São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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URBANIDADE

O palácio de Genoino

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Quando vivia na clandestinidade, o cearense José Genoino saía de manhã das pensões em que morava em São Paulo e ia ao centro da cidade, onde fazia reuniões políticas nos mais diversos locais, para despistar a polícia -aquelas caminhadas produziram um caso de amor com a cidade.
Para passar o tempo entre as reuniões, vasculhava os sebos à procura de raridades literárias, lia jornais sentado em bancos de praça e assistia a filmes nos cinemas antigos, atualmente abandonados ou transformados em "pulgueiros". Tinha o hábito de levar sanduíches de queijo com mortadela às sessões de cinema. "Viver em São Paulo era passear a pé", lembra-se.
Acabou preso bem longe daquele cenário, quando fazia guerrilha na região do Araguaia. Depois de solto, deu aulas de história no Colégio Equipe, referência na época de ensino alternativo, localizado então na rua Martiniano de Carvalho; o espaço, tão vivo culturalmente no passado, é hoje um desolador estacionamento onde se vê o resto de uma floresta isolada por grades, nas proximidades da rua Augusta. Dali, o professor manteve o hábito de fazer os trajetos dos tempos da clandestinidade, absorto entre os livros dos sebos e os personagens das praças, agora sem sentir-se perseguido.
Candidato do PT ao governo estadual, ele se compromete, no programa de governo, a voltar a fazer das paisagens do passado seu reduto e um jeito de ajudar a cidade que o acolheu. Se eleito, garante despachar na atual sede da Secretaria Estadual da Educação, ex-colégio Caetano de Campos, na praça da República. "Prefiro governar no meio do povo a governar isolado no Morumbi", promete.
Voltar para aquela área era o projeto de Mário Covas, depois engavetado -pelo menos temporariamente- pelo seu substituto, Geraldo Alckmin. Covas pretendia ir para o prédio do Banespa, no viaduto do Chá; Marta Suplicy saiu na frente e abocanhou o prédio para a sede da prefeitura.
O compromisso de Alckmin é, se eleito, mudar a maioria das repartições públicas para o centro, até por uma economia de recursos. "Ainda tenho a intenção de mudar o palácio, mas dependo da verba", diz.
Mudar para o centro não vai custar nada para outro personagem da política brasileira, ocupante do principal palácio brasileiro: um grupo de empresários prepara doação de um imponente imóvel, com vista para o Anhangabaú, para Fernando Henrique Cardoso usá-lo como escritório e organizar seu acervo.



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