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EDUCAÇÃO
Entidades dizem que situação do ensino é preocupante e que Estado não deveria avaliar só o aspecto quantitativo
Para educadores, dados escondem realidade
FERNANDA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Educadores afirmam que os dados do Saresp, apresentados ontem pela Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo, não retratam a realidade das salas de aula.
Segundo o presidente da Udemo (sindicato dos dirigentes de
ensino), Roberto Augusto Torres
Leme, a divulgação de outras avaliações no país e os relatórios
apresentados pelos diretores demonstram que a situação do ensino estadual é preocupante.
Para Leme, a divulgação de dados incompletos, sem a apresentação das escolas e municípios, é
problemática, pois impede a sociedade de participar das mudanças na política educacional.
A avaliação da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino
Oficial do Estado de São Paulo) é a
mesma: "O que nós conhecemos
e sabemos é que essa avaliação
não é a correta. Não é esse o resultado obtido na avaliação dos professores no dia-a-dia dos seus alunos", disse o presidente do sindicato, Carlos Ramiro de Castro.
"A política educacional do Estado prioriza um único aspecto, o
quantitativo", complementa.
Para Castro, falta uma avaliação
científica, que trabalhe com
amostragem e priorize a realidade
dos alunos. A quantidade de alunos não é fundamental, segundo
ele. "É a mesma coisa que fazer
uma pesquisa eleitoral com 90%
dos eleitores", afirmou.
Segundo Vera Masagão, coordenadora-geral de programas da
ONG Ação Educativa, o relatório
traz poucas informações. "É pouco útil uma avaliação que não
mostra pontos negativos, aspectos para melhorar. Fica parecendo uma propaganda política para
elogiar o governo", disse.
Para ela, a avaliação de quase todos os alunos só é necessária se
puder ser utilizada pelas escolas.
"Se não for para fazer chegar até a
escola, não tem sentido fazer uma
avaliação censitária como essa, é
puro gasto de dinheiro." Cada escola recebeu apenas os dados referentes ao desempenho de seus
alunos, e não da pesquisa toda.
Na avaliação de Romualdo Portela, professor de políticas públicas da Faculdade de Educação da
USP, esse tipo de apresentação é
"estranha" porque não há como
saber quantos alunos tiveram
apenas nota 5 ou desempenho superior. "Tem uma certa tentativa
de ilusão. Um sistema de avaliação que não permite fazer série
histórica é bastante questionável", diz. O Saresp de 2003 tem
metodologia diferente da dos
anos anteriores, o que não permite comparações.
"Setenta por cento dos alunos
tiveram nota superior a cinco. Isso é bom ou ruim? Em relação ao
ano passado, é melhor ou pior?
Não há como comparar o processo de aprendizagem sem um resultado absoluto desses dados."
Para o Saeb (o sistema de avaliação da educação básica do governo federal), nenhum Estado atingiu um nível satisfatório para 4ª e
8ª séries. O sistema de 2003 também não apontou melhoria no nível de leitura em São Paulo. O Saresp não avalia esse indicador.
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