São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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GASTROENTEROLOGIA

Congresso discute mal-estar por refluxo durante a digestão

da Reportagem Local

Uma enfermidade que lembra o regurgitar das crianças está atacando um número cada vez maior de adultos, no mundo todo. Na criança, no geral, o regurgitar é uma reação normal e desaparece ao redor de um ano idade.
No adulto, a doença do refluxo gastroesofágico -ou DRGE- provoca incômodos como queimação e azia e pode levar a problemas sérios nas vias aéreas e até causar câncer no esôfago.
A doença não é nova, mas o que intriga os médicos é seu crescimento nas últimas décadas. Hoje, estima-se que 10% da população adulta sofra do mal. Nos EUA, são 15 milhões de pessoas. Vinte anos atrás, a doença não era contabilizada nem chegava a preocupar.
Outra questão é a dificuldade do diagnóstico, já que o ácido gástrico, ao "subir" do estômago para o esôfago -cujo tecido não está preparado para recebê-lo-, pode provocar vários problemas, de dificuldades respiratórias a fortes dores no peito. Por serem estranhas à região, essas células podem causar tumores.
A DRGE será um dos principais temas do 6º Encontro Internacional de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva que acontece no Centro de Convenções Rebouças de São Paulo entre os dias 5 e 7 de agosto.
A doença do refluxo gástrico é provocada por uma falha no anel regulador (o esfíncter gastroesofágico) que controla a passagem do esôfago para o estômago. Quando uma pessoa fica de ponta-cabeça, é esse anel que impede a passagem dos alimentos de um compartimento para outro.
As causas dessa falha no anel regulador podem ser provocadas por algum tipo de alimentação ou estresse, mas são apenas hipóteses. "Ainda não sabemos porque a doença está crescendo", diz o professor Antonio Laudanna, titular de gastroenterologia clínica da Faculdade de Medicina da USP e presidente do congresso.
O importante -diz o médico- é uma maior atenção ao diagnóstico, para que a DRGE possa ser identificada e tratada. Na Finlândia, por exemplo, um estudo mostrou que 75% das pessoas com problemas respiratórios e com suspeitas de refluxo eram, de fato, portadoras do DRGE.
Entre os vários conferencistas estrangeiros, o chileno Flavio Nervi vai falar sobre as dores torácicas -que lembram anginas- e que na verdade são provocadas pelo refluxo gástrico. Muitos pacientes correm para o cardiologista quando na verdade estão sofrendo da DRGE, diz Laudanna.

Tese derrubada
O congresso deste ano também reforça a derrubada de uma tese que perdurou durante décadas nos meios médicos: a de que as doenças do estômago -e de todo o sistema digestivo- eram predominantemente de "fundo nervoso" ou psicológico.
No centro deste debate está o "intestino irritável", que subiu do estágio de doença para o de síndrome, o que caracteriza um conjunto de sintomas de causas múltiplas. A síndrome do intestino irritável se apresenta dentro de um quadro de dores e desconforto na região abdominal e irregularidade intestinal.


Informações sobre o congresso pelo tel. 0/ xx/11/543-2532 ou pela Internet: www.fugesp.gov.br


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