT) mostra que Pitta reduziu os
gastos com merenda em 16,29% de
97 para 98. O Leve-leite teve um
aumento de 19,23%
Necessidades
Na avaliação da secretaria, 1 kg é
suficiente para suprir as necessidades físicas e nutritivas das crianças.
O outro quilo, que vinha sendo
distribuído, estaria sendo consumido pelos familiares.
"Assim sendo, a redução do
montante de leite para 1 kg não
prejudicaria o programa social",
diz o relatório preparado pela secretaria para justificar o corte.
A nutricionista Tânia Rodrigues
não vê a redução no fornecimento
com bons olhos. "Com a diminuição, a criança vai ficar só com meio
quilo, pois a outra parte continuará sendo consumida pelos familiares", afirma.
Segundo a nutricionista, 1 kg já
não é suficiente para suprir as necessidades de cálcio das crianças
menores de 7 anos.
A prefeitura argumenta que a
merenda fornecida nas creches e
escolas complementa o mínimo de
cálcio indispensável para o crescimento das crianças.
A professora Célia Coli, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da USP,
diz que a questão não é numérica.
"Um programa de recuperação
nutricional precisa avaliar, individualmente, quais são as crianças
que têm mas deficiências e precisam receber mais alimentos. Não
pode ser feito aleatoriamente. Deve contemplar outras questões como orientação aos pais, continuidade e acompanhamento", diz.
Ela afirma, por exemplo, que a
distribuição de leite enriquecido
com ferro para crianças com deficiências alimentares poderia combater a anemia, um dos principais
problemas da infância no Brasil.
A professora estranha também o
fato de os cortes atingirem as
crianças mais novas. "São as que
têm mais necessidade de leite."
Texto Anterior: Camelô teria loteado viaduto, diz polícia Próximo Texto: Maluf não comenta o assunto Índice
|