São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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Chefe da polícia em São Paulo é escanteado

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Anaconda, Shogun e, agora, Lince. Três operações de repercussão nacional, nas quais a PF, publicamente, cortou na própria carne, prendendo policiais. Destinadas a combater supostos crimes e criminosos diferentes -de venda de sentenças a lavagem de dinheiro- , todas foram planejadas e executadas sem o conhecimento e/ou participação daquele que, tecnicamente, é o dono do território: o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva.
Como de praxe, Baltazar foi informado da Operação Lince na véspera das prisões. Dessa vez, a notícia foi dada pessoalmente pelo diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda, anteontem em Brasília. Segundo a Folha apurou, quando soube que, mais uma vez, homens de confiança seus seriam presos, Baltazar admitiu ter cometido imprudências nas nomeações.
O superintendente disse a Lacerda que fora descuidado e que muitas dessas pessoas apresentaram problemas. Momentos depois, defendeu as prisões para "limpar" a Polícia Federal de São Paulo.
Delegado experiente, Baltazar acabou nomeado superintendente por ser, como ele mesmo costuma dizer, amigo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Na Anaconda, o delegado mostrou publicamente um desconforto que perdura até hoje. Indignado, chorou diante de colegas. Em reunião reservada, chegou a afirmar que em dez dias derrubaria Lacerda. O motivo: soube da operação quando os mandados de prisão eram cumpridos, em 30 de outubro do ano passado.
Bombeiro oficial do governo, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) almoçou com Baltazar e tentou, na base do argumento técnico, explicar o acontecido: São Paulo não poderia participar da operação porque quadros locais da PF estavam entre os alvos. Entre eles, o delegado José Augusto Bellini. Hoje preso, Bellini fora nomeado por Baltazar para comandar o setor de passaportes.
Na Shogun, que culminou com a prisão de Law Kim Chong, apontado como o maior contrabandista do país, a assessoria de Baltazar informou que o delegado soubera do trabalho na véspera -desconhecimento até justificável, pois o superintendente estava afastado por motivos pessoais.
Há outras versões, porém. Segundo a CPI da Pirataria, pouco antes de ser preso, Pedro Lindolfo Sarlo, preposto de Chong ligou para um assessor do delegado Luiz Roberto Martins, o segundo homem de Baltazar. Disse que combinou uma batida policial contra um concorrente de Chong para a semana seguinte.
Ontem tal qual na Shogun, os agentes destacados para a ação chegaram ao território de Baltazar de carro. Passagens aéreas poderiam causar suspeitas. Procurado para falar sobre sua exclusão nas operações, o delegado paulista não respondeu às ligações.


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