|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Falta de gasolina pára 132 carros por dia em rodovias
Casos se referem apenas a atendimentos em estradas de SP sob gerência privada
Por distração ou dificuldade financeira dos motoristas,
parada de veículo por pane
seca traz riscos e transtornos
ao trânsito; multa é de R$ 85
ALENCAR IZIDORO
MARIANA TAMARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Era a primeira vez que Roberta de Paula, 30, saía com seu
atual namorado. Enquanto dirigia, ela ainda pensou em parar num posto de combustível.
Mas só lembrou de novo do
tanque vazio quando seu carro
ficou parado em plena madrugada na marginal Pinheiros.
O fato ocorreu há dois anos e
Roberta, técnica em recursos
humanos, poderia atribuir a
distração ao nervosismo do primeiro encontro, que terminou
com uma caminhada longa do
casal em busca de um táxi.
Mas ela admite que a desculpa não cola. Foram "bem mais
de 20 vezes" que Roberta diz
ter ficado na rua sem gasolina.
"Estou melhorando. Meu namorado pega no pé. Neste ano
foram só duas", comemora.
O costume já fez com que ela
adquirisse um "kit pane seca",
com mangueira e garrafa de
cinco litros ("Eu usava uma de
dois litros, mas na ladeira pode
não ser suficiente", explica),
para guardar dentro do carro.
As estatísticas de atendimento de veículos que ficam parados sem combustível indicam
que Roberta não está sozinha
nesse hábito de querer andar
de carro sem abastecê-lo. Só na
malha de 3.500 km de rodovias
estaduais de São Paulo sob gerência privada, um levantamento feito neste ano pela Artesp (agência estadual que regula as concessões) aponta que,
em média, 132 veículos são socorridos por dia com pane seca.
É mais do que as 83 ocorrências de pane elétrica e não tão
longe dos 197 atendimentos
por pneu furado diariamente.
Na capital paulista, só a CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) remove cinco veículos
sem combustível por dia. Quem
fica parado por pane seca comete infração média -multa
de R$ 85,13 e quatro pontos.
O potencial de transtornos
ao trânsito, porém, supera e
muito essa penalidade. Sebastião Muniz, da CET, afirma que
um veículo que interrompe
uma faixa da via por 10 minutos
é capaz de criar um congestionamento de 1,25 km. "E ainda
causa um efeito cascata, com
reflexo em vias paralelas."
Nas estradas, Sebastião Ricardo, da Artesp, cita ainda os
riscos de ficar no acostamento,
devido a acidentes e assaltos.
As justificativas de quem já
teve pane seca são diversas,
mas muitas ligadas à falta de dinheiro. "Hoje é fácil comprar
um carro. Mas é difícil manter",
afirma Ricardo, da Artesp.
A distração também é uma
causa significativa. Tanto que
os motoristas mais ricos também ficam sem gasolina. Nas
marginas da Castello Branco
(opção de quem paga pedágio
para escapar de trânsito na via
principal), a ViaOeste, que faz
campanhas para alertar os motoristas, já atendeu, neste ano,
286 casos desse tipo até agosto.
Roberta de Paula dá várias
justificativas para ficar sem gasolina. "Estou sempre atrasada,
acho perda de tempo parar em
posto. O pior é que depois perco
mais tempo parada", reconhece. "Quando abasteço, nunca
completo meu tanque. Dá a impressão de que pesa mais no
bolso. E, quando vejo que está
acabando, sempre acho que dá
para andar um pouco mais."
Encostado sem gasolina na
última sexta na Castello Branco, Geraldo de Jesus, 47, eletromecânico, culpava uma possível desregulagem no carro, mas
admitia ter arriscado.
Marcelo Crespo, 35, reclama
da falta de postos de serviço
num trecho da rodovia dos
Bandeirantes, onde, há um ano,
ficou na reserva e, com a mulher e a filha de um ano, pediu
ajuda à concessionária. "Hoje
só viajo com tanque cheio", diz.
Texto Anterior: Distrito inundado para implantação de usina é descoberto por mergulhadores Próximo Texto: Ivete Sangalo fará campanha contra câncer no interior da Bahia Índice
|