São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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Quando sobra verba, posto dá 'troco', diz Liberal

da Reportagem Local

O delegado José Pedro Liberal disse que, quando há sobras da verba de combustível, o posto que abastece a delegacia lhe dá o "troco". O dinheiro, segundo ele, é usado para comprar materiais de escritório. (CA)

Folha - Ontem (segunda-feira), o senhor me falava que desviar a verba do combustível para tapar buracos nas delegacias é uma prática mais ou menos tradicional na polícia, mas, nesse caso (de Santo André), a diferença é que houve a fraude nas notas fiscais dos postos de combustível, não é?
José Pedro Liberal -
O que eu soube, não pela teoria, mas pela prática, é que em posto de gasolina a tributação está inclusa quando descarrega no tanque.
Tanto é que, quando você vai no posto, tem lá no balcão um montão de nota fiscal e você preenche a nota no valor que quer. É que nem restaurante. Quando o garçom pergunta se precisa de nota, pergunta também em qual valor. Para eles, o valor é indiferente. O problema fiscal do posto não sei. Quem pode explicar é a Fazenda.
Folha - Mas como é que isso funciona na Polícia Civil?
Liberal
- Como funciona? Depende. Cada lugar tem um jeito de funcionar. Você tem mil formas. Vamos admitir que o ... Não estou falando desse caso. Lá em Santo André, eu não sei. Aqui, o que eu recebo vai para o posto de gasolina. Quando, eventualmente, não há a utilização total, o posto me dá o troco, para eu comprar material de escritório, uma coisa ou outra.
O importante é o seguinte: se alguém liga para a delegacia e o delegado diz que ele não tem combustível, tá ferrado. Essa é a verdade.
Agora, quando um delegado se vira e consegue o combustível ou consegue até mais do que isso, vão perguntar o que ele faz com o dinheiro. É um negócio difícil.
Eu só entendo o seguinte: isso aí é a Justiça que vai ter de apreciar e verificar o que que é feito de má-fé, onde existe a falha contábil e onde existe o crime. São coisas difíceis.
Folha - E distintas também. Usar o dinheiro para outra finalidade na delegacia é uma irregularidade mais de âmbito administrativo...
Liberal
- É uma irregularidade contábil, contábil. Constantemente você vê no "Diário Oficial": transferindo do orçamento da secretaria tal do elemento tal para o elemento tal. Quer dizer, é a transferência de verba de uma finalidade para outra. Por exemplo, eu tenho verba para comprar café e não tenho para comprar papel higiênico. Quer dizer, se acabar o papel eu não posso pegar um dinheirinho do café para comprar o papel.
Folha - Mas, nesse caso, é feito, entre aspas, na clandestinidade.
Liberal
- Ah sim. Às vezes, até por uma questão de praticidade, faz-se na clandestinidade, mas o objetivo é o serviço não parar.
Folha - O sr. pretende tomar medidas administrativas lá (em Santo André) ou apenas tocar a seccional até que saia o novo titular?
Liberal -
Apenas tocar a seccional. Haverá remanejamento se houver necessidade operacional. Não devido a esses fatos.



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