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Isolados, controladores decidem testar força
Mulheres de militares planejam "panelaço" hoje, e ato marcado para amanhã em Brasília será transformado em manifestação
Protestos vão testar a capacidade de mobilização do movimento após a prisão de um líder e afastamento de 13 controladores
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os controladores de tráfego
aéreo decidiram reagir à ofensiva da Aeronáutica e à punição
de seus líderes convocando um
"panelaço" de mulheres de militares hoje e transformando
em manifestação de apoio à categoria ato marcado para amanhã, em Brasília, com a presença de representantes do Uruguai e da Argentina.
Tanto o "panelaço" como a
manifestação de amanhã tendem, assim, a se transformar
num teste para a capacidade de
mobilização e de unidade do
movimento depois da prisão
administrativa de um dos líderes e do afastamento de outros
13 na sexta -outra prisão havia
sido anunciada na quarta.
No final da tarde de ontem,
cerca de dez mulheres de controladores realizaram um protesto no saguão principal do aeroporto de Brasília. Em lugar
de panelas, uma faixa.
Um dia após o governo radicalizar o confronto com os controladores, não havia consenso
sobre a reação às medidas. "Os
controladores militares estão
sob extrema vigilância, perdemos o contato", contou ontem
Jorge Botelho, presidente do
Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo
-que reúne os civis que atuam
no controle de tráfego aéreo.
Depois de se sentar na fracassada mesa de negociação como
representante dos controladores no início da crise aérea, Botelho disse que insistirá no
apoio de políticos e de centrais
sindicais para negociar uma alternativa -ainda não elaborada- à ação da Aeronáutica:
"Fomos isolados, como se fôssemos descartáveis: é lamentável, frustrante, decepcionante".
Os primeiros movimentos
dos controladores após o anúncio do plano de contingência da
Aeronáutica dão conta de que
aumentou seu isolamento. Líderes dos controladores decidiram limitar entrevistas à imprensa. Oficialmente, quem fala pelos controladores no momento é Jorge Botelho.
O motivo da decisão é que entrevistas anteriores foram usadas como pretexto para a prisão
de Moisés Gomes de Almeida e
de Carlos Trifílio.
Na versão dos controladores,
parte da operação da FAB não
tem consistência, porque é baseada no emprego de controladores de defesa do espaço aéreo, estritamente militar.
Como comparação, um líder
disse ontem à Folha que o controlador de defesa é um "burocrata" preparado para derrubar
um avião militar que invada o
espaço aéreo brasileiro (algo
que nunca acontece), e não para salvar um Boeing comercial.
"Tenho muito medo do que
pode acontecer, porque os controladores de defesa não têm
treinamento e vão trabalhar
num ambiente de muita tensão. Eles não conseguem trabalhar no mesmo ritmo dos controladores treinados para essa
tarefa. E se acontece um acidente?", questionou Botelho.
A Aeronáutica alega que esses militares são só parte da
ofensiva. Os controladores, porém, dizem o contrário: que a
maioria está "fechada" com o
movimento, inclusive em Curitiba, Manaus, São Paulo, Bahia.
Eles tentam ainda esvaziar a
expectativa da Aeronáutica de
que o resultado do IPM (Inquérito Policial Militar), em
cerca de dez dias, irá enquadrar
os líderes da greve de 30 de
março, que parou os aeroportos de todo o país, em crime de
motim.
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