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Psicólogos comentam a exposição do sexo
Vídeo em que Daniella Cicarelli e o namorado trocam carícias em praia gera debate sobre o significado de transar em público
Para psicanalista, mostrar intimidades na frente
de outros "faz parte da necessidade de legitimar a escolha sexual e amorosa"
MARIANNE PIEMONTE
ROSANA FARIAS DE FREITAS
DA REVISTA DA FOLHA
OK, o Brasil não era exatamente virgem em escândalo do
gênero (de nenhum gênero, diga-se). Em 2005, o decano
compositor Chico Buarque foi
flagrado em lazer litorâneo explícito com uma morena, e as
fotos foram parar em todos os
jornais brasileiros. Nada parecido, porém, com o fuá internacional em que se meteu a apresentadora Daniella Cicarelli,
26, a ex de Ronaldo Fenômeno.
Pudera, Chico não é Cica, o Leblon não é Cádiz e foto não é filme, não tem movimento.
O vídeo do amasso da apresentadora e seu namorado, Tato Malzoni, 33, na praia espanhola relegou o enésimo escândalo político petista ao pé da
lista de assuntos mais lidos durante a semana e deflagrou
uma infindável discussão, que
começava no "é ela ou não é",
esbarrava na questão da privacidade de atos públicos (contradição de termos?) e terminava no "quem nunca fez?"
Numa praia lotada, em pleno
dia, pouca gente certamente teve a coragem -ou o desplante,
como queira o leitor. Filmada e
com legendas em espanhol,
menos ainda. Mas todo mundo
(ou quase) tem alguma história
picante em lugar inusitado para
contar, inclusive aqueles que
não contam. O problema é que,
nestes tempos de YouTube e
câmera digital a preço de banana, aquela singela rapidinha
pode virar um vídeo para a posteridade. Tudo bem se você é
um "dogger", invenção britânica para nominar fetichistas que
gostam de transar com platéia.
Tudo mal se você é só alguém
apanhado durante a derrapada
numa fantasia transgressora.
A questão parece ser mais do
grau de transgressão. "Transar
no banheiro de uma festa ou
numa praia escondida é uma
coisa totalmente diferente de
transar ao ar livre em plena luz
do dia", afirma o psicólogo Osvaldo Martins Rodrigues, presidente da Sociedade Brasileira
de Estudos em Sexualidade
Humana. "O saudável é o limite
do social. Se você não tem controle sobre os seus impulsos,
não é confiável socialmente."
Rodrigues diz que o "descontrole" é natural em períodos da
vida -como na adolescência-,
mas pode se configurar como
psicopatologia mais tarde se,
para sentir prazer, o indivíduo
precisar sempre correr risco e
infringir regras.
O psicanalista Jorge Forbes é
mais generoso. "A sexualidade
é algo muito íntimo, mas que o
homem quer expor. Mesmo os
amantes secretos acabam se revelando parcialmente, porque
eles têm o prazer de pensar que
o outro sabe. Faz parte dessa
necessidade de legitimar a escolha sexual e amorosa."
O mesmo raciocínio, diz, vale
para o sexo em lugares públicos. "Há um prazer em enfrentar os limites à expressão amorosa e, se o indivíduo acha um
jeito de burlar a vigilância social, não pensará duas vezes em
romper a barreira do proibido.
Não há nada de patológico."
Francisco Daudt, que assina
a coluna "Fale com ele", da Revista, faz pouco do fuzuê. "A
única novidade nessa história
toda é a existência da câmera
portátil e da internet. A privacidade já foi novidade até alguns
anos atrás, hoje não é mais."
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