São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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Às quartas, rua no subúrbio no Rio fecha para abrigar festa GLS

PAULO SAMPAIO
DA SUCURSAL DO RIO

Três motoristas de caminhão lésbicas observam o movimento na travessa Almerinda Freitas, uma ruazinha de cerca de 200 metros no subúrbio carioca de Madureira, onde todas as quartas-feiras milhares de pessoas da comunidade GLS se concentram para uma noitada que começa por volta das 21h e vai até o sol raiar.
"Elas fecham a rua", diz Sandra dos Santos, 30, uma das caminhoneiras, que é casada há cinco anos com Rosana Barreto, 34; Ângela Maria da Silva, 44, a terceira, está solteira mas não quer posar para a foto: "Estou na infração", diz.
As três não são freqüentadoras assíduas, mas já estiveram ali várias vezes: "O povo não é bonito, nem tão bem tratado como na zona sul, mas é um lugar perto de casa, em que a gente pode namorar à vontade", diz Sandra, de Duque de Caxias (Baixada Fluminense).
Do outro lado da rua está a boate Papa G, aberta há quatro anos, com três andares e capacidade para 2.000 pessoas. Com vários ambientes, a boate tem um lounge com cybercafé e mesas de sinuca no primeiro; uma pista embalada com música eletrônica no segundo; e outra, no último, onde tocam funk, MPB e música ao vivo, mais freqüentada por mulheres. "Nosso público vem dos bairros próximos daqui e da Baixada, das regiões serrana e dos Lagos", diz o gerente, Jair Neves, 41, que está no camarim da boate, onde dois go-go boys pelados conversam com uma drag queen sem peruca e outra com um vestido bordado com 50 espelhos redondos.
O movimento GLS na travessa começou há cerca de cinco anos, quando gays e lésbicas que costumavam se reunir na praça de alimentação do shopping Madureira, a cerca de 300 metros dali, passaram a esticar a noite nas redondezas.
"O shopping fechava cedo, a gente queria mais. O povo começou a se reunir sem combinar nada; com o tempo, pegou", conta o estudante Yuri Guttemberg, 18, que está com mais quatro amigos adolescentes. São perto de 23h e, até agora, a maioria dos freqüentadores tem menos de 25 anos.
"Não sou ativa nem passiva, sou participativa", explica a estudante de teatro Fátima Porto, 24, com três amigas de cabelos coloridos. Diz que não gosta de mulher-machinho: "Ou "patricinha", ou o tipo "esporte'".
Uma hora mais tarde, o lugar está superlotado de gente de todas as idades e orientações sexuais. O autônomo Rodrigo Paes, 29, e o namorada, Jose Rodrigo, 21, estão atrás de alguém para transar a três. Serve um casal para fazer swing. Ela é bissexual, ele diz que gosta de vê-la transando com outra. "Mas quem hoje em dia não é gay?", ele pergunta.
Alguém anuncia a 8ª parada de Madureira, em junho. William da Silva, 31, vende tequila num copinho de plástico pequeno. Um copinho é R$ 3 -dois, R$ 5.
Um carro da polícia passa; cabo Nascimento informa: "Apesar da muvuca, em geral aqui é tranqüilo. A porrada pode comer, mas é entre eles", diz. Ele estima ter 3.000 pessoas ali.
As namoradas messoterapeutas Daniela Vaz, 30, e Silvia Carius, 29, estão em uma mesa de plástico na calçada: "A gente vem pouco aqui, não gosta muito. Não pelo lugar, mas [abaixando o tom da voz] pelas pessoas. Muita gente feia e [mais baixo ainda] pobre", diz Silvia, que bebe uma garrafa de vinho Cantina da Serra (R$ 5).
Conceição Bezerra, vendedora de espetinhos de salsichão, alcatra e frango, diz que saem 500 espetos por noite. É lésbica? "Deus o livre! Sou nordestina, mãe de três filhos, tô aqui para ganhar meu dinheiro!"


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