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107 policiais são suspeitos de integrar máfia
Há um ano, o governo de José Serra (PSDB) enfrentou seu primeiro grande escândalo de suposta corrupção policial
Advogado Jamil Chokr tinha em seu carro dinheiro e documentos que indicavam pagamento de propinas para policiais civis de SP
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nenhum dos 107 policiais civis de São Paulo investigados
há um ano sob a suspeita de integrar um esquema de corrupção para permitir e proteger a
exploração ilegal de máquinas
caça-níqueis na capital foi punido até hoje pelo governo de
José Serra (PSDB).
Em 25 de maio do ano passado, o advogado Jamil Chokr, 35,
representante de empresas de
caça-níqueis, se envolveu em
um acidente de carro e, dentro
do seu Vectra blindado, policiais militares encontraram documentos e dinheiro que indicavam o pagamento de propina
para policiais civis.
Os PMs encontraram R$ 38
mil em dinheiro e peças de máquinas caça-níqueis. Parte do
dinheiro estava em envelopes
e, neles, estavam escritos números e, na seqüência, as letras
D e P. As inscrições levaram os
PMs a desconfiar que poderiam
ser abreviações de distrito policial" ou delegacia de polícia.
Por insistência do coronel da
PM José Hermínio Rodrigues,
morto com seis tiros em janeiro
deste ano, o caso acabou na
Corregedoria da Polícia Civil,
que apura prováveis crimes cometidos por policiais civis.
Além dos envelopes com dinheiro, Chokr também tinha
em seu carro agendas com telefones de policiais paulistas.
Com base nos documentos, foi
apurado que Chokr pagava entre R$ 35 e R$ 50 por cada máquina caça-níquel para que os
policiais civis não as apreendessem e até as protegessem.
As listagens apreendidas pela
PM no Vectra de Chokr indicavam que, dos 93 DPs da capital,
84 estariam no esquema do advogado, que sempre negou a
acusação de corrupção. Ele alega que os valores e documentos
apreendidos eram referentes a
honorários advocatícios.
Durante a última semana, a
Folha pediu autorização à Secretaria da Segurança Pública
para entrevistar a delegada
Cintia Maria Quaggio, responsável pela apuração do caso. A
secretaria, porém, não atendeu
ao pedido da reportagem.
Em agosto de 2007, quando
falou à Comissão de Segurança
Pública da Assembléia Legislativa, a delegada Cintia revelou
que os policiais investigados
eram delegados, chefe de investigadores, investigadores,
carcereiros, escrivães e peritos
criminais.
A Secretaria da Segurança
Pública, porém, não revela
quem são esses policiais.
A única medida anunciada
pelo governo contra 45 dos 107
policiais suspeitos de receber
dinheiro de Chokr foi o afastamento deles de suas funções de
rua para que cumprissem atribuições administrativas. Mas,
como seus nomes não são revelados, não há como comprovar
essa informação. Mesmo afastados, os policiais recebem
seus salários normalmente.
O acidente
Em 25 de maio de 2007,
Chokr trafegava com seu Vectra blindado pela marginal Tietê, na altura da Vila Guilherme
(zona norte), e, segundo a versão apresentada à época, sofreu
uma tentativa de assalto praticada pelo motoqueiro Cleverson Rodrigo Camargo Ricardo,
28. Preso, o motoqueiro admitiu trabalhar com o "recolhe de
dinheiro oriundo de caça-níqueis espalhados pela capital".
Como os tiros supostamente
disparados por Ricardo contra
Chokr pararam na blindagem
do seu Vectra, o advogado perdeu o controle do carro, bateu
na traseira de um ônibus e acabou preso entre as ferragens,
com a perna machucada.
PMs foram ao local do acidente para socorrer Chokr e
prenderam Ricardo.
Ontem, ao ser questionada
sobre a acusação de roubo que
pesa contra o seu cliente, Cristiane Linhares, advogada do
motoqueiro, afirmou: "A situação continua a mesma. Só ele
foi preso".
A reportagem também não
conseguiu contato com Chokr
nem com três dos advogados
que já falaram em seu nome durante a apuração do suposto esquema de corrupção que ele
controlaria -o ex-ministro da
Justiça José Carlos Dias, Aline
Araújo e também Paulo Eduardo Busse Ferreira.
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