São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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SAÚDE/ SEXUALIDADE

Psicoterapia resgata vida sexual na menopausa

Questões sociais e psicológicas afetam mulher tanto quanto falta de hormônios

Disfunções do parceiro, problemas de auto-estima, preconceitos, falta de diálogo e de erotismo dificultam sexualidade

CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL

Manter uma vida sexual satisfatória durante a menopausa, para muitas, não é tarefa simples. Estudo realizado pela Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas mostrou que a psicoterapia, além do tratamento hormonal, pode ser importante para ajudar as mulheres a não abandonar sua sexualidade em meio às mudanças.
Foram estudadas 41 mulheres que estavam na transição menopáusica, com idades entre 40 e 51 anos, durante quatro meses. Elas foram divididas em dois grupos: um tomava medicamentos fitoterápicos para diminuir os sintomas, o outro, além dos fitoterápicos, passou a fazer psicoterapia em grupo.
O segundo teve aumento de 47,8% na freqüência sexual em relação a antes da pesquisa -contra aumento de 17,7% do primeiro. A qualidade do sexo também melhorou 16,6% para o segundo grupo, enquanto o primeiro teve pequena piora.
"As mulheres que estão tendo dificuldades sexuais precisam de um apoio focado nessas questões", diz a psicóloga e professora da USP Heloísa Fleury, autora do estudo. Na terapia, foram abordados temas como desejo sexual, comunicação e intimidade, orgasmos, vínculo conjugal, disponibilidade para mudanças e autoimagem.
Fleury ressalta a importância de questionar a paciente sobre disfunções do parceiro. Segundo ela, se o casal evita falar sobre o assunto pode acabar desenvolvendo, inconscientemente, formas de se evitar.
A psicóloga afirma que mulheres que têm uma vida sexual anterior prazerosa e contínua, têm tendência a manter uma atividade sexual melhor.
De acordo com Fleury, as perdas e mudanças próprias da época também influenciam. "A perda da juventude, os filhos que crescem, essas coisas que acompanham esse momento da vida afetam tanto quanto as alterações hormonais." Muitas vezes, a função de avó também acaba sendo colocada antes do "ser mulher".

Em baixa
"Já passei da idade de pensar nessa coisa de sexo." Essa frase é ouvida com frequência pela ginecologista Carolina Carvalho, que coordena o Projeto Afrodite, na Casa do Climatério, da Unifesp, onde se discute a sexualidade feminina. "A mulher chega com a auto-estima em baixa, se sentindo velha, gorda, feia. Ainda há um estigma muito grande, parece que a mulher depois da menopausa só pode ser avó."
No projeto, além de levantar o amor próprio dessas mulheres, uma equipe multidisciplinar faz avaliação e pode receitar a terapia hormonal, tira dúvidas e oferece atendimento psicológico. Uma fisioterapeuta avalia e ensina exercícios que trabalham a musculatura vaginal, que pode ficar mais flácida com a menopausa.
"É importante resgatar o erotismo. O desejo sexual feminino tem que ser exercitado. Se não está vindo espontaneamente, tem que procurar", diz.
A médica aborda ainda um tema tabu: "A masturbação tem muita resistência. Menos de 20% das mulheres se masturbam nessa faixa etária. Mas esse é um grande exercício para a sexualidade".
"A mulher vive mais de um terço da vida na menopausa. É uma fase difícil, mas ela pode descobrir uma nova mulher."


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