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Às quartas, rua no subúrbio no Rio fecha para abrigar festa GLS
PAULO SAMPAIO
DA SUCURSAL DO RIO
Três motoristas de caminhão
lésbicas observam o movimento na travessa Almerinda Freitas, uma ruazinha de cerca de
200 metros no subúrbio carioca de Madureira, onde todas as
quartas-feiras milhares de pessoas da comunidade GLS se
concentram para uma noitada
que começa por volta das 21h e
vai até o sol raiar.
"Elas fecham a rua", diz Sandra dos Santos, 30, uma das caminhoneiras, que é casada há
cinco anos com Rosana Barreto, 34; Ângela Maria da Silva,
44, a terceira, está solteira mas
não quer posar para a foto: "Estou na infração", diz.
As três não são freqüentadoras assíduas, mas já estiveram
ali várias vezes: "O povo não é
bonito, nem tão bem tratado
como na zona sul, mas é um lugar perto de casa, em que a gente pode namorar à vontade",
diz Sandra, de Duque de Caxias
(Baixada Fluminense).
Do outro lado da rua está a
boate Papa G, aberta há quatro
anos, com três andares e capacidade para 2.000 pessoas.
Com vários ambientes, a boate
tem um lounge com cybercafé e
mesas de sinuca no primeiro;
uma pista embalada com música eletrônica no segundo; e outra, no último, onde tocam
funk, MPB e música ao vivo,
mais freqüentada por mulheres. "Nosso público vem dos
bairros próximos daqui e da
Baixada, das regiões serrana e
dos Lagos", diz o gerente, Jair
Neves, 41, que está no camarim
da boate, onde dois go-go boys
pelados conversam com uma
drag queen sem peruca e outra
com um vestido bordado com
50 espelhos redondos.
O movimento GLS na travessa começou há cerca de cinco
anos, quando gays e lésbicas
que costumavam se reunir na
praça de alimentação do shopping Madureira, a cerca de 300
metros dali, passaram a esticar
a noite nas redondezas.
"O shopping fechava cedo, a
gente queria mais. O povo começou a se reunir sem combinar nada; com o tempo, pegou",
conta o estudante Yuri Guttemberg, 18, que está com mais
quatro amigos adolescentes.
São perto de 23h e, até agora, a
maioria dos freqüentadores
tem menos de 25 anos.
"Não sou ativa nem passiva,
sou participativa", explica a estudante de teatro Fátima Porto, 24, com três amigas de cabelos coloridos. Diz que não gosta
de mulher-machinho: "Ou "patricinha", ou o tipo "esporte'".
Uma hora mais tarde, o lugar
está superlotado de gente de todas as idades e orientações sexuais. O autônomo Rodrigo
Paes, 29, e o namorada, Jose
Rodrigo, 21, estão atrás de alguém para transar a três. Serve
um casal para fazer swing. Ela é
bissexual, ele diz que gosta de
vê-la transando com outra.
"Mas quem hoje em dia não é
gay?", ele pergunta.
Alguém anuncia a 8ª parada
de Madureira, em junho. William da Silva, 31, vende tequila
num copinho de plástico pequeno. Um copinho é R$ 3
-dois, R$ 5.
Um carro da polícia passa; cabo Nascimento informa: "Apesar da muvuca, em geral aqui é
tranqüilo. A porrada pode comer, mas é entre eles", diz. Ele
estima ter 3.000 pessoas ali.
As namoradas messoterapeutas Daniela Vaz, 30, e Silvia
Carius, 29, estão em uma mesa
de plástico na calçada: "A gente
vem pouco aqui, não gosta muito. Não pelo lugar, mas [abaixando o tom da voz] pelas pessoas. Muita gente feia e [mais
baixo ainda] pobre", diz Silvia,
que bebe uma garrafa de vinho
Cantina da Serra (R$ 5).
Conceição Bezerra, vendedora de espetinhos de salsichão,
alcatra e frango, diz que saem
500 espetos por noite. É lésbica? "Deus o livre! Sou nordestina, mãe de três filhos, tô aqui
para ganhar meu dinheiro!"
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