São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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Policial foi condenado por contrabando de café

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Wilson Perpétuo trabalhava na PF em Ribeirão Preto apesar de ter uma condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região a três anos e dez meses de prisão por facilitação de contrabando ou descaminho (exportação clandestina).
A lista de acusações contra ele vai de contrabando de diamantes a desvio de recursos públicos.
Na condenação do TRF, prevaleceu a interpretação de que recurso ao Superior Tribunal de Justiça não suspende a punição. Por isso, Perpétuo atuava como delegado e cumpria pena alternativa: dava palestras e doava 50 fraldas geriátricas todo mês durante três anos e nove meses. A punição acabará em 2005.
O TRF condenou-o por contrabando e descaminho de café à época em que trabalhava na PF em Foz do Iguaçu (PR), entre junho de 1988 e maio de 1991.
Do cargo seguinte, o de secretário da Segurança em Alagoas, também saiu com uma condenação, desta vez do TCU (Tribunal de Contas da União) por desvio de verbas públicas. Em 2000, o TCU condenou-o a devolver duas parcelas de Cr$ 461.200.000,00 (equivalente hoje a cerca de R$ 65 mil) que o governo federal enviara para a conclusão do IML (Instituto Médico Legal) de Maceió, mas o recurso não chegou à obra.
Perpétuo foi secretário da Segurança em Alagoas entre agosto de 1991 e junho de 1993, por indicação de Cláudio Vieira, secretário especial do então presidente Fernando Collor (1990-1992).
Em 1998, quando já trabalhava em Ribeirão, ele foi afastado do cargo pelo superintendente da PF à época, Vicente Chelloti. Ele dizia que Perpétuo era inocente, mas afastou-o por pressões do Ministério Público Federal, que fizera um dossiê sobre policiais condenados. O número era assustador: do efetivo da PF em São Paulo, 10% já haviam sido condenados e 30% respondiam a processos.
Segundo a assessoria de comunicação da PF em Brasília, Perpétuo voltou à corporação por decisão judicial. A PF em São Paulo diz que, após a condenação, ele perdeu o cargo de chefia em Ribeirão, mas não soube informar por que ele não foi afastado.
Perpétuo e José Bocamino foram apanhados também pelas gravações da Operação Anaconda. Em telefonemas gravados pela PF, eles negociam com Jorge Bezerra da Silva, ex-delegado da PF preso pela Anaconda, uma maneira de profissionalizar o contrabando de diamantes da reserva dos cintas-largas, em Rondônia. Os delegados da PF dizem nas gravações que lapidariam os diamantes em Ribeirão Preto. Depois, negaram a intenção.
Um dos últimos inquéritos que Perpétuo dirigiu foi justamente sobre um crime pelo qual foi acusado na sua prisão: o de adulteração de combustíveis. Ele investigava duas usinas de álcool de Ari Natalino da Silva, acusado de ser um dos maiores fraudadores de combustível do país, que teria dado um golpe de R$ 100 milhões usando o nome de uma pessoa morta em 1944 como laranja.


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