São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Falta de gasolina pára 132 carros por dia em rodovias

Casos se referem apenas a atendimentos em estradas de SP sob gerência privada

Por distração ou dificuldade financeira dos motoristas, parada de veículo por pane seca traz riscos e transtornos ao trânsito; multa é de R$ 85

ALENCAR IZIDORO
MARIANA TAMARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Era a primeira vez que Roberta de Paula, 30, saía com seu atual namorado. Enquanto dirigia, ela ainda pensou em parar num posto de combustível. Mas só lembrou de novo do tanque vazio quando seu carro ficou parado em plena madrugada na marginal Pinheiros.
O fato ocorreu há dois anos e Roberta, técnica em recursos humanos, poderia atribuir a distração ao nervosismo do primeiro encontro, que terminou com uma caminhada longa do casal em busca de um táxi.
Mas ela admite que a desculpa não cola. Foram "bem mais de 20 vezes" que Roberta diz ter ficado na rua sem gasolina. "Estou melhorando. Meu namorado pega no pé. Neste ano foram só duas", comemora.
O costume já fez com que ela adquirisse um "kit pane seca", com mangueira e garrafa de cinco litros ("Eu usava uma de dois litros, mas na ladeira pode não ser suficiente", explica), para guardar dentro do carro.
As estatísticas de atendimento de veículos que ficam parados sem combustível indicam que Roberta não está sozinha nesse hábito de querer andar de carro sem abastecê-lo. Só na malha de 3.500 km de rodovias estaduais de São Paulo sob gerência privada, um levantamento feito neste ano pela Artesp (agência estadual que regula as concessões) aponta que, em média, 132 veículos são socorridos por dia com pane seca.
É mais do que as 83 ocorrências de pane elétrica e não tão longe dos 197 atendimentos por pneu furado diariamente.
Na capital paulista, só a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) remove cinco veículos sem combustível por dia. Quem fica parado por pane seca comete infração média -multa de R$ 85,13 e quatro pontos.
O potencial de transtornos ao trânsito, porém, supera e muito essa penalidade. Sebastião Muniz, da CET, afirma que um veículo que interrompe uma faixa da via por 10 minutos é capaz de criar um congestionamento de 1,25 km. "E ainda causa um efeito cascata, com reflexo em vias paralelas."
Nas estradas, Sebastião Ricardo, da Artesp, cita ainda os riscos de ficar no acostamento, devido a acidentes e assaltos.
As justificativas de quem já teve pane seca são diversas, mas muitas ligadas à falta de dinheiro. "Hoje é fácil comprar um carro. Mas é difícil manter", afirma Ricardo, da Artesp.
A distração também é uma causa significativa. Tanto que os motoristas mais ricos também ficam sem gasolina. Nas marginas da Castello Branco (opção de quem paga pedágio para escapar de trânsito na via principal), a ViaOeste, que faz campanhas para alertar os motoristas, já atendeu, neste ano, 286 casos desse tipo até agosto.
Roberta de Paula dá várias justificativas para ficar sem gasolina. "Estou sempre atrasada, acho perda de tempo parar em posto. O pior é que depois perco mais tempo parada", reconhece. "Quando abasteço, nunca completo meu tanque. Dá a impressão de que pesa mais no bolso. E, quando vejo que está acabando, sempre acho que dá para andar um pouco mais."
Encostado sem gasolina na última sexta na Castello Branco, Geraldo de Jesus, 47, eletromecânico, culpava uma possível desregulagem no carro, mas admitia ter arriscado.
Marcelo Crespo, 35, reclama da falta de postos de serviço num trecho da rodovia dos Bandeirantes, onde, há um ano, ficou na reserva e, com a mulher e a filha de um ano, pediu ajuda à concessionária. "Hoje só viajo com tanque cheio", diz.


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