São Paulo, quarta, 24 de março de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Vou desmascarar o PT e o PSDB'

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O ex-prefeito Paulo Maluf se reuniu ontem de manhã na sua casa, em São Paulo, com oito assessores, sendo quatro deles advogados. Foram mais de quatro horas que resultaram numa nota de sete pontos escritos com 375 palavras a respeito da acusação de paternidade.
A acusação foi feita a delegados, promotores e aos membros da CPI da Câmara.
Silvio Rocha de Oliveira, ex-funcionário municipal, afirmou que sua filha teve um relacionamento com Maluf em 90 e que desse relacionamento nasceu uma criança. Rocha disse também que o tesoureiro de campanha de Maluf, Calim Eid, lhe deu dinheiro para que ele se calasse sobre essa história.
Em entrevista à Folha, depois da divulgação da nota, Maluf disse que não poderia fazer voluntariamente um exame de DNA, para provar que não é o pai, porque correria o risco de ter de se submeter a testes em várias partes do país. Ele considera que a sua posição social incitaria pessoas "inescrupulosas" a inventar histórias sobre possíveis casos de paternidade.
Segundo Maluf, seus advogados lhe disseram o seguinte: "Dr. Paulo, o sr. não pode sair por aí se submetendo a testes de DNA em todos os Estados. Vai aparecer coisa para burro. Isso o sr. só pode admitir se alguém se julgar eventualmente prejudicado e for à Justiça".
O ex-prefeito considera a acusação um ataque do PT e do PSDB. "Vou desmascarar o PT e o PSDB, que desejam me atacar com isso."
A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida por telefone:

Folha - Na sua nota o sr. se dispõe a fazer um teste de DNA apenas se a Justiça determinar (o que seria obrigatório). Por quê?
Paulo Maluf -
Tem que ser judicial. O teste de paternidade, quando é feito, o é por diversas razões. Inclusive de ordem material.
Se alguém se achar prejudicado, que entre na Justiça. Na minha nota, estou tendo a coragem de dizer isso. No fundo, estou fazendo um convite. Faço o teste na Justiça, não numa CPI comandada pelo José Eduardo Cardozo (do PT, presidente da CPI). Não vou entregar minha cabeça para esses bandidos.
- Se o sr. não tem nada a ver com o caso, não seria mais fácil fazer o teste já, voluntariamente?
Maluf -
Eu tenho uma certa posição social. Gente inescrupulosa pode querer se aproveitar disso financeiramente inventando histórias. Corro o risco de amanhã no Rio de Janeiro, depois de amanhã na Bahia, depois no Rio Grande do Sul, você sabe como é, alguém aparecer para dizer: "Maluf esteve aqui em campanha eleitoral para a Presidência em 84. Eu tenho 16 anos e sou filho dele" . Então, quem quiser, que entre na Justiça.
Folha - Ou seja, o sr. não fará o teste de DNA voluntariamente?
Maluf -
Não. Se o sujeito requerer judicialmente, estou à disposição. Mas não vou eu me colocar à disposição. Isso eu pesei muito. Fiz uma reunião com várias pessoas.
Folha - O que os seus advogados disseram a respeito?
Maluf -
Eles me disseram: "Dr. Paulo, o sr. não pode sair por aí se submetendo a testes de DNA em todos os Estados brasileiros. Vai aparecer coisa para burro. Isso o sr. só pode admitir se alguém se julgar eventualmente prejudicado e for à Justiça".
Se entrarem na Justiça, ótimo. Vou desmascarar o PT e o PSDB, que desejam me atacar com isso.
Aliás, a Promotoria já tinha um depoimento dizendo que era tudo mentira. É curioso que o vereador José Eduardo Cardozo tenha pegado uma cópia desse processo sigiloso, já arquivado, e tenha reproduzido em xerox e distribuído para todo mundo. Certamente ele obteve essas cópias por intermédio da mulher dele, que é promotora e trabalha no gabinete do (Luiz Antônio) Marrey (procurador de Justiça de São Paulo).
Folha - Como o sr. explica que o sr. Silvio Rocha de Oliveira tenha recuado e voltado atrás no recuo a respeito da acusação contra o sr.?
Maluf -
Ele disse que estava sendo ameaçado de morte. Também disse que estava querendo se vingar de nós porque não tinha tempo na propaganda de TV. Primeiro ele fez uma denúncia em agosto do ano passado à promotoria. Depois, voltou à promotoria em setembro e retirou o que disse...
Folha - ... Ele está dizendo que teria recebido um pagamento de Calim Eid para retirar a acusação no ano passado. Isso é verdade?
Maluf - Ele (Silvio) deve estar comprado por alguém.
Folha - Mas o Calim Eid pagou ou não pagou?
Maluf -
Olha, que razão ele (Silvio) teria depois de nove anos para fazer a denúncia? Mas ele falou, desdisse e disse de novo. Em quem você vai acreditar? No mínimo é uma testemunha desqualificada.
Folha - Mas o Calim Eid fez algum pagamento a ele?
Maluf -
Se o Calim ajudou, ajudou em nome do partido. Ele (Silvio) era candidato a deputado federal do PPB. Todos os candidatos a deputado receberam em nome do partido, com tudo relatado ao TRE na prestação de contas.
Se o Calim ajudou, ajudou por finalidade política. Não foi para calar a boca dele.
Folha - Quem colocou Silvio na Regional da Penha?
Maluf -
Foi pedido do vereador Alex Freua Neto.
Aliás, eu me pergunto o seguinte: por que não investigam possíveis irregularidades cometidas por ele (Silvio) na Regional da Penha? Deveriam responder isso na CPI.
Folha - Qual era seu contato com Silvio Rocha?
Maluf -
É um cabo eleitoral da zona leste. Deve ter participado de alguns comícios. Nunca mais vi.
Folha - O sr. conhece a filha de Silvio Rocha citada nesse caso?
Maluf -
Eu, pessoalmente, fiz o cálculo outro dia, já dei a mão a um milhão e duzentas mil pessoas.
Folha - O sr. se recorda dela?
Maluf -
Se encontrar na rua, ao lado do pai, eu posso até reconhecer. Fora disso, eu não sei quem é.
Folha - O sr. vai divulgar mais alguma coisa a respeito desse caso?
Maluf -
Estou com a consciência tranquila. Estou divulgando fita em que esse sujeito (Silvio) desdiz tudo.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.