São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍCIA
Seccional, nomeado justamente após denúncia de problema semelhante, diz que prática é comum na instituição
Delegado diz ser hábito desvio de combustível

CRISPIM ALVES

da Reportagem Local

O delegado José Pedro Liberal, que agora acumula as delegacias seccionais de São Bernardo e de Santo André, afirmou à Folha que o desvio da verba de combustível para outras finalidades é prática habitual na Polícia Civil.
No último dia 15, o Ministério Público de São Paulo denunciou, sob as acusações de peculato e falsidade ideológica, oito delegados justamente por causa da descoberta do desvio dessa verba.
Segundo a denúncia, ao longo de dois anos esses policiais teriam se apoderado de cerca de R$ 600 mil por meio de adulteração de notas fiscais de postos de combustível (veja quadro nesta página).
Um deles, Francisco José Pacífico de Miguelli, era o titular da seccional de Santo André. Ele pediu exoneração do cargo e nega ter se apropriado de R$ 264.152,00, como alegam os promotores. Segundo Miguelli, o dinheiro foi usado para cobrir gastos da delegacia.
Outro denunciado é Edmilson Brancalion, que, inclusive, está preso, acusado de chefiar uma quadrilha de policiais traficantes.
Liberal também disse ser difícil acreditar que algum delegado tenha efetivamente embolsado o dinheiro. O mais comum são os policiais usarem essa verba para cobrir outros gastos, como compra de material de escritório.
"O que eu quero deixar bem claro é que há uma diferença muito grande em usar essas verbas em benefício do serviço e se apropriar delas. Você parte de um erro administrativo para um crime grave", afirmou Liberal.
Ele se tornou, momentaneamente, o responsável por toda a Polícia Civil do ABCD paulista, até que seja designado um novo titular para a Delegacia Seccional de Santo André.
Na conversa, gravada por telefone anteontem, Liberal explica também, mesmo sem ser muito claro, como funcionaria o esquema para obter essa verba (leia abaixo os principais trechos da conversa de Liberal com a Folha).
"Como funciona (o esquema de desvio da verba)? Depende. Cada lugar tem um jeito de funcionar. Você tem mil formas. Depende do lugar, do delegado, do posto. Cada um tem o seu", afirmou Liberal.
O chefe da Polícia Civil do ABCD afirmou que não pretende tomar qualquer medida administrativa para apurar as irregularidades cometidas por policiais da seccional de Santo André. "Não recebi orientação alguma sobre isso. Vou apenas tocar a seccional e tomar medidas de rotina", disse.
A seccional é alvo de pelo menos nove investigações conduzidas pelos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). O delegado Edmilson Brancalion, por exemplo, era o segundo homem na hierarquia da delegacia.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.