São Paulo, Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 1999
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ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura limita a 1 kg a quantidade de leite mensal dada a um terço dos alunos; secretário alega economia
SP corta leite de crianças pela metade

ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

A Prefeitura de São Paulo vai reduzir a quantidade de leite em pó integral distribuído por mês para as crianças menores de 7 anos, dentro do programa Leve-leite.
Uma das principais bandeiras da campanha que elegeu o prefeito Celso Pitta (PPB) em 1996, o Leve-leite fornece, mensalmente, uma lata de 2 kg de leite em pó para os alunos que frequentam no mínimo 90% das aulas.
O programa abrange alunos das creches, escolas infantis e de ensino fundamental (antigo primeiro grau) da rede pública municipal.
A partir deste mês, porém, os alunos das creches e escolas infantis -que representam quase um terço do total- vão receber 1 kg. Os da rede fundamental continuarão ganhando 2 kg.
"Não há prejuízo para a a alimentação das crianças. O problema é que temos de fazer economia. A situação do país não é brincadeira", afirmou Naor Guelfi, secretário do Abastecimento. O programa atende 850 mil crianças, sendo 250 mil em escolas infantis e creches. A economia, segundo a prefeitura, será de R$ 1,2 milhão por mês.
Nos últimos dois anos, a prefeitura paulistana já havia reduzido as verbas destinadas às merendas, ao mesmo tempo em que aumentou a abrangência do Leve-leite.
Estudo do vereador Carlos Neder (PT) mostra que Pitta reduziu os gastos com merenda em 16,29% de 97 para 98. O Leve-leite teve um aumento de 19,23%

Necessidades
Na avaliação da secretaria, 1 kg é suficiente para suprir as necessidades físicas e nutritivas das crianças. O outro quilo, que vinha sendo distribuído, estaria sendo consumido pelos familiares.
"Assim sendo, a redução do montante de leite para 1 kg não prejudicaria o programa social", diz o relatório preparado pela secretaria para justificar o corte.
A nutricionista Tânia Rodrigues não vê a redução no fornecimento com bons olhos. "Com a diminuição, a criança vai ficar só com meio quilo, pois a outra parte continuará sendo consumida pelos familiares", afirma.
Segundo a nutricionista, 1 kg já não é suficiente para suprir as necessidades de cálcio das crianças menores de 7 anos.
A prefeitura argumenta que a merenda fornecida nas creches e escolas complementa o mínimo de cálcio indispensável para o crescimento das crianças.
A professora Célia Coli, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, diz que a questão não é numérica.
"Um programa de recuperação nutricional precisa avaliar, individualmente, quais são as crianças que têm mas deficiências e precisam receber mais alimentos. Não pode ser feito aleatoriamente. Deve contemplar outras questões como orientação aos pais, continuidade e acompanhamento", diz.
Ela afirma, por exemplo, que a distribuição de leite enriquecido com ferro para crianças com deficiências alimentares poderia combater a anemia, um dos principais problemas da infância no Brasil.
A professora estranha também o fato de os cortes atingirem as crianças mais novas. "São as que têm mais necessidade de leite."


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