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APURAÇÃO
Caso de precatório não cobrado é usado por advogado para pedir o impeachment do prefeito de São Paulo
Prefeitura se omite e não cobra R$ 56 mi
JOÃO CARLOS SILVA
da Reportagem Local
A cúpula da
Prefeitura de
São Paulo abriu
mão de medidas
para cobrar uma
dívida de R$
56,6 milhões,
em 97, e aceitou
discutir um acordo com o governo
do Estado rejeitado pela própria
procuradoria do município, que o
considerou desvantajoso.
Documentos de um processo administrativo da prefeitura, obtidos
pela Folha, mostram que foram essas as falhas que levaram o advogado José Mário Pimentel de Assis
Moura a pedir o impeachment do
prefeito Celso Pitta (sem partido).
A acusação é de que o prefeito foi
omisso e negligente, por deixar de
usar os meios de que dispunha para receber a dívida do Estado.
Pitta teria ferido a Constituição
federal e lesado os cofres públicos e
pode ser acusado de crime de responsabilidade, na Justiça.
No Legislativo, a acusação de negligência e omissão já foi feita e seria suficiente para que o pedido de
impeachment do prefeito fosse
acatado, segundo vereadores da
oposição e situação.
O secretário de Negócios Jurídicos, Edvaldo Brito, nega a irregularidade e afirma que não há fundamento no pedido de impeachment.
O caso começou em 89, quando o
Estado desapropriou uma área da
prefeitura.
Em 97, o Estado propôs acordo
para acertar o pagamento da dívida e a Procuradoria Geral do Município desaconselhou a prefeitura
a aceitar a proposta (veja quadro
nesta página).
De acordo com os documentos
obtidos pela Folha, a Procuradoria
Geral do Município emitiu parecer, em 28 de maio de 97, recomendando o sequestro de quantias pagas pelo Estado a credores que não
podiam ter recebido dinheiro antes de os R$ 56,6 milhões terem sido pagos à prefeitura.
A Constituição proíbe o ato, chamado de quebra da ordem cronológica de precatórios.
Esta ordem é uma espécie de fila
de pagamentos que devem feitos
por Estados e municípios, por
exemplo.
O objetivo é evitar a possibilidade de um credor ser beneficiado no
lugar de outro, o que aconteceu
com o caso da prefeitura.
A recomendação da prefeitura
foi feita ao ser constatado acordo
feito pelo governo estadual para
pagar uma dívida de R$ 257,1 milhões à Central de Imóveis e Construções, empresa da família do empresário Antônio Abdala.
Segundo despacho da época do
secretário dos Negócios Jurídicos,
a prefeitura decidiu tentar o acordo com o governo com o endosso
de Pitta, apesar de recebido outra
orientação da procuradoria.
A decisão provocou na época pedido de afastamento da então procuradora Geral do Município Rita
Gianesini. Procurada, ela não quis
falar sobre o assunto.
Até ontem o valor de R$ 56,6 milhões não havia sido pago pelo Estado à prefeitura e o acordo proposto por Brito, na época, ainda
não foi fechado.
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