São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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VIOLÊNCIA

Locais são usados para venda de drogas ou como depósito de armas ou entorpecentes; maquinistas são ameaçados

Tráfico "ocupa" estações de trem no Rio

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes de drogas de favelas do Rio de Janeiro usam estações ferroviárias e os próprios trens como esticas (bocas-de-fumo fora das comunidades) ou como depósito de armas e entorpecentes. Ainda circulam armados pela linha férrea, ameaçam maquinistas e paralisam os trens, segundo denúncias do Sindicato dos Ferroviários e informes recebidos pelas polícias Civil e Militar.
Somente entre os meses de junho e julho, o Batalhão Ferroviário da Polícia Militar prendeu 144 pessoas no sistema, em sua grande maioria por porte de drogas.
Segundo a PM, nesse período foram feitos flagrantes em pelo menos sete estações no subúrbio e Baixada Fluminense, regiões consideradas mais críticas por terem favelas beirando a linha férrea.
Uma das estações mais problemáticas é a de Manguinhos (zona norte), que fica entre a favela do mesmo nome e a comunidade Mandela. Em julho, a polícia prendeu em flagrante um suposto traficante em plena estação vendendo maconha.
Em fevereiro, um casal foi flagrado vendendo drogas na estação. Ao serem abordados por PMs, os traficantes começaram a atirar. Encurralados, os policiais tiveram que pedir reforço. A circulação dos trens foi suspensa.
No ano passado, foram encontradas 139 trouxinhas de maconha e dois sacolés de cocaína na casa de força da estação.
Como a venda de drogas nas duas favelas é controlada pela mesma facção, o CV (Comando Vermelho), os traficantes usam a estação para circular entre uma comunidade e outra, armados.
Próximo dali, a estação Jacarezinho (zona norte) também sofre com a atuação dos traficantes. De acordo com a Polícia Civil, os vapores (rapazes que vendem a droga) ficam perto da plataforma, com sacola, esperando pelos passageiros. A abordagem é discreta.
De acordo com os ferroviários, outras estações onde haveria bocas-de-fumo são Parada de Lucas, Vigário Geral, Triagem e Honório Gurgel, todas na zona norte, e Tancredo Neves (zona oeste).
Apesar da existência de seguranças privados nos trens, há venda e consumo de drogas no interior das composições. Ferroviários disseram que isso acontece às quintas e sextas, após as 16h. Nessa hora, os trens estão cheios e fica inviável uma ação da polícia.
Os traficantes embarcam na Central do Brasil (estação terminal no centro do Rio) e ocupam o último vagão. Para despistar, vendem cerveja e organizam pagodes. Os ramais de Japeri e Saracuruna, ambos na Baixada Fluminense, são os mais usados para esse tipo de ação.
Galpões abandonados na linha férrea serviriam como depósitos de armas e drogas. Há cerca de um mês, a polícia descobriu em um imóvel desativado nas proximidades da estação de Deodoro (zona norte) 600 munições. Houve troca de tiros e um criminoso acabou morto.

Ameaças
Os traficantes costumam paralisar a circulação dos trens quando há operações policiais ou tiroteios. Eles atiram na rede elétrica e na sinalização.
Em novembro, durante uma guerra entre traficantes de Vigário Geral e Parada de Lucas, os trens não puderam circular porque a rede foi danificada por tiros.
Os traficantes também ameaçam os maquinistas. Segundo o sindicato, já houve casos no Jacarezinho e em Vigário Geral em que criminosos pararam diante da cabine, apontaram a arma e mandaram parar o trem.


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