São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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Parada é pretexto de turista para cinco noites de balada

Grande parte dos visitantes chegou à cidade na 4ª

Luciano Amarante/Folha Imagem
Turistas compram adereços para a Parada Gay na 25 de Março

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem sido assim desde quarta-feira. Só depois das 14h é que as letras DG cravejadas nos óculos Dolce&Gabbana de Júnior, 26, brilham à luz do sol. É quando ele e o namorado Cléber, 30, que vieram de Salvador para a Parada Gay, deixam o hotel, sob o lema: "Dia para dormir, noite para ferver".
Embora a Parada seja no domingo, eles decidiram antecipá-la e "ferver cinco dias". Tanto que compraram ingressos para cinco festas na boate "The Week". E a Parada? "Ah, domingo é outra história."
Nove entre os dez turistas que estão em São Paulo para a Parada e chegaram dias antes, ouvidos pela Folha, enchem a boca e dizem que "festa" é o que vieram fazer. Alguns compraram pacotes completos em agências de turismo gay; outros reservaram até cinco noites em hotéis próximos à avenida Paulista. "É para ir pra balada toda noite", diz Cléber. "Não me venham dizer que um gay vem pra cá nesse fim de semana para ir ao museu."
O entra-e-sai de homens musculosos com indefectíveis óculos escuros nos hotéis da região tem horário quase fixo.
"O hotel está todo gay desde quarta", diz a recepcionista do San Gabriel, na rua Frei Caneca. "Mas eles só saem da toca depois das 14h. Antes disso, é cama." Depois do sono, almoçam, fazem compras, "curtem a cidade". Até a próxima balada.
Com seus óculos DG igualmente cintilando no sol das 15h de ontem, o mineiro André, 35, entra no armazém de importados dos Jardins para comprar licor de cranberry -"fundamental" para o drinque Cosmopolitan, que Carrie Bradshaw toma no seriado "Sex and the City". "Só tem aqui." Depois iria à loja Versace da rua Oscar Freire. "Idem, só aqui."
Em seu terceiro ano consecutivo de Parada, ele diz ter consciência da "importância política" do evento. "Eu contribuo como um entre 3 milhões que vão mostrar seu valor na avenida", diz. "Ninguém está lá pelos discursos, claro. Mas não custa dar um pulo lá e fazer volume antes da balada."
"É como se fosse um Carnaval gay", define o advogado Mauro, 35, manauense que recém-conheceu os três amigos de Salvador com quem almoçava ontem no shopping Frei Caneca, exaustos pelas festas de quarta e quinta. Sexta e sábado não seria diferente. Os ingressos estavam no bolso.
Mauro também usa óculos escuros, para esconder as olheiras das "baladas severas". Mas assume um tom crítico, contra a "massificação das baladas". "Depois de três meses bombando na academia, fazendo bronzeamento e limpeza de pele, o povo todo quer é curtição", alfineta. "A Parada é mais uma desculpa para fazer festa." Ele e os amigos não fogem do prognóstico. "Óbvio que nós também vamos na The Week."
"É mesmo como se fosse um outro Carnaval", diz Vinícius Braune, da agência GTravel Online, cujo pacote "Ferveção" oferece quatro noites em hotel e quatro entradas para a "The Week". Custa R$ 710 cada.
"Mas tem muita coisa além de festa", rebate o brasiliense Hugo Cardoso, 24, que comprou um pacote de cinco dias da agência Ténéré e desde quarta tem ido a baladas. Com o namorado, ele passou pela Feira Cultural GLBT, na praça da República e planeja assistir à peça de teatro com a drag queen Nany People. "Domingo, aí sim, a "jogação" será total."


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