São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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SAÚDE
Vigilância constata defeitos e falta de higiene em produtos distribuídos na campanha de prevenção do colo de útero
Falhas comprometem kit ginecológico

MALU GASPAR
da Reportagem Local

O Ministério da Saúde distribuiu kits para exames com falhas de fabricação aos postos de saúde que realizam a campanha de prevenção ao câncer de colo do útero.
Na semana passada, a Vigilância Sanitária de São Paulo realizou uma vistoria na sede da empresa Ginion, que montava e embalava os kits, e constatou produtos com problemas de higiene e instrumentos com defeito.
O relatório final da inspeção concluiu que os problemas na produção dos kits podem ter atingido produtos já distribuídos pelo ministério aos postos do país.
Segundo a Vigilância, não é possível saber a extensão do problema, já que, conforme diz o relatório, não há como fazer o rastramento dos kits embalados por empresas terceirizadas, porque eles não passaram pela Kolplast, que venceu a licitação para fabricar os produtos.
O ministério comprou 4 milhões de kits para a distribuição nos postos de saúde. A campanha vai até 30 de setembro e é destinada a mulheres de 35 e 49 anos.
"Havia kits jogados nos cantos, num saco no chão. Encontramos também espéculos com rebarbas e sujeira em espátulas", diz Waldemar José de Azevedo, diretor da Direção Regional de Saúde 1 (DIR 1) de São Paulo, que enviou os técnicos para a vistoria.
Como os kits já foram distribuídos e podem ser inutilizados caso tenham defeitos, não é possível saber quantos produtos com problemas chegaram aos postos.
Os defeitos também foram constatados por postos de São Paulo. Antes da vistoria, a coordenação estadual da campanha já havia recebido reclamações. Segundo a coordenadora Wilza Villela, não foram muitas.
"Reclamaram do tamanho dos espéculos e disseram que incomodavam as pacientes na hora do exame." Para ela, os defeitos podem estar na terceira remessa enviada ao Estado, que teria sido importada pela Kolplast.
Postos de Brasília também reclamaram, mas, segundo o coordenador da campanha, Silvio Carlos Duarte, as reclamações se referiam a falhas, sem especificação.
Espéculos são instrumentos introduzidos na vagina para ajudar a visualizar o colo do útero durante a coleta de material para o exame.
Se tiverem rebarbas ou superfície áspera, outro problema apontado, podem causar lesões, que trazem sangramento e dores na relação sexual (veja quadro).
Se as espátulas estiverem sujas na coleta, podem provocar inflamação. Cada kit tem um espéculo de plástico descartável, luvas e instrumentos para a coleta do material do colo do útero das pacientes.
"Verificou-se, na Kolplast, que o controle de qualidade não garantia a qualidade dos produtos que levavam a sua marca. Havia um problema com a garantia dos serviços terceirizados, inclusive com impossibilidade de rastreamento dos kits de papanicolau produzidos pelo Ministério da Saúde e já distribuídos", diz o relatório de técnicos da DIR 1. Depois da vistoria, a empresa foi interditada e autuada. Segundo a Kolplast, havia problemas em apenas 100 mil kits embalados pela Ginion, que não foram distribuídos. A empresa disse que é possível rastrear o destino de cada kit.


Colaborou Priscila Lambert, da Reportagem Local



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