São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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SAÚDE

Proteja as crianças da febre reumática

ANA GABRIELA ROIFFE
VANESSA ALVES BAPTISTA


DA REDAÇÃO

Poucas pessoas sabem, mas o que parece ser uma simples dor de garganta pode resultar em febre reumática, uma doença grave que, se não tratada, ataca as articulações, o coração, o sistema nervoso e pode até levar à morte.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, pelo menos 12 milhões de pessoas no mundo tinham febre reumática em 1999.
A doença atinge principalmente crianças entre 5 e 15 anos e é sempre precedida de uma dor de garganta causada pela bactéria estreptococo, cujos sintomas são febre alta, dor ao engolir, amídalas dilatadas, entre outros.
Se a bactéria for logo detectada e o doente, tratado adequadamente -com penicilina benzatina-, a doença não se desenvolverá. Se o estreptococo não for combatido, a febre reumática vai evoluir em casos de pessoas geneticamente predispostas à doença.
Esses indivíduos produzem anticorpos, que também acabam atingindo o organismo.
"Isso [a predisposição genética" não significa que existam vários casos na mesma família", afirma Maria Odete Esteves Hilário, chefe da reumatologia pediátrica da Escola Paulista de Medicina.
Uma semana após a dor de garganta inicial, uma das articulações começa a esquentar, inchar e doer intensamente. De um a dois dias depois, outra junta começa a doer e assim sucessivamente. São os surtos da doença, que duram de oito a 12 semanas e são recorrentes, se não forem tratados.

Características
A febre reumática pode se manifestar de várias maneiras, mas as características mais comuns são a artrite (inflamação articular) -em 60% a 85% dos casos-, a cardite (quando o coração não consegue bombear o sangue) -que atinge cerca de 65% das crianças- e a coréia -que aparece em 30% a 40% dos atingidos. Os sintomas da coréia são constantes tremores involuntários, caretas e tiques. Doentes podem apresentar ainda manchas avermelhadas na pele.
"O maior problema é quando o coração é comprometido. A criança não consegue sentir, porque, inicialmente, o que ocorre é muito leve", afirma Maria Odete.
Mas, de acordo com a pediatra, basta um médico examinar o paciente para sentir a falha na válvula do coração.
O menino Idebe Soares de Carvalho Junior, 14, com febre reumática desde 1999, acabou tendo o coração afetado. Cerca de um mês após ter sido medicado por causa de dores nos pés, joelhos e pescoço, ele foi internado. O diagnóstico do exame foi cardite.
"Idebe tem uma inflamação na válvula do coração. Antes, ele tinha de ficar de repouso. Com o tratamento, já pode fazer alguns exercícios", diz Ivete Farilho de Carvalho, mãe do garoto.
Na cardite, o coração não consegue bombear o sangue, causando uma sensação de constante cansaço. Isso pode se tornar permanente e levar à morte.
Quem detecta a febre reumática quando criança ou adolescente deve tomar uma injeção de penicilina benzatina -aplicada gratuitamente em hospitais, prontos-socorros e postos de saúde- a cada três semanas, geralmente até os 18 anos (leia texto abaixo).
Se o coração tiver sido atingido, o tratamento deverá ser mantido durante a vida inteira -o que depende da gravidade do caso.

Fatores socioeconômicos
Segundo a OMS, fatores socioeconômicos, como superpopulação e más condições de higiene, e serviços de saúde de má qualidade são determinantes para o surgimento da febre reumática.
A doença já foi praticamente erradicada nos países ricos em razão de campanhas que promoveram o uso de antibióticos.
Entre os que mais sofrem com a febre reumática estão países da Ásia, da África e da América Latina, com até 1% das crianças mostrando sinais da febre reumática.
Maria Helena Kiss, chefe da unidade de reumatologia pediátrica do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que, no Brasil, a doença é um problema sério. "Segundo dados do SUS [Sistema Único de Saúde], gastou-se em 1998 R$ 89 milhões com cirurgias cardíacas decorrentes da doença, que pode ser prevenida facilmente."



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