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BARBARA GANCIA
Cat Stevens acertou na mosca
Nos últimos 30 anos, não
me lembro de ter passado
um dia sequer em que não tivesse
ao alcance da mão os discos "Tea
For the Tillerman" e "Teaser and
the Firecat".
A música de Cat Stevens me
acompanha desde sempre. Sua
mensagem pelo cuidado com o
ambiente ("Where Do the Children Play?") surgiu numa época
em que a palavra ecologia ainda
não fazia parte do vocabulário.
Inglês de origem grega, nascido
Stephen Demetri Georgiou, ele
também foi um dos primeiros artistas a se manifestar a favor da
paz. Enquanto John e Yoko encenavam o "bed in", a famosa vigília realizada em 1969, na suíte
902 do hotel Hilton de Amsterdã,
Stevens lançava "Peace Train"
em Londres.
Na década de 70, "o gato estevão" passou longa temporada no
Rio. Suas noitadas no pub Lord
Jim eram freqüentemente documentadas nos jornais. Por aqui,
ele deixou a marca de sujeito afável e sem presunções, o que é um
tanto incomum para artistas de
seu calibre. Para muita gente de
minha geração, não tem Rolling
Stones nem Beach Boys. Só mesmo os Beatles rivalizam em importância com Cat Stevens.
Confesso que, em 1977, quando
ele anunciou, a la Cassius Clay,
que passaria a se chamar Yussuf
Islam e que abandonaria a carreira musical para se dedicar ao
estudo do Corão, não achei a menor graça.
Para me perturbar, vieram outras decisões polêmicas do músico
convertido ao islamismo. Na
guerra do Golfo, fiquei pasma
quando ele tomou o lado do invasor do Kuait, Saddam Hussein. E,
quando o autor de "Father and
Son" apoiou a sentença de morte
decretada pelo aiatolá Khomeini
contra o escritor Salman Rushdie,
eu não entendi mais nada.
Os ataques de 11 de setembro fizeram com que ele retomasse um
tom mais moderado. Islam expressou publicamente seu "horror" aos atentados e, mais recentemente, à tomada da escola em
Beslan, na Rússia.
Na terça-feira, ele foi deportado
dos EUA, depois de o avião em
que viajava ter sido interceptado
e desviado de sua rota original.
Autoridades da Homeland Security, um dos órgãos de segurança
interna criados depois dos atentados aos EUA, alegam que a simples presença de Yussuf Islam em
solo norte-americano representaria ameaça à segurança nacional.
Pois eu pergunto: que mundo é
este em que o autor de "Morning
Has Broken" se torna ameaça para um país como os Estados Unidos? Como diria meu velho amigo
Cat Stevens, "it"s a wild world".
QUALQUER NOTA
"Case study"
Meus temores sobre inundações no túnel Max Feffer foram
dissipados. Soube que a obra
está sendo considerada um primor da engenharia e que promete virar objeto de estudo.
Resta a dúvida levantada por
Antônio Ermírio: um carro
quebrado dentro do estreito túnel não irá provocar um congestionamento atroz?
Acessório
Na quarta, enquanto a CNN
exibia imagens sem voz de Lula
falando ao plenário da ONU, a
repórter Cristiane Amanpour
comentava o discurso de Bush
que estava por vir. Para o que
dizia o presidente tapuia não foi
dada a mínima bola.
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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