São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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DANUZA LEÃO

Hora de votar


Perto das urnas deveriam ser coladas nas parede as fotos que saíram nos jornais com os nomes dos meliantes


Falta só uma semana, e se a maioria das pessoas não sabe em quem votou na eleição passada, como guardar na memória os nomes daqueles em quem não deve votar? Entre sanguessugas e mensaleiros -os culpados e os apenas suspeitos-, são uns cem. Como lembrar dos nomes todos, para ter um Congresso melhor?
Tentar conhecer a vida pregressa de cada um, abrir a internet para saber como foi a atuação, no mandato passado, dos que pretendem se reeleger, convenhamos, é difícil. É preciso ter tempo e paciência para checar cada nome, mas meus candidatos já foram escolhidos, e sobre eles não paira nem a sombra de uma dúvida. E como a Justiça Eleitoral está querendo se modernizar -já proibiu camisetas e chaveirinhos-, vou dar uma idéia.
Nas seções eleitorais, perto das urnas, deveriam ser coladas nas parede as fotos que saíram nos jornais com os nomes dos meliantes, dos membros da "organização criminosa" e o dos partidos a que pertencem. Assim, se algum eleitor distraído chegasse com a intenção de votar em um deles, bastaria olhar para o painel, ver se o nome do seu escolhido está lá, e se estiver, trocar seu voto. Aliás, em cima desse painel, poderia estar escrito, em letras bem grandes, a palavra PROCURA-SE, como nos tempos do faroeste.
Outra idéia: já que é permitido que jovens sem trabalho façam um bico -a R$ 20 por dia- levando bandeiras com fotos e nomes de candidatos, e o desemprego continua grande, outros poderiam passear pela cidade, tipo homem-sanduíche, com um painel na frente e outro nas costas, onde várias primeiras páginas de jornais estariam coladas, com as manchetes denunciando os escândalos, dos mais antigos aos mais recentes. O Brasil é um país sem memória, e tentar reavivá-la é obrigação de todos. Não creio que isso seja proibido pela Justiça Eleitoral, e ainda dá tempo.
Nesta campanha recebi pedidos de votos para filhos de amigos "que é uma flor de rapaz". E já ouvi de pessoas que vão votar em A, B ou C, porque esses eles conhecem. Não que conheçam pela honestidade e honradez, mas conhecem, por isso, qualquer coisa de que precisem, com eles eleitos, sempre haverá a possibilidade de conseguir. É claro que votando por esses critérios o Brasil não vai tomar jeito nunca.
São poucas as pessoas que votam pensando no país; grande parte vota porque já ouviram falar no nome -não vão votar num desconhecido, claro- ou por indicação de um amigo. Eles não sabem o quanto é sério um voto. Essa é, praticamente, nossa grande chance de participar do futuro.
Quando soubermos do resultado da eleição, teremos alegrias e também decepções. Mas não sei por que, tenho o palpite de que teremos muitas alegrias. Apesar de tudo, ou por isso mesmo, alguma coisa -não muita, mas alguma- deve mudar, e pode até ser que venhamos a ter um Congresso mais decente.
Como sou uma otimista incorrigível, penso assim a cada eleição, mas desta vez acho que isso vai mesmo acontecer. Que Deus me ouça, mas cá entre nós, Freud não merecia. Estou falando daquele de Viena.

danuza.leao@uol.com.br


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