São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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BARBARA GANCIA

Cat Stevens acertou na mosca

Nos últimos 30 anos, não me lembro de ter passado um dia sequer em que não tivesse ao alcance da mão os discos "Tea For the Tillerman" e "Teaser and the Firecat".
A música de Cat Stevens me acompanha desde sempre. Sua mensagem pelo cuidado com o ambiente ("Where Do the Children Play?") surgiu numa época em que a palavra ecologia ainda não fazia parte do vocabulário.
Inglês de origem grega, nascido Stephen Demetri Georgiou, ele também foi um dos primeiros artistas a se manifestar a favor da paz. Enquanto John e Yoko encenavam o "bed in", a famosa vigília realizada em 1969, na suíte 902 do hotel Hilton de Amsterdã, Stevens lançava "Peace Train" em Londres.
Na década de 70, "o gato estevão" passou longa temporada no Rio. Suas noitadas no pub Lord Jim eram freqüentemente documentadas nos jornais. Por aqui, ele deixou a marca de sujeito afável e sem presunções, o que é um tanto incomum para artistas de seu calibre. Para muita gente de minha geração, não tem Rolling Stones nem Beach Boys. Só mesmo os Beatles rivalizam em importância com Cat Stevens.
Confesso que, em 1977, quando ele anunciou, a la Cassius Clay, que passaria a se chamar Yussuf Islam e que abandonaria a carreira musical para se dedicar ao estudo do Corão, não achei a menor graça.
Para me perturbar, vieram outras decisões polêmicas do músico convertido ao islamismo. Na guerra do Golfo, fiquei pasma quando ele tomou o lado do invasor do Kuait, Saddam Hussein. E, quando o autor de "Father and Son" apoiou a sentença de morte decretada pelo aiatolá Khomeini contra o escritor Salman Rushdie, eu não entendi mais nada.
Os ataques de 11 de setembro fizeram com que ele retomasse um tom mais moderado. Islam expressou publicamente seu "horror" aos atentados e, mais recentemente, à tomada da escola em Beslan, na Rússia.
Na terça-feira, ele foi deportado dos EUA, depois de o avião em que viajava ter sido interceptado e desviado de sua rota original. Autoridades da Homeland Security, um dos órgãos de segurança interna criados depois dos atentados aos EUA, alegam que a simples presença de Yussuf Islam em solo norte-americano representaria ameaça à segurança nacional.
Pois eu pergunto: que mundo é este em que o autor de "Morning Has Broken" se torna ameaça para um país como os Estados Unidos? Como diria meu velho amigo Cat Stevens, "it"s a wild world".

QUALQUER NOTA

"Case study"
Meus temores sobre inundações no túnel Max Feffer foram dissipados. Soube que a obra está sendo considerada um primor da engenharia e que promete virar objeto de estudo. Resta a dúvida levantada por Antônio Ermírio: um carro quebrado dentro do estreito túnel não irá provocar um congestionamento atroz?

Acessório
Na quarta, enquanto a CNN exibia imagens sem voz de Lula falando ao plenário da ONU, a repórter Cristiane Amanpour comentava o discurso de Bush que estava por vir. Para o que dizia o presidente tapuia não foi dada a mínima bola.

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