|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Empresa afirma que alertou sociedades médicas sobre perigos de uso indevido do letrozol, mas aviso não chegou a profissionais
Fabricante condena prescrição alternativa
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor corporativo da Novartis, Nelson Mussolini, diz que a
empresa alertou em dezembro as
sociedades médicas de ginecologia e de reprodução humana sobre perigos do uso "off label" do
letrozol. No entanto, o alerta não
foi passado a médicos associados.
Segundo Mussolini, os especialistas em reprodução assistida
não foram avisados diretamente
porque não fazem parte do cadastro do laboratório.
"Mas todos sabem que a indicação "off label" é ilegal, que ela não
deve ser usada. É a mesma coisa
que falar para um assaltante de
banco que ele não deve assaltar",
afirma o diretor da empresa.
Mussolini afirma que não faz
idéia de quantas mulheres usam o
letrozol como estimulador de
ovulação. Ele diz que o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) da Novartis informa a todas as que ligam pedindo informações sobre o medicamento que
a droga não deve ser usada como
estimulante da ovulação.
De acordo com Mussolini, o laboratório nunca fez estudos sobre
a eficácia do remédio como indutor da ovulação e não existe, em
nenhum lugar do mundo, a aprovação para o uso com esse fim.
Mulheres temem efeitos
A notícia de que o letrozol pode
causar má-formações fetais e
abortos deixou apavoradas as
mulheres que usaram o remédio
em tratamentos reprodutivos. O
assunto foi discutido na internet.
"Quase pirei quando fui comprar o remédio na farmácia e vi
que era para câncer da mama.
Usei porque o médico disse que
era seguro", afirmou L., 39, que se
submeteu a inseminação artificial
usando o remédio.
Há cinco anos tentando uma
gravidez, ela deve fazer o teste
nesta semana. "Espero nem ter
engravidado. Ficaria louca pensando se o bebê vai ter problema."
A secretária S., 42, do Rio de Janeiro, usou o medicamento no
ano passado e sofreu um aborto
na sétima semana de gestação. A
biopsia do embrião apontou má-formação. "Quando vi a notícia,
liguei para o médico desesperada,
mas ele garantiu que o remédio
não foi o causador do aborto."
S. diz que não acreditou na explicação do médico, mas que não
tem como provar que o letrozol
levou à interrupção da gravidez.
"Ele disse que o aborto pode ter
sido pela minha idade."
A dentista C., 38, de São Paulo,
usou o letrozol em fevereiro, dois
meses após o alerta mundial da
Novartis. "A gente se sente rato de
laboratório, sem a menor segurança. E, quando acontece algum
problema, nunca é culpa do médico", diz ela, que ainda não engravidou.
(CC)
Texto Anterior: Médicos ignoram alerta contra remédio Próximo Texto: Ilegal Índice
|