São Paulo, quinta, 24 de abril de 1997.

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Carro foi reconhecido na TV

da Sucursal de Brasília

Adailto Ribeiro da Silva disse que descobriu no domingo à noite, assistindo ao ``Fantástico'', da Rede Globo, que tinha vendido o álcool usado pelo grupo para incendiar o índio pataxó. ``Me revoltou. Foi uma pilantragem, uma sacanagem'', afirmou.
Silva disse que ficou nervoso ao reconhecer dois dos jovens presos e o carro deles. ``Contei para todo mundo em casa. Precisava desabafar.'' Na segunda-feira, procurou o gerente do posto e contou o ocorrido.
``O gerente disse para eu sossegar, porque o jornal tinha dito que eles tinham usado thinner (solvente), e não álcool.''
Baiano de Santa Rita de Cássia, Silva mora na cidade-satélite de Taguatinga (25 km de Brasília) há um ano, com quatro primos.
Segundo grau completo, técnico em contabilidade e com curso de computação, o flamenguista Adailto Silva teme agora retaliações de amigos dos jovens e de seu patrão, que pode não gostar da agitação.
Na madrugada de ontem, Silva conversou com a Folha enquanto atendia os clientes. (WF)

Folha - O sr. notou algum comportamento estranho no grupo?
Adailto Silva -
Eles não estavam nada nervosos. O carro não tinha música e eles não estavam agitados. Também não bebiam nada. Até parecia que aquela não era a primeira vez que isso acontecia.
Folha - O sr. não estranhou o fato de eles pedirem combustível em um vasilhame usado?
Silva -
Não. Sempre tem cliente que compra assim. É uma coisa normal, o posto nunca disse para não vender.
Folha - Depois de ver na TV os jovens presos, o sr. não pensou em procurar a polícia?
Silva -
Até pensei, mas depois vi que eles estavam presos e achei que a minha história não ia ajudar em nada.
Folha - O sr. teme algo, agora que sua história é pública?
Silva -
Tenho medo que amigos deles queiram se vingar. O problema não é sofrer um atentado, é perder a vida.
Folha - O que o sr. sente por eles, agora?
Silva -
Não sei. Tem gente que diz que tinha que acontecer o mesmo com eles: queimarem numa fogueira.

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