São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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SAÚDE

Empresa afirma que alertou sociedades médicas sobre perigos de uso indevido do letrozol, mas aviso não chegou a profissionais

Fabricante condena prescrição alternativa

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor corporativo da Novartis, Nelson Mussolini, diz que a empresa alertou em dezembro as sociedades médicas de ginecologia e de reprodução humana sobre perigos do uso "off label" do letrozol. No entanto, o alerta não foi passado a médicos associados.
Segundo Mussolini, os especialistas em reprodução assistida não foram avisados diretamente porque não fazem parte do cadastro do laboratório.
"Mas todos sabem que a indicação "off label" é ilegal, que ela não deve ser usada. É a mesma coisa que falar para um assaltante de banco que ele não deve assaltar", afirma o diretor da empresa.
Mussolini afirma que não faz idéia de quantas mulheres usam o letrozol como estimulador de ovulação. Ele diz que o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) da Novartis informa a todas as que ligam pedindo informações sobre o medicamento que a droga não deve ser usada como estimulante da ovulação.
De acordo com Mussolini, o laboratório nunca fez estudos sobre a eficácia do remédio como indutor da ovulação e não existe, em nenhum lugar do mundo, a aprovação para o uso com esse fim.

Mulheres temem efeitos
A notícia de que o letrozol pode causar má-formações fetais e abortos deixou apavoradas as mulheres que usaram o remédio em tratamentos reprodutivos. O assunto foi discutido na internet.
"Quase pirei quando fui comprar o remédio na farmácia e vi que era para câncer da mama. Usei porque o médico disse que era seguro", afirmou L., 39, que se submeteu a inseminação artificial usando o remédio.
Há cinco anos tentando uma gravidez, ela deve fazer o teste nesta semana. "Espero nem ter engravidado. Ficaria louca pensando se o bebê vai ter problema."
A secretária S., 42, do Rio de Janeiro, usou o medicamento no ano passado e sofreu um aborto na sétima semana de gestação. A biopsia do embrião apontou má-formação. "Quando vi a notícia, liguei para o médico desesperada, mas ele garantiu que o remédio não foi o causador do aborto."
S. diz que não acreditou na explicação do médico, mas que não tem como provar que o letrozol levou à interrupção da gravidez. "Ele disse que o aborto pode ter sido pela minha idade."
A dentista C., 38, de São Paulo, usou o letrozol em fevereiro, dois meses após o alerta mundial da Novartis. "A gente se sente rato de laboratório, sem a menor segurança. E, quando acontece algum problema, nunca é culpa do médico", diz ela, que ainda não engravidou. (CC)


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