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Quando sobra verba, posto dá 'troco', diz Liberal
da Reportagem Local
O delegado José Pedro Liberal
disse que, quando há sobras da
verba de combustível, o posto que
abastece a delegacia lhe dá o "troco". O dinheiro, segundo ele, é
usado para comprar materiais de
escritório.
(CA)
Folha - Ontem (segunda-feira), o
senhor me falava que desviar a
verba do combustível para tapar
buracos nas delegacias é uma prática mais ou menos tradicional na
polícia, mas, nesse caso (de Santo
André), a diferença é que houve a
fraude nas notas fiscais dos postos
de combustível, não é?
José Pedro Liberal - O que eu
soube, não pela teoria, mas pela
prática, é que em posto de gasolina
a tributação está inclusa quando
descarrega no tanque.
Tanto é que, quando você vai no
posto, tem lá no balcão um montão de nota fiscal e você preenche a
nota no valor que quer. É que nem
restaurante. Quando o garçom
pergunta se precisa de nota, pergunta também em qual valor. Para
eles, o valor é indiferente. O problema fiscal do posto não sei.
Quem pode explicar é a Fazenda.
Folha - Mas como é que isso funciona na Polícia Civil?
Liberal - Como funciona? Depende. Cada lugar tem um jeito de
funcionar. Você tem mil formas.
Vamos admitir que o ... Não estou
falando desse caso. Lá em Santo
André, eu não sei. Aqui, o que eu
recebo vai para o posto de gasolina. Quando, eventualmente, não
há a utilização total, o posto me dá
o troco, para eu comprar material
de escritório, uma coisa ou outra.
O importante é o seguinte: se alguém liga para a delegacia e o delegado diz que ele não tem combustível, tá ferrado. Essa é a verdade.
Agora, quando um delegado se
vira e consegue o combustível ou
consegue até mais do que isso, vão
perguntar o que ele faz com o dinheiro. É um negócio difícil.
Eu só entendo o seguinte: isso aí
é a Justiça que vai ter de apreciar e
verificar o que que é feito de má-fé,
onde existe a falha contábil e onde
existe o crime. São coisas difíceis.
Folha - E distintas também. Usar
o dinheiro para outra finalidade na
delegacia é uma irregularidade
mais de âmbito administrativo...
Liberal - É uma irregularidade
contábil, contábil. Constantemente você vê no "Diário Oficial":
transferindo do orçamento da secretaria tal do elemento tal para o
elemento tal. Quer dizer, é a transferência de verba de uma finalidade para outra. Por exemplo, eu tenho verba para comprar café e não
tenho para comprar papel higiênico. Quer dizer, se acabar o papel eu
não posso pegar um dinheirinho
do café para comprar o papel.
Folha - Mas, nesse caso, é feito,
entre aspas, na clandestinidade.
Liberal - Ah sim. Às vezes, até
por uma questão de praticidade,
faz-se na clandestinidade, mas o
objetivo é o serviço não parar.
Folha - O sr. pretende tomar medidas administrativas lá (em Santo
André) ou apenas tocar a seccional
até que saia o novo titular?
Liberal - Apenas tocar a seccional. Haverá remanejamento se
houver necessidade operacional.
Não devido a esses fatos.
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