São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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CARGA ILEGAL

Carregamento de 600 kg encontrado no Amapá iria para São Paulo de navio; dono do material fugiu

Polícia Federal faz a 1ª apreensão de urânio no Brasil

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal no Amapá afirmou ontem que 600 kg de urânio e tório, minérios com potencial radiativo, foram apreendidos. É a primeira vez que esse tipo de carregamento clandestino é flagrado no país, segundo a polícia.
A apreensão, avaliada em R$ 1,4 milhão, foi feita no mês passado, mas a PF divulgou o fato agora porque esperava o resultado da perícia no material, realizada pelo Instituto de Radioproteção e Dosimetria, no Rio de Janeiro, e pelo Instituto Nacional de Criminalística, de Brasília (DF).
O DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) foi o responsável por informar a PF de que se tratava de urânio e tório. As jazidas desse tipo de minério são de propriedade exclusiva da União e, por lei, devem ser rigorosamente controladas.
O urânio e o tório estavam acondicionados em uma camionete que foi parada por uma fiscalização de rotina da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, entre Pedra Branca do Amapari e Porto Grande, perto da reserva de onde foram retirados, a cerca de 120 km de Macapá.
No veículo, estavam o suposto dono da carga, que fugiu para a mata no momento da abordagem dos agentes, e o motorista, que foi preso. O material foi encaminhado para análise devido a suas características: escuro e denso.

Destino
"Pelas investigações, descobrimos que a carga iria para São Paulo de navio. De lá, provavelmente, seguiria para o exterior", disse o delegado Tardelli Cerqueira Boaventura, da PF no Amapá.
A polícia identificou o dono da carga, que foi indiciado por crime ambiental e crime de usurpação de material pertencente à União -pena de até seis anos de prisão. Segundo as investigações, o motorista recebeu R$ 20 pelo trabalho. Ele foi liberado.
Os minérios, em textura granulada, estavam em sacos plásticos, prontos para ser comercializados.
Técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear e do DNPM estão indo para Macapá para ajudar nas investigações. "Acreditamos que essa não foi a primeira vez que esse tipo de extração foi feita no local. Era uma quantidade muito grande de material. Não era coisa de amador", afirmou.
A polícia diz que o local de onde foram retirados os minérios está sob investigação, mas não há uma equipe o tempo todo na jazida.
Especialistas ouvidos informaram que, em princípio, o tório e o urânio, in natura, não fazem mal à saúde do homem nem ao ambiente. Para tornar-se radiativo (e poder ser usado em usinas ou em armas nucleares), os minérios teriam de passar por um complexo processo de enriquecimento.


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