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Chefe da polícia
em São Paulo
é escanteado
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Anaconda, Shogun e, agora,
Lince. Três operações de repercussão nacional, nas quais a PF,
publicamente, cortou na própria carne, prendendo policiais. Destinadas a combater
supostos crimes e criminosos
diferentes -de venda de sentenças a lavagem de dinheiro-
, todas foram planejadas e executadas sem o conhecimento
e/ou participação daquele que,
tecnicamente, é o dono do território: o superintendente da
Polícia Federal em São Paulo,
Francisco Baltazar da Silva.
Como de praxe, Baltazar foi
informado da Operação Lince
na véspera das prisões. Dessa
vez, a notícia foi dada pessoalmente pelo diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda, anteontem
em Brasília. Segundo a Folha
apurou, quando soube que,
mais uma vez, homens de confiança seus seriam presos, Baltazar admitiu ter cometido imprudências nas nomeações.
O superintendente disse a Lacerda que fora descuidado e
que muitas dessas pessoas
apresentaram problemas. Momentos depois, defendeu as
prisões para "limpar" a Polícia
Federal de São Paulo.
Delegado experiente, Baltazar acabou nomeado superintendente por ser, como ele
mesmo costuma dizer, amigo
do presidente da República,
Luiz Inácio Lula da Silva.
Na Anaconda, o delegado
mostrou publicamente um
desconforto que perdura até
hoje. Indignado, chorou diante
de colegas. Em reunião reservada, chegou a afirmar que em
dez dias derrubaria Lacerda. O
motivo: soube da operação
quando os mandados de prisão
eram cumpridos, em 30 de outubro do ano passado.
Bombeiro oficial do governo,
o ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) almoçou com
Baltazar e tentou, na base do
argumento técnico, explicar o
acontecido: São Paulo não poderia participar da operação
porque quadros locais da PF
estavam entre os alvos. Entre
eles, o delegado José Augusto
Bellini. Hoje preso, Bellini fora
nomeado por Baltazar para comandar o setor de passaportes.
Na Shogun, que culminou
com a prisão de Law Kim
Chong, apontado como o
maior contrabandista do país,
a assessoria de Baltazar informou que o delegado soubera
do trabalho na véspera -desconhecimento até justificável,
pois o superintendente estava
afastado por motivos pessoais.
Há outras versões, porém.
Segundo a CPI da Pirataria,
pouco antes de ser preso, Pedro
Lindolfo Sarlo, preposto de
Chong ligou para um assessor
do delegado Luiz Roberto Martins, o segundo homem de Baltazar. Disse que combinou
uma batida policial contra um
concorrente de Chong para a
semana seguinte.
Ontem tal qual na Shogun, os
agentes destacados para a ação
chegaram ao território de Baltazar de carro. Passagens aéreas poderiam causar suspeitas. Procurado para falar sobre
sua exclusão nas operações, o
delegado paulista não respondeu às ligações.
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