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NARCOTRÁFICO
Criminoso pode ser deportado hoje; Quintal diz que ouviu dele nomes de políticos e empresários ligados ao tráfico
Interrogatório define entrega de Beira-Mar
ESTANISLAU MARIA
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
O traficante brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho
Beira-Mar, pode ser deportado
hoje para o Brasil, ao final do depoimento que será reiniciado a
partir das 8h (10h em Brasília) em
Bogotá, na Fiscalía General de la
Nácion (órgão equivalente à Procuradoria Geral da República).
Ele começou a depor ontem às
10h (12h de Brasília) e pediu a suspensão do depoimento às 16h
(18h de Brasília), alegando cansaço e problemas de saúde devido a
ferimentos no braço direito.
O destino de Beira-Mar será decidido pelo fiscal (espécie de procurador) que preside o interrogatório -o nome dele não é divulgado por medida de segurança.
Hoje, ao final do depoimento, o
fiscal poderá oferecer denúncia
contra o traficante, o que obrigaria Beira-Mar a ficar na Colômbia
durante o processo. Se o fiscal
achar que não há provas de crime,
ele será entregue às autoridades
da imigração colombiana.
O adido da Polícia Federal na
Embaixada Brasileira, César Nunes, disse que a PF já tem, desde
ontem, uma equipe de prontidão
em Tabatinga (AM) esperando o
sinal do governo colombiano para a deportação de Beira-Mar.
Compõem a equipe um delegado
e três agentes.
""Não há acordo ainda [sobre a
deportação" porque o governo da
Colômbia disse que, antes de
qualquer coisa, tinha a necessidade, o que é compreensível, de fazer questionamentos sobre a vida
real que Beira-Mar levou nesses
anos que ficou em seu território",
disse ontem o ministro da Justiça,
José Gregori, em São Paulo.
Dinheiro às Farc
Segundo a agência de notícias El
Tiempo, da Colômbia, o traficante disse em depoimento ao Exército colombiano que, ""para cada
quilo que tirava do país, teria de
entregar dólares às Farc [Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo guerrilheiro que
domina cerca de metade do território daquele país" e que cada vôo
clandestino custaria US$ 15 mil".
Beira-Mar seria o braço das Farc
para a compra de armas. Teria
afirmado ainda que tirava da Colômbia, a cada mês, de 20 a 22 toneladas de cocaína.
Em entrevista ontem à noite, o
fiscal-geral de la Nación (procurador-geral da República), Alfonso
Gómez Méndez, disse que o depoimento estará concluído hoje.
"Se o fiscal não pedir um processo, o senhor Fernando pode ser
deportado", disse Méndez.
Segundo o fiscal-geral, Beira-Mar deu seu depoimento em espanhol. Na sala de interrogatório
estavam o fiscal, um promotor
público e um defensor público.
Méndez disse ainda que não recebeu nenhum pedido oficial ou
pressão política do governo brasileiro para pedir ao fiscal do interrogatório, seu subordinado, que
não apresentasse denúncia.
Chegando ao Brasil, Beira-Mar
deve ser levado a Brasília, mas o
local onde ficará preso não está
definido. Beira-Mar não pode ser
extraditado (remoção negociada
entre dois países) porque não
existe acordo de extradição entre
Brasil e Colômbia, por isso a saída
será a deportação (expulsão após
constatação de irregularidade).
As negociações entre os dois
países não foram difíceis porque o
Brasil quer o traficante, que pode
significar um peso na política interna colombiana. O presidente
Andrés Pastrana vem negociando
um plano de paz com as Farc (a
guerrilha colombiana), mas jamais poderia sentar-se à mesa
com narcotraficantes.
Ajuda a políticos
Em uma conversa reservada de
mais de uma hora com o secretário da Segurança Pública do Rio,
coronel Josias Quintal, na tarde de
ontem, em Bogotá, Beira-Mar teria feito revelações "surpreendentes", em que citou nomes de políticos, empresários, empresas e
policiais envolvidos com o narcotráfico. Segundo Quintal, o traficante disse ter dado US$ 500 mil
para a campanha eleitoral de um
desses políticos.
"Não vou dizer os nomes das
pessoas, mesmo porque são acusações de um criminoso e ainda
iremos investigar, mas fiquei chocado com as declarações", disse
Quintal, de Bogotá. Fernandinho
Beira-Mar afirmou, ainda segundo o secretário, ter medo de retornar ao Brasil e ser morto.
Também teria dito que entregaria uma de suas namoradas, Jaqueline Alcântara Moraes, à polícia do Rio, com a condição de que
ela fosse protegida. O traficante
teme que ela sofra represálias.
Um encontro entre Beira-Mar e
autoridades brasileiras foi marcado para hoje de manhã.
Colaboraram Alessandro Silva, da Reportagem Local, e a Sucursal do Rio
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