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EDUCAÇÃO
Relatório produzido por organização britânica aponta o descompasso entre renda e aprendizado no Brasil
Estudo mostra desajuste do ensino básico
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
A desigualdade da distribuição
dos recursos e a falta de articulação
entre as políticas sociais leva o Brasil a ter um desempenho em educação pior do que permitiria sua
condição econômica. Esse é um
dos resultados de um estudo realizado pela ONG (Organização Não-Governamental) britânica Oxfam.
A entidade divulgou, anteontem,
estudo em que analisa a performance na educação básica -nível
equivalente, no Brasil, ao ensino
fundamental (antigo 1º grau)- de
104 países, baseando-se em dados
da Unesco e do Banco Mundial.
Entende-se por performance
educacional o resultado de uma relação entre número de matrículas,
equidade de acesso entre meninos
e meninas e taxa de conclusão. A
condição econômica foi medida
pelo índice de paridade de poder
de compra do Banco Mundial.
O Brasil é o 48º em performance
educacional, mas é o 32º em poder
de compra -ou seja, por esses critérios, a performance educacional
brasileira está 16 pontos abaixo da
econômica. Alguns países, como
Cabo Verde, vivem o inverso. Na
América do Sul, Uruguai, Chile,
Venezuela, Paraguai, Argentina e
Equador estão mais bem posicionados que o Brasil no ranking.
"Existe algo muito errado no
Brasil em termos das políticas de
financiamento em educação, mas
isso ocorre em toda a América Latina. Há muita disparidade entre as
regiões", disse à Folha o autor do
relatório, Kevin Watkins.
Tomando como base as referências do estudo, o Nordeste seria
comparável a Moçambique (97º), e
o Sudeste, à Coréia do Sul (11º).
"Seria importante injetar mais
recursos nas regiões carentes e articular as políticas educacionais,
sociais e de saúde visando a erradicação da pobreza", diz Watkins.
Para a oficial de projetos em educação do Unicef no Brasil, Ana Catarina Braga, as conclusões sobre o
país que se extrai do relatório são
verdadeiras, mas são apenas um
"prisma da realidade".
"As desigualdades existem, mas
desde o início da década está aumentando a consciência nacional
sobre a importância da educação,
em todos os níveis", disse ela.
Essa nova consciência tem-se
traduzido em políticas e em novas
formas de articulação entre governo e sociedade civil. Entre as políticas, um destaque é o Fundef, mais
conhecido como fundão da educação, implantado em 98 para redistribuir os recursos destinados ao
ensino fundamental entre Estados
e municípios. Um dos efeitos do
fundo, cujo balanço saiu na semana passada, foi o aumento médio
de 12,9% dos salários dos professores, com picos de reajuste salarial
de até 52,9% no Nordeste.
Na avaliação da Oxfam, as metas
traçadas na Conferência Mundial
de Educação para Todos (realizada
na Tailândia, em 1990) não foram
cumpridas. Os 155 países participantes do evento se comprometeram a garantir o acesso universal à
educação básica até o ano 2000. A
Oxfam constatou que, 125 milhões
de crianças, em todo o mundo,
nunca foram à escola, e outras 150
milhões param de estudar antes de
aprender a escrever e a ler.
Para a entidade, o acesso à educação de qualidade é fundamental
para a erradicação da pobreza.
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