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GILBERTO DIMENSTEIN
Por que o presidente da Fiesp pode votar em Lula
Na hipótese de haver, no
segundo turno da eleição
presidencial, uma disputa entre
Itamar Franco e Luiz Inácio Lula
da Silva, qual seria a posição do
presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva?
Ele responde sem titubear: "Voto no Lula. Não vou ajudar a colocar na Presidência da República um político temperamental,
cheio de esquisitices e manias".
Apesar de desconfiar do PT, Horácio Piva afirma que Lula,
amargando derrota após derrota,
aprendeu mais que Itamar Franco com a realidade econômica.
E se ocorrer uma disputa entre o
PT e Ciro Gomes? "Nesse caso,
vou ter de pensar mais", afirma
Piva, também com um pé atrás
-preocupado com o temperamento do ex-governador do Ceará, cujas idéias, entretanto, estão
mais próximas das suas.
Submetido às mesmas perguntas, Antônio Ermírio de Moraes,
um dos mais importantes empresários brasileiros, faz silêncio,
pensa alguns segundos e responde: "Sinceramente não sei". Diante da insistência por uma definição, ele, um tanto a contragosto,
concede: "Não é possível ficar com
o PT, mas também não é fácil votar em Itamar. Entre os dois, Itamar é o mal menor".
Para Antônio Ermírio, essa hipótese de segundo turno, terrível
na sua opinião, explica-se, em
larga medida, por um fato: "O governo Fernando Henrique Cardoso acabou".
As posições de Piva e de Antônio Ermírio estão refletidas numa
pesquisa realizada com empresários pelo instituto Vox Populi, na
qual Lula ganha de Itamar e perde por pouco de Ciro Gomes. O levantamento mostra que Ciro Gomes tem a simpatia de 30% do
empresariado, seguido por Lula,
que conquista 25% dele, e, depois,
por Itamar, que atrai 21% de seus
votos. Ciro e Lula estão quase empatados tecnicamente.
Entre os empresários, José Serra,
apresentado como o possível candidato oficial da situação, conta
com 6% da preferência - posição quase igual à do folclórico
Enéas, detentor de 5%.
Na ótica de curto prazo, habitual entre políticos, a leitura óbvia é a de que, com a crise energética, o governo apagou e a oposição está brilhando. Correto. O
problema, porém, é o que pode
acontecer depois das eleições.
A tendência, não menos óbvia,
é que a limitação energética vá
segurar o crescimento da economia e aumentar o desemprego, o
que significa menos recursos (provenientes de impostos) nos cofres
do governo. A instabilidade política não é exatamente o melhor
atrativo para investimentos externos.
O presidente eleito estará cercado de uma enorme demanda tanto de crescimento econômico e de
geração de novos empregos como,
ainda por cima, de investimentos
sociais e em infra-estrutura. Para
piorar a situação, os três presidenciáveis favoritos -Lula, Itamar e Ciro- vão ter de conquistar maioria no Congresso.
Basta ver o que acontece aqui
em São Paulo. Marta Suplicy se
elegeu acenando com investimentos sociais. Na sua gestão, conforme as promessas de campanha,
haveria mais empregos e até mais
segurança pública: promessas que
as pessoas, de olho na implacabilidade do Orçamento, sabiam ser
fantasiosas.
Apesar de todo o seu esforço e de
toda a sua boa vontade em acertar, Marta vem sofrendo, cada
vez mais, o desgaste provocado
pelo contraste entre as necessidades de uma cidade como São Paulo e os recursos disponíveis.
Ressalve-se que há várias atenuantes à questão paulistana.
Marta angariou a simpatia, em
maior ou menor grau, dos empresários, dos meios de comunicação
e da classe média. Além disso, tem
maioria na Câmara Municipal.
Mesmo assim, a prefeita não consegue colocar as crianças em creches nem regularizar a coleta do
lixo. Para não assumir o desgaste,
ataca o Palácio do Planalto.
Também com os cofres vazios, a
reação de Itamar para chamar a
atenção do eleitorado foi travar
uma guerra com Brasília -numa mistura das encenações de Jânio Quadros com a impetuosidade mercadológica de Fernando
Collor.
Para uma entidade cujo presidente chegou a dizer, em passado
recente, que a vitória do PT produziria uma debandada de centenas de milhares de empresários,
a opção de Piva mostra que a
Fiesp e Lula podem ter mudado
-mostra, porém, acima de tudo,
que a crise econômica, agravada
com a escassez de energia e apimentada pela crônica carência
social, deixou o empresariado politicamente abandonado. Está a
tal ponto abandonado que, comparado a Itamar, Lula aparece
como político de bom senso em
questões de mercado.
PS- Para não falar apenas de
crise, vale a pena registrar um notável sinal de competência na administração pública, divulgado
na semana passada. Em cinco
anos, a mortalidade infantil diminuiu drasticamente em Florianópolis -graças a um programa
combinado de acompanhamento
das gestantes e dos bebês. Caiu
63%, fazendo de Florianópolis a
primeira capital nacional com
um índice de mortalidade infantil abaixo dos dois dígitos.
Por trás disso, a educação, claro. Já estive em escolas públicas
em Florianópolis que fariam inveja a instituições privadas de cidades como São Paulo, Rio ou Belo Horizonte devido ao entrosamento com a comunidade.
E-mail - gdimen@uol.com.br'
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