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TIROTEIO
Prefeito diz não ter tempo para comentar nota de padrinho político e que esse assunto é colateral
Maluf chama Pitta de traidor e pede desculpas por tê-lo indicado
ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local
Paulo Maluf (PPB) chamou ontem o prefeito Celso Pitta de traidor e pediu desculpas à população
por tê-lo recomendado na eleição
municipal de 1996.
"Espero que Deus me dê força e
saúde para, no tempo, resgatar as
consequências dessa escolha. Imaginei que seria melhor a indicação
de um executivo sem passado político para dar continuidade à minha administração", disse Maluf.
As declarações foram feitas por
meio de uma nota oficial.
No texto, o ex-prefeito disse que
Pitta não teria, sozinho, conseguido voto nenhum. "Ele é traidor dos
votos que recebeu."
Maluf afirmou ainda que o prefeito não tem pulso firme para administrar a cidade e que o Pitta que
ele recomendou "era outro".
"Se irregularidades existem na
prefeitura, o atual prefeito está no
cargo há dois anos e quatro meses
e só agora, por causa de uma CPI
na Câmara Municipal, está sendo
coagido a tomar providências",
disse.
Procurado pela Folha, Celso Pitta informou que não comentaria
ontem as declarações do ex-prefeito Maluf.
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social disse que Pitta "está
muito ocupado com a administração da cidade e que não teve tempo
para examinar um assunto que,
para ele, é colateral. Se for o caso, o
prefeito comenta amanhã (hoje)".
Anteontem, também por meio
de uma nota, Pitta disse que "se
Maluf tivesse pulso firme, como
alega, a administração atual não
estaria sofrendo com as heranças
deixadas pela anterior".
Herança
No documento, Maluf afirmou
que deixou como herança para Pitta uma prefeitura saneada.
Ele cita a redução na folha de pagamento da prefeitura durante o
seu governo e o índice de investimentos - "o maior da história da
cidade"- como provas.
O ex-prefeito não diz na nota,
mas foi justamente esse "índice de
investimento" -com uma política
de tocar muitas obras ao mesmo
tempo e em ritmo de urgência
(com turnos de até 24 horas nos
meses anteriores à eleição)- que
gerou a atual crise financeira da
prefeitura.
Maluf deixou para Pitta pagar no
seu primeiro ano de governo uma
dívida de cerca de R$ 1 bilhão, que
acabou determinando cortes em
praticamente todos os setores.
Obras viárias foram paradas e
bandeiras eleitorais de Pitta e de
Maluf, como o projeto Cingapura
(de urbanização e verticalização de
favelas), passaram a ser tocadas
em ritmo lento. Pitta, porém, não
pode reclamar: era o secretário das
Finanças de Maluf e sabia que os
investimentos de Maluf acabariam
"amarrando" a gestão seguinte.
Impeachment
Pela segunda vez, Maluf usou a
palavra impeachment ao tratar do
seu antigo afilhado político. Na
nota, Maluf diz que o impeachment do prefeito é um problema
dele (Pitta) com a Câmara.
Na última quarta-feira, Maluf
afirmou à Folha que os vereadores
do PPB devem usar critérios técnicos, e não políticos, se tiverem de
votar a cassação de Pitta.
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