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POLÍCIA
Seccional, nomeado justamente após denúncia de problema semelhante, diz que prática é comum na instituição
Delegado diz ser hábito desvio de combustível
CRISPIM ALVES
da Reportagem Local
O delegado José Pedro Liberal,
que agora acumula as delegacias
seccionais de São Bernardo e de
Santo André, afirmou à Folha que
o desvio da verba de combustível
para outras finalidades é prática
habitual na Polícia Civil.
No último dia 15, o Ministério
Público de São Paulo denunciou,
sob as acusações de peculato e falsidade ideológica, oito delegados
justamente por causa da descoberta do desvio dessa verba.
Segundo a denúncia, ao longo de
dois anos esses policiais teriam se
apoderado de cerca de R$ 600 mil
por meio de adulteração de notas
fiscais de postos de combustível
(veja quadro nesta página).
Um deles, Francisco José Pacífico de Miguelli, era o titular da seccional de Santo André. Ele pediu
exoneração do cargo e nega ter se
apropriado de R$ 264.152,00, como alegam os promotores. Segundo Miguelli, o dinheiro foi usado
para cobrir gastos da delegacia.
Outro denunciado é Edmilson
Brancalion, que, inclusive, está
preso, acusado de chefiar uma
quadrilha de policiais traficantes.
Liberal também disse ser difícil
acreditar que algum delegado tenha efetivamente embolsado o dinheiro. O mais comum são os policiais usarem essa verba para cobrir outros gastos, como compra
de material de escritório.
"O que eu quero deixar bem claro é que há uma diferença muito
grande em usar essas verbas em
benefício do serviço e se apropriar
delas. Você parte de um erro administrativo para um crime grave", afirmou Liberal.
Ele se tornou, momentaneamente, o responsável por toda a
Polícia Civil do ABCD paulista, até
que seja designado um novo titular para a Delegacia Seccional de
Santo André.
Na conversa, gravada por telefone anteontem, Liberal explica
também, mesmo sem ser muito
claro, como funcionaria o esquema para obter essa verba (leia
abaixo os principais trechos da
conversa de Liberal com a Folha).
"Como funciona (o esquema de
desvio da verba)? Depende. Cada
lugar tem um jeito de funcionar.
Você tem mil formas. Depende do
lugar, do delegado, do posto. Cada
um tem o seu", afirmou Liberal.
O chefe da Polícia Civil do ABCD
afirmou que não pretende tomar
qualquer medida administrativa
para apurar as irregularidades cometidas por policiais da seccional
de Santo André. "Não recebi
orientação alguma sobre isso. Vou
apenas tocar a seccional e tomar
medidas de rotina", disse.
A seccional é alvo de pelo menos
nove investigações conduzidas pelos promotores do Gaeco (Grupo
de Atuação Especial de Repressão
ao Crime Organizado). O delegado Edmilson Brancalion, por
exemplo, era o segundo homem
na hierarquia da delegacia.
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