São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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Vídeo ridiculariza mendigos nos EUA

BRUNO GARATTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Maus-tratos e ridicularização de moradores de rua são a tônica da coleção de vídeos "Bumfights" (batalhas de mendigos), que surgiu em 2002 e é comercializada pela internet.
Nem todas as situações mostradas pela série, que virou caso de polícia nos Estados Unidos, são verídicas ou envolvem mendigos, mas há algumas cenas reais.
Um sem-teto injeta heroína, um homem tenta arrancar o próprio dente e um grupo de jovens encapuzados, que se intitula "bum patrol" (patrulha dos mendigos), circula de carro pelas ruas de Las Vegas algemando, despindo e roubando transeuntes.
A autenticidade de algumas cenas foi comprovada pela Associação Nacional dos Sem-Teto (www.nationalhomeless.org), que pesquisou a vida dos protagonistas da série.
Um deles, Rufus Hannah, 49, mora nas ruas desde 1982 e processou os criadores dos vídeos, que hoje considera humilhantes. Ele atribui a sua participação em "Bumfights" ao alcoolismo e afirma ter recebido US$ 5 para dar cabeçadas em caixotes.
Outro homem que aparece nas gravações, Donald Brennan, 53, teve pior sorte: por US$ 200, aceitou tatuar o nome da série de filmes em sua testa.
A série causou revolta em autoridades, e os dois criadores de "Bumfights" acabaram sentenciados, em 2003, a prestar 250 horas de serviços comunitários e a três anos em liberdade condicional.
Isso não atrapalhou a popularidade da série, que é considerável: seus criadores afirmam ter vendido mais de 300 mil cópias dos vídeos pelo site www.bumfights.com, que cobra US$ 20 por DVD. Uma pesquisa nos principais programas de download de vídeos dá fácil acesso a cópias pirateadas de "Bumfights: A Cause for Concern" (motivo para preocupação, em inglês) e "Bumfights 2: Bum Life" (vida de mendigo).
Os criadores dos vídeos alegam que a intenção é mostrar as más condições enfrentadas pelos sem-teto nos EUA, e o site de "Bumfights" pede aos visitantes que não enviem vídeos que mostrem mendigos -mas oferece até US$ 1.000 por cenas de "brigas de rua".


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