São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Isolados, controladores decidem testar força

Mulheres de militares planejam "panelaço" hoje, e ato marcado para amanhã em Brasília será transformado em manifestação

Protestos vão testar a capacidade de mobilização do movimento após a prisão de um líder e afastamento de 13 controladores

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os controladores de tráfego aéreo decidiram reagir à ofensiva da Aeronáutica e à punição de seus líderes convocando um "panelaço" de mulheres de militares hoje e transformando em manifestação de apoio à categoria ato marcado para amanhã, em Brasília, com a presença de representantes do Uruguai e da Argentina.
Tanto o "panelaço" como a manifestação de amanhã tendem, assim, a se transformar num teste para a capacidade de mobilização e de unidade do movimento depois da prisão administrativa de um dos líderes e do afastamento de outros 13 na sexta -outra prisão havia sido anunciada na quarta.
No final da tarde de ontem, cerca de dez mulheres de controladores realizaram um protesto no saguão principal do aeroporto de Brasília. Em lugar de panelas, uma faixa.
Um dia após o governo radicalizar o confronto com os controladores, não havia consenso sobre a reação às medidas. "Os controladores militares estão sob extrema vigilância, perdemos o contato", contou ontem Jorge Botelho, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo -que reúne os civis que atuam no controle de tráfego aéreo.
Depois de se sentar na fracassada mesa de negociação como representante dos controladores no início da crise aérea, Botelho disse que insistirá no apoio de políticos e de centrais sindicais para negociar uma alternativa -ainda não elaborada- à ação da Aeronáutica: "Fomos isolados, como se fôssemos descartáveis: é lamentável, frustrante, decepcionante".
Os primeiros movimentos dos controladores após o anúncio do plano de contingência da Aeronáutica dão conta de que aumentou seu isolamento. Líderes dos controladores decidiram limitar entrevistas à imprensa. Oficialmente, quem fala pelos controladores no momento é Jorge Botelho.
O motivo da decisão é que entrevistas anteriores foram usadas como pretexto para a prisão de Moisés Gomes de Almeida e de Carlos Trifílio.
Na versão dos controladores, parte da operação da FAB não tem consistência, porque é baseada no emprego de controladores de defesa do espaço aéreo, estritamente militar.
Como comparação, um líder disse ontem à Folha que o controlador de defesa é um "burocrata" preparado para derrubar um avião militar que invada o espaço aéreo brasileiro (algo que nunca acontece), e não para salvar um Boeing comercial.
"Tenho muito medo do que pode acontecer, porque os controladores de defesa não têm treinamento e vão trabalhar num ambiente de muita tensão. Eles não conseguem trabalhar no mesmo ritmo dos controladores treinados para essa tarefa. E se acontece um acidente?", questionou Botelho.
A Aeronáutica alega que esses militares são só parte da ofensiva. Os controladores, porém, dizem o contrário: que a maioria está "fechada" com o movimento, inclusive em Curitiba, Manaus, São Paulo, Bahia.
Eles tentam ainda esvaziar a expectativa da Aeronáutica de que o resultado do IPM (Inquérito Policial Militar), em cerca de dez dias, irá enquadrar os líderes da greve de 30 de março, que parou os aeroportos de todo o país, em crime de motim.


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