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Garotinho aposta
futuro político
em ato extremo
MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO
A nomeação do ex-governador Anthony Garotinho (PSB)
para a Secretaria de Segurança
Pública do Rio de Janeiro é
uma medida extrema para salvar o governo de sua mulher,
Rosinha Matheus.
A decisão tem o objetivo claro de tentar demonstrar publicamente a vontade política do
governo fluminense de inverter
o quadro de descontrole na
área de segurança. Mas é uma
incógnita para o próprio governo o efeito da manobra.
O agravamento da crise de
segurança ocorre simultaneamente a duas outras crises:
uma, de origem política, provocada pelas denúncias de corrupção na Secretaria de Fazenda durante a gestão do ex-governador (1999 a abril de 2002);
a outra, de natureza econômica, com o Estado sem recursos
para pagar suas dívidas e sem
fôlego para investimentos.
A combinação desses três fatores praticamente paralisou a
administração estadual. O desgaste da governadora ficou
constatado na pesquisa Datafolha realizada no início de abril:
36% da população considerou
sua gestão ruim ou péssima,
contra 22% que a consideraram boa ou ótima.
Soma-se a esse quadro extremamente adverso um enfrentamento permanente do casal
com o governo Lula. Ao chamar para si a responsabilidade
de gerir a política de segurança,
Garotinho tenta afastar de vez
o fantasma de uma intervenção
formal ou branca do governo
federal no Rio.
Há um consenso hoje de que
as grandes cidades brasileiras
não conseguirão enfrentar as
ações cada vez mais ousadas
dos bandos do narcotráfico e
do crime organizado apenas
com as forças estaduais. O entrosamento entre as várias polícias e a disponibilização de recursos federais são condições
indispensáveis para um trabalho produtivo.
O modelo de cooperação que
está sendo testado pelo governo federal no Espírito Santo
-que deve se estender em breve para outros Estados- estava inviabilizado no Rio por
causa das incompatibilidades
entre as figuras-chaves desse
processo, Luiz Eduardo Soares,
secretário Nacional de Segurança Pública, em Brasília, e Josias Quintal, no Rio.
Os dois trabalharam juntos
no governo Garotinho na área
de segurança e se tornaram inimigos a partir de março de
2000, quando Soares foi demitido pelo então governador. O
ex-assessor havia denunciado a
existência de uma "banda podre" na polícia fluminense.
A nomeação de Garotinho
contraria a lógica de que o governo estadual deveria procurar um nome de sua confiança,
mas de trânsito fácil no governo federal. O novo secretário
não ajuda a desobstruir os canais entre o Planalto e o Guanabara. Além do conflito com
Luiz Eduardo, Garotinho tem
uma candidatura presidencial
colocada para a sucessão de
Lula. A discussão sobre política
de segurança continuará fatalmente contaminada pelas diferenças partidárias e eleitorais.
Duas vezes prefeito de Campos (de 1989 a 1992 e de 1997 a
1998), governador do Rio de
1999 a 2002, candidato a presidente da República na última
eleição e hoje o principal quadro do PSB nacional, Garotinho joga nessa indicação sua
cartada mais arriscada. Está em
jogo não apenas o futuro do governo de sua mulher, mas seu
próprio projeto presidencial.
Como definiu um de seus colaboradores próximos, é um jogo
de tudo ou nada.
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