São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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TRANSPORTES

Segundo Estudo de Impacto Ambiental, novo terminal de aeroporto terá luz natural, água de reúso e sensor de ruído

Infraero promete Cumbica ecológico

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), estatal ligada ao Ministério da Defesa, começou a distribuir, na semana passada, o EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente) visando à ampliação do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Nas quase mil páginas do calhamaço e no custo previsto da obra, R$ 1,5 bilhão, vê-se o tamanho do problema.
Na próxima quinta-feira, o EIA-Rima será apresentado em audiência pública em Guarulhos e sabatinado pela população, por organizações não-governamentais e órgãos públicos ligados ao meio ambiente. Se aprovado, serão necessários pelo menos mais seis anos, consumidos em obras, para que o viajante experimente os novos confortos do aeroporto.
Pouco depois da inauguração de Guarulhos, há quase 20 anos, criou-se uma esdrúxula norma que obrigava quem quisesse viajar para fora do Brasil a "emprestar" 25% do preço da passagem para o governo. O "empréstimo compulsório", como era chamado, somado ao cartel das empresas aéreas, que fazia decolar o preço do bilhete, fez com que, na época, as instalações do recém-inaugurado aeroporto parecessem fruto de uma mente megalômana. O tempo mostrou que não eram.
Se em 1985 apenas 2,3 milhões de passageiros aterrissaram ou decolaram de Cumbica (o nome popular do aeroporto; o oficial é Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro), em 1998 esse número já alcançava a marca dos 14,5 milhões. A capacidade atual de Guarulhos é de 15 milhões de passageiros por ano.
"O jeito é crescer", resume o superintendente regional da Infraero, Miguel Choueri, 54, responsável pela administração de Cumbica. Até o fim de 2004, algumas obras já em curso ampliarão esse teto para 17 milhões.
Com a construção de mais um terminal de passageiros (será o terceiro) e de mais uma pista, Cumbica quase dobrará de tamanho. Poderão aterrissar ou decolar 29 milhões de passageiros/ano.

Era da descarga a vácuo
Segundo o EIA-Rima, Cumbica se transformará em exemplo de respeito ao meio ambiente. Esqueça-se o que acontece nos terminais 1 e 2, que têm poucas janelas e são dependentes, 24 horas por dia, de iluminação artificial. No terminal 3, com estruturas metálicas recobertas por uma "pele" envidraçada, a luz natural será dominante.
A maior parte da água será reutilizada, como forma de evitar o esgotamento dos lençóis freáticos, a mais de 100 metros de profundidade, de onde se captam os recursos hídricos do aeroporto.
Nos banheiros, os assentos sanitários terão descarga a vácuo, como o que existe nas aeronaves.
A inovação ocorrerá porque é a forma mais econômica. Enquanto uma descarga normal usa até 20 litros de água, no sistema a vácuo o consumo cai para menos de dois litros, segundo os técnicos.
Além disso, serão instalados sensores nas proximidades de Cumbica, como forma de monitorar a intensidade dos ruídos emitidos pelas turbinas dos aviões. Uma vez constatados excessos, caberá ao Departamento de Aviação Civil (DAC) acionar as empresas infratoras.
No novo terminal 3, com 165 mil metros quadrados de área construída (o equivalente a 15 campos de futebol), poderão ser recebidos e embarcados simultaneamente passageiros de até 13 aeronaves. Um estacionamento com capacidade para 4.500 carros, distribuídos em quatro pavimentos, funcionará ao lado.
Com o novo terminal, Cumbica crescerá, mas ainda ficará muito aquém dos maiores e mais importantes aeroportos do mundo.
A cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, conta com um estrutura com capacidade para 79 milhões de passageiros por ano. Londres, com o aeroporto internacional de Heathrow, consegue receber 63 milhões. Paris, com o Charles de Gaulle, 48 milhões.


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