São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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ALTA ANSIEDADE

Dos jovens entrevistados em estudo, apenas um terço admite adotar proteção durante relações sexuais

Minoria usa a camisinha regularmente

DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas um terço dos jovens admite que usa regularmente a camisinha durante as relações sexuais, segundo pesquisas do Projeto Sexualidade da USP. As justificativas são as mais variadas possíveis: confiança no parceiro, esquecimento e medo de perder a ereção, entre outras.
De acordo com a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora dos estudos, ao serem entrevistados, homens e mulheres deixam claro a insegurança que está por trás da recusa do uso do preservativo.
"No fundo, tanto ele quanto ela tem medo de ofender o parceiro ou a parceira. Ele pensa que exigir a camisinha é o mesmo que chamá-la de promíscua. Ela também não sente vontade de fazer essa exigência", diz Abdo.
Segundo a psiquiatra, não há desconhecimento sobre sexo seguro entre esses jovens. Falta um "link" entre o eles sabem e o que eles praticam.
O urologista Sidney Glina concorda: "Em tese eles conhecem os perigos, mas acham que, ao transar com pessoas conhecidas, estarão protegidos".
Para a psicóloga Helena Lima, os números demonstram o fracasso das campanhas públicas de incentivo ao uso da camisinha. "Precisamos entender como atingir esse público", afirma.
Segundo Lima, a sensação que se tem é que os jovens estão perdendo o medo da Aids, talvez por não se sentirem em risco.
Na opinião de Abdo, uma idéia seria a realização de mais trabalhos de prevenção com grupos pequenos e perfis semelhantes. "O ideal seria que a própria família falasse de maneira aberta sobre sexo. O comportamento do silêncio não pode continuar sendo perpetuado", diz.
Os especialistas concordam que o abuso do álcool e das drogas é um fator a mais para o sexo inseguro. "Eles se sentem desinibidos, ousados, corajosos", diz Abdo.
Na última quarta e quinta-feira, a Folha conversou com 50 jovens entre 18 e 23 anos, nos bares próximos a cursinhos e faculdades na área central da cidade.
Desses, pelo menos 15 meninos admitiram que já fizeram sexo sem proteção. Pedro, por exemplo, diz que transou com uma garota em Porto Seguro (BA), que, sabidamente, saía com turistas estrangeiros. "Na primeira [relação sexual], rolou com camisinha. Depois, esqueci de tudo. Fiquei com ela até o fim das férias sem proteção nenhuma", diz.
Entre as meninas, a maioria diz que não exige camisinha do namorado ou do garoto com quem "ficam". "Sei que é a maior burrada, mas não tenho coragem de exigir", confessa Ana Paula, 20. (CLÁUDIA COLLUCCI)

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