São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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TRÁFICO

Denarc prende cinco e apreende 420 kg de cocaína

Policiais prendem quadrilha de traficante ligado a Beira-Mar

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma operação que envolveu cem policiais em quatro cidades diferentes, o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) de São Paulo apreendeu 420 kg de cocaína e deteve cinco pessoas acusadas de pertencer à quadrilha do traficante Claudair Lopes de Faria, 32, conhecido como Claudinho, que se diz "batizado" pelo Comando Vermelho do Rio e "compadre" do maior fornecedor de drogas do país, Fernandinho Beira-Mar.
É a primeira vez que a polícia paulista confirma a presença de traficante ligado à organização Comando Vermelho agindo no Estado. Claudinho, ou "CL", teria o domínio de 50 favelas em São Paulo, grande parte na zona oeste, para a distribuição de cocaína trazida de avião da Colômbia, segundo investigação do Denarc.
Faria conseguiu fugir do cerco policial montado em Jandira, na Grande São Paulo, mas seu irmão e braço-direito João Batista de Faria, 40, foi preso em flagrante. Além dele, os policiais detiveram Clodemir Monteiro, 21, Alex Sandro de Souza, 23, Francini Cardoso de Almeida, 30, e uma adolescente de 17 anos, considerados "funcionários" do grupo.
A ação aconteceu sábado passado, após seis meses de investigação. A polícia agiu em São Paulo -Jabaquara e Vila Santa Catarina-, Jandira, Itapevi (Grande São Paulo) e Itu, no interior, onde encontrou a maior parte da droga, enterrada em um sítio.
Segundo o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Denarc, Faria mantinha contato com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e se utilizava das mesmas rotas, às vezes dos mesmos aviões, de Beira-Mar para trazer a droga da Colômbia. O esquema movimentava, disse ele, cerca de uma 1,5 tonelada de droga por mês.
"Há um momento que ele recebe uma encomenda grande e pergunta se era para entregar no Rio porque não poderia entrar na área de Beira-Mar", afirma.
O inquérito tem cerca de 400 horas de gravações telefônicas, inclusive com traficantes presos em São Paulo. São diálogos de cobrança de dívidas, para aliciamento de funcionários e finalização de encomendas. A voz que a polícia diz ser de "CL" ameaça matar devedores, se define como um "Estado dentro do Estado" e cobra "lealdade e honestidade" dos jovens soldados que recruta.
Na operação de sábado, o Denarc apreendeu ainda quatro balanças de precisão, documentos falsos, 32 celulares, um aparelho para contagem de notas de dinheiro, cinco armas e dois telefones para comunicação por satélite, de uso proibido no país, comprados e registrados na Holanda -cada um avaliado em R$ 8,5 mil, mantidos a um custo de US$ 1.000 o minuto de conversação.
Faria está foragido desde 96, quando escapou do Instituto Penal Agrícola de Bauru (semi-aberto), no interior de São Paulo.
No ano passado, uma investigação descobriu remessas de dinheiro do irmão de "CL", Antonio Carlos Faria, também foragido, para a conta do doleiro Omar Ayoub, acusado no Rio de Janeiro de ser a pessoa que lavava dinheiro para Beira-Mar.
O Denarc quer saber agora como Faria lavava seu dinheiro. Na operação, os policiais apreenderam escrituras de imóveis, papéis de contabilidade e notas fiscais.
A polícia não permitiu que os presos falassem com a imprensa ontem. A Folha não descobriu quem era o advogado que os acompanhou após a prisão.


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