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Paciente com doença mental volta para casa após 42 anos
Graças à ajuda de profissionais-detetives da área de saúde, mulher reencontrou os filhos no interior de São Paulo
Equipe faz pesquisas em cartórios e prontuários; lei de 2001 incentiva a volta para casa de pacientes de hospitais psiquiátricos
MATHEUS PICHONELLI
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
Equipes médicas da rede pública de São Paulo encontraram, desde 2004, famílias de
pelo menos 650 pacientes de
hospitais psiquiátricos. Em
muitos casos, são pessoas que
não recebiam notícias dos parentes havia anos.
Por meio de pesquisas em
prontuários, cartórios e entrevistas, médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros
coletam pistas que levam moradores de instituições a se
reencontrar com parentes após
décadas de internação.
Alcione Galdino, 72, internada desde os anos 60 após sofrer
surtos psicóticos, passou 42
anos longe dos filhos. Em 1971,
quando recebeu alta de um
hospital de Ribeirão Preto (SP),
ninguém foi buscá-la no local.
O marido, que se casara com
outra mulher, tinha dito aos filhos que a mãe estava morta.
"Não pode ser verdade. Minha mãe morreu", disse Emília
Inácio da Silva, 50, após receber, em março, um telefonema
do Centro de Reabilitação de
Casa Branca (SP). Equipes da
instituição, para onde Alcione
foi transferida no início do ano,
já localizaram ao menos 260 famílias de pacientes desde 2000.
"Eu achava que meus filhos
eram ainda pequenininhos",
disse Alcione à Folha. Ao ser
levada ao sítio onde a filha mora, em Neves Paulista (SP), ela
descobriu que era avó e bisavó.
"Minha mãe tinha depressão. Na época ninguém entendia e só internava", diz Emília.
Após 20 dias com os parentes, Alcione voltou ao hospital e
agora espera se aposentar e obter benefícios como o do programa federal De Volta Para
Casa -que paga R$ 240 mensais por um ano a quem que
deixa o hospital- para poder se
mudar para a casa da filha.
Outro caso é o de Luís dos
Santos, de aparentes 60 anos,
que passou 20 anos separado
da família após ter uma crise
epilética no meio da rua e ser
internado em Franco da Rocha
(Grande São Paulo).
Em seus relatos, dizia ter sido abandonado. Após contato
feito pela equipe médica de Casa Branca, reencontrou a irmã,
com quem vive em Osasco.
Segundo Sueli Pereira Pinto,
diretora do hospital de Casa
Branca, histórias como a de Alcione e Luís só ocorreram porque a relação entre pacientes e
profissionais de saúde mudou.
Desde 2001, com a lei da reforma psiquiátrica, pacientes são
incentivados a voltar para casa.
Para isso foram criados os
Caps (Centros de Atenção Psicossocial), que hoje ajudam
360 mil pessoas ao ano em todo
o país e prestam atendimento
clínico sem internação.
"Antes, o tratamento visava a
exclusão. Pessoas eram retiradas do convívio das famílias e
ninguém se importava com o
que o paciente dizia. O recurso
era a internação. Hoje, o que o
paciente diz é relevante para
que ele reencontre sua história
e identidade", disse Sueli.
A Secretaria de Estado da
Saúde iniciou um censo para
saber quantos pacientes psiquiátricos estão há mais de um
ano internados. O Estado tem
58 hospitais psiquiátricos e
cerca de 6.500 pacientes psiquiátricos de longa permanência internados.
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