São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Cartas e depoimentos de presos revelam disputa pelo poder nas prisões de SP

Morte pode indicar guerra interna

DA REPORTAGEM LOCAL

Cartas e depoimentos de presos que chegaram nos últimos três meses à polícia e ao Ministério Público mostram que José Márcio Felício, o Geleião, faz campanha pela morte de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Ambos são fundadores do PCC (Primeiro Comando da Capital).
"Geleião gostaria de ver Marcola morto", diz uma das autoridades que investiga o PCC, porque ele estaria descumprindo ordens para "implantar o terror" -estratégia da ala radical para forçar o governo a rever o isolamento dos líderes da facção.
Com exceção de Marcola, os principais líderes da facção estão presos na Penitenciária de Presidente Bernardes (589 km de SP), em celas individuais, sem rádio ou TV, com horário de banho de sol limitado e sem visita íntima. É um regime de punição para condenados indisciplinados.
Diante do novo cenário, a organização estaria se dividindo: os "radicais" de Geleião e os "moderados" de Marcola e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha.
Tudo indica que as duas alas estão competindo o poder, segundo os promotores Roberto Porto e Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Não é a primeira disputa interna. No ano passado, Geleião, Cesinha e Marcola estiveram do mesmo lado contra uma minoria dissidente que pregava a necessidade de os presos se organizarem, sem a realização de atentados e com o fim do "pedágio" (extorsão de dinheiro) nas prisões -uma das fontes de renda da facção.
Essa guerra terminou com a morte de presos ligados a Misael Aparecido da Silva, o Misa, um dos fundadores do PCC, assassinado em janeiro no presídio de Presidente Venceslau.
A advogada Ana Maria Olivatto Herbas Camacho pode ter sido morta por sua ligação com Marcola e pela suspeita do grupo de Geleião de que ela dava informações à polícia.
Em maio, quando as lideranças do PCC foram isoladas em Presidente Bernardes, incomunicáveis por causa do sistema de bloqueio de celulares, Geleião passou a incentivar os atentados para exigir sua volta a presídios comuns. Chegou a escrever uma carta ameaçando o governador Geraldo Alckmin e, por isso, ganhou mais um ano no regime disciplinar diferenciado. Marcola, apesar de estar fora do isolamento, não teria colaborado nesse sentido.
"Uma das hipóteses [para o assassinato de Ana" é o desentendimento entre eles [integrantes do PCC]", afirma o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic.
A mulher de Geleião, Petronilha Maria de Carvalho Felício, 51, negou ontem à policia envolvimento na morte de Ana. Presa pelo plano de atentado a bomba descoberto na última segunda-feira e defendida pela advogada assassinada, ela vinha sendo chamada de "madrinha" por integrantes do PCC e nomeando líderes da facção em presídios, segundo grampos da polícia dos últimos 30 dias.


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