São Paulo, Sábado, 24 de Abril de 1999
Próximo Texto | Índice

TIROTEIO
Prefeito diz não ter tempo para comentar nota de padrinho político e que esse assunto é colateral
Maluf chama Pitta de traidor e pede desculpas por tê-lo indicado

ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

Paulo Maluf (PPB) chamou ontem o prefeito Celso Pitta de traidor e pediu desculpas à população por tê-lo recomendado na eleição municipal de 1996.
"Espero que Deus me dê força e saúde para, no tempo, resgatar as consequências dessa escolha. Imaginei que seria melhor a indicação de um executivo sem passado político para dar continuidade à minha administração", disse Maluf.
As declarações foram feitas por meio de uma nota oficial.
No texto, o ex-prefeito disse que Pitta não teria, sozinho, conseguido voto nenhum. "Ele é traidor dos votos que recebeu."
Maluf afirmou ainda que o prefeito não tem pulso firme para administrar a cidade e que o Pitta que ele recomendou "era outro".
"Se irregularidades existem na prefeitura, o atual prefeito está no cargo há dois anos e quatro meses e só agora, por causa de uma CPI na Câmara Municipal, está sendo coagido a tomar providências", disse.
Procurado pela Folha, Celso Pitta informou que não comentaria ontem as declarações do ex-prefeito Maluf.
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social disse que Pitta "está muito ocupado com a administração da cidade e que não teve tempo para examinar um assunto que, para ele, é colateral. Se for o caso, o prefeito comenta amanhã (hoje)".
Anteontem, também por meio de uma nota, Pitta disse que "se Maluf tivesse pulso firme, como alega, a administração atual não estaria sofrendo com as heranças deixadas pela anterior".

Herança
No documento, Maluf afirmou que deixou como herança para Pitta uma prefeitura saneada.
Ele cita a redução na folha de pagamento da prefeitura durante o seu governo e o índice de investimentos - "o maior da história da cidade"- como provas.
O ex-prefeito não diz na nota, mas foi justamente esse "índice de investimento" -com uma política de tocar muitas obras ao mesmo tempo e em ritmo de urgência (com turnos de até 24 horas nos meses anteriores à eleição)- que gerou a atual crise financeira da prefeitura.
Maluf deixou para Pitta pagar no seu primeiro ano de governo uma dívida de cerca de R$ 1 bilhão, que acabou determinando cortes em praticamente todos os setores.
Obras viárias foram paradas e bandeiras eleitorais de Pitta e de Maluf, como o projeto Cingapura (de urbanização e verticalização de favelas), passaram a ser tocadas em ritmo lento. Pitta, porém, não pode reclamar: era o secretário das Finanças de Maluf e sabia que os investimentos de Maluf acabariam "amarrando" a gestão seguinte.

Impeachment
Pela segunda vez, Maluf usou a palavra impeachment ao tratar do seu antigo afilhado político. Na nota, Maluf diz que o impeachment do prefeito é um problema dele (Pitta) com a Câmara.
Na última quarta-feira, Maluf afirmou à Folha que os vereadores do PPB devem usar critérios técnicos, e não políticos, se tiverem de votar a cassação de Pitta.


Próximo Texto: Leia a nota do ex-prefeito
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.