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URBANIDADE
O palácio de Genoino
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Quando vivia na clandestinidade, o cearense
José Genoino saía de manhã das
pensões em que morava em São
Paulo e ia ao centro da cidade,
onde fazia reuniões políticas nos
mais diversos locais, para despistar a polícia -aquelas caminhadas produziram um caso de
amor com a cidade.
Para passar o tempo entre as
reuniões, vasculhava os sebos à
procura de raridades literárias,
lia jornais sentado em bancos de
praça e assistia a filmes nos cinemas antigos, atualmente abandonados ou transformados em
"pulgueiros". Tinha o hábito de
levar sanduíches de queijo com
mortadela às sessões de cinema.
"Viver em São Paulo era passear
a pé", lembra-se.
Acabou preso bem longe daquele cenário, quando fazia
guerrilha na região do Araguaia. Depois de solto, deu aulas
de história no Colégio Equipe,
referência na época de ensino alternativo, localizado então na
rua Martiniano de Carvalho; o
espaço, tão vivo culturalmente
no passado, é hoje um desolador
estacionamento onde se vê o resto de uma floresta isolada por
grades, nas proximidades da rua
Augusta. Dali, o professor manteve o hábito de fazer os trajetos
dos tempos da clandestinidade,
absorto entre os livros dos sebos e
os personagens das praças, agora
sem sentir-se perseguido.
Candidato do PT ao governo
estadual, ele se compromete, no
programa de governo, a voltar a
fazer das paisagens do passado
seu reduto e um jeito de ajudar a
cidade que o acolheu. Se eleito,
garante despachar na atual sede
da Secretaria Estadual da Educação, ex-colégio Caetano de
Campos, na praça da República.
"Prefiro governar no meio do povo a governar isolado no Morumbi", promete.
Voltar para aquela área era o
projeto de Mário Covas, depois
engavetado -pelo menos temporariamente- pelo seu substituto, Geraldo Alckmin. Covas
pretendia ir para o prédio do Banespa, no viaduto do Chá; Marta Suplicy saiu na frente e abocanhou o prédio para a sede da
prefeitura.
O compromisso de Alckmin é,
se eleito, mudar a maioria das
repartições públicas para o centro, até por uma economia de recursos. "Ainda tenho a intenção
de mudar o palácio, mas dependo da verba", diz.
Mudar para o centro não vai
custar nada para outro personagem da política brasileira, ocupante do principal palácio brasileiro: um grupo de empresários
prepara doação de um imponente imóvel, com vista para o
Anhangabaú, para Fernando
Henrique Cardoso usá-lo como
escritório e organizar seu acervo.
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