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CRIME ORGANIZADO
Cartas e depoimentos de presos revelam disputa pelo poder nas prisões de SP
Morte pode indicar guerra interna
DA REPORTAGEM LOCAL
Cartas e depoimentos de presos
que chegaram nos últimos três
meses à polícia e ao Ministério
Público mostram que José Márcio
Felício, o Geleião, faz campanha
pela morte de Marcos Willians
Herbas Camacho, o Marcola.
Ambos são fundadores do PCC
(Primeiro Comando da Capital).
"Geleião gostaria de ver Marcola morto", diz uma das autoridades que investiga o PCC, porque
ele estaria descumprindo ordens
para "implantar o terror" -estratégia da ala radical para forçar
o governo a rever o isolamento
dos líderes da facção.
Com exceção de Marcola, os
principais líderes da facção estão
presos na Penitenciária de Presidente Bernardes (589 km de SP),
em celas individuais, sem rádio
ou TV, com horário de banho de
sol limitado e sem visita íntima. É
um regime de punição para condenados indisciplinados.
Diante do novo cenário, a organização estaria se dividindo: os
"radicais" de Geleião e os "moderados" de Marcola e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha.
Tudo indica que as duas alas estão competindo o poder, segundo
os promotores Roberto Porto e
Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado).
Não é a primeira disputa interna. No
ano passado, Geleião, Cesinha e
Marcola estiveram do mesmo lado contra uma minoria dissidente
que pregava a necessidade de os
presos se organizarem, sem a realização de atentados e com o fim
do "pedágio" (extorsão de dinheiro) nas prisões -uma das fontes
de renda da facção.
Essa guerra terminou com a
morte de presos ligados a Misael
Aparecido da Silva, o Misa, um
dos fundadores do PCC, assassinado em janeiro no presídio de
Presidente Venceslau.
A advogada Ana Maria Olivatto
Herbas Camacho pode ter sido
morta por sua ligação com Marcola e pela suspeita do grupo de
Geleião de que ela dava informações à polícia.
Em maio, quando as lideranças
do PCC foram isoladas em Presidente Bernardes, incomunicáveis
por causa do sistema de bloqueio
de celulares, Geleião passou a incentivar os atentados para exigir
sua volta a presídios comuns.
Chegou a escrever uma carta
ameaçando o governador Geraldo Alckmin e, por isso, ganhou
mais um ano no regime disciplinar diferenciado. Marcola, apesar
de estar fora do isolamento, não
teria colaborado nesse sentido.
"Uma das hipóteses [para o assassinato de Ana" é o desentendimento entre eles [integrantes do
PCC]", afirma o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic.
A mulher de Geleião, Petronilha
Maria de Carvalho Felício, 51, negou ontem à policia envolvimento na morte de Ana. Presa pelo
plano de atentado a bomba descoberto na última segunda-feira e
defendida pela advogada assassinada, ela vinha sendo chamada de
"madrinha" por integrantes do
PCC e nomeando líderes da facção em presídios, segundo grampos da polícia dos últimos 30 dias.
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