|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Proteja as crianças da febre reumática
ANA GABRIELA ROIFFE
VANESSA ALVES BAPTISTA
DA REDAÇÃO
Poucas pessoas sabem, mas o
que parece ser uma simples dor
de garganta pode resultar em febre reumática, uma doença grave
que, se não tratada, ataca as articulações, o coração, o sistema
nervoso e pode até levar à morte.
Segundo dados da Organização
Mundial da Saúde, pelo menos 12
milhões de pessoas no mundo tinham febre reumática em 1999.
A doença atinge principalmente
crianças entre 5 e 15 anos e é sempre precedida de uma dor de garganta causada pela bactéria estreptococo, cujos sintomas são febre alta, dor ao engolir, amídalas
dilatadas, entre outros.
Se a bactéria for logo detectada e
o doente, tratado adequadamente
-com penicilina benzatina-, a
doença não se desenvolverá. Se o
estreptococo não for combatido,
a febre reumática vai evoluir em
casos de pessoas geneticamente
predispostas à doença.
Esses indivíduos produzem anticorpos, que também acabam
atingindo o organismo.
"Isso [a predisposição genética"
não significa que existam vários
casos na mesma família", afirma
Maria Odete Esteves Hilário, chefe da reumatologia pediátrica da
Escola Paulista de Medicina.
Uma semana após a dor de garganta inicial, uma das articulações começa a esquentar, inchar e
doer intensamente. De um a dois
dias depois, outra junta começa a
doer e assim sucessivamente. São
os surtos da doença, que duram
de oito a 12 semanas e são recorrentes, se não forem tratados.
Características
A febre reumática pode se manifestar de várias maneiras, mas
as características mais comuns
são a artrite (inflamação articular)
-em 60% a 85% dos casos-, a
cardite (quando o coração não
consegue bombear o sangue)
-que atinge cerca de 65% das
crianças- e a coréia -que aparece em 30% a 40% dos atingidos.
Os sintomas da coréia são constantes tremores involuntários, caretas e tiques. Doentes podem
apresentar ainda manchas avermelhadas na pele.
"O maior problema é quando o
coração é comprometido. A
criança não consegue sentir, porque, inicialmente, o que ocorre é
muito leve", afirma Maria Odete.
Mas, de acordo com a pediatra,
basta um médico examinar o paciente para sentir a falha na válvula do coração.
O menino Idebe Soares de Carvalho Junior, 14, com febre reumática desde 1999, acabou tendo
o coração afetado. Cerca de um
mês após ter sido medicado por
causa de dores nos pés, joelhos e
pescoço, ele foi internado. O diagnóstico do exame foi cardite.
"Idebe tem uma inflamação na
válvula do coração. Antes, ele tinha de ficar de repouso. Com o
tratamento, já pode fazer alguns
exercícios", diz Ivete Farilho de
Carvalho, mãe do garoto.
Na cardite, o coração não consegue bombear o sangue, causando
uma sensação de constante cansaço. Isso pode se tornar permanente e levar à morte.
Quem detecta a febre reumática
quando criança ou adolescente
deve tomar uma injeção de penicilina benzatina -aplicada gratuitamente em hospitais, prontos-socorros e postos de saúde-
a cada três semanas, geralmente
até os 18 anos (leia texto abaixo).
Se o coração tiver sido atingido,
o tratamento deverá ser mantido
durante a vida inteira -o que depende da gravidade do caso.
Fatores socioeconômicos
Segundo a OMS, fatores socioeconômicos, como superpopulação e más condições de higiene, e
serviços de saúde de má qualidade são determinantes para o surgimento da febre reumática.
A doença já foi praticamente erradicada nos países ricos em razão de campanhas que promoveram o uso de antibióticos.
Entre os que mais sofrem com a
febre reumática estão países da
Ásia, da África e da América Latina, com até 1% das crianças mostrando sinais da febre reumática.
Maria Helena Kiss, chefe da unidade de reumatologia pediátrica
do Hospital das Clínicas de São
Paulo, diz que, no Brasil, a doença
é um problema sério. "Segundo
dados do SUS [Sistema Único de
Saúde], gastou-se em 1998 R$ 89
milhões com cirurgias cardíacas
decorrentes da doença, que pode
ser prevenida facilmente."
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Posto tem de oferecer injeção de penicilina Índice
|