São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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PARENTES DESAPARECIDOS

Em seis anos, dois sequestros semelhantes ao de Pedrinho aconteceram em Santos e no Guarujá

Casos do litoral de SP estão sem solução

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Uma mulher disfarçada de enfermeira entra no hospital para sequestrar uma criança. Escolhe o recém-nascido, diz à mãe que vai levá-lo para exames e desaparece. Com intervalo de seis anos, dois casos semelhantes ocorreram em hospitais do litoral de São Paulo.
Similares ao caso do bebê Pedro Braule Pinto, o Pedrinho, levado em 21 de janeiro de 1986 de uma maternidade em Brasília, as histórias das duas mães do litoral paulista ainda não terminaram.
Francineide Batista Lopes, 27, procura desde abril do ano passado o filho Felipe, retirado clandestinamente do hospital estadual Guilherme Álvaro, em Santos, três dias após nascer.
Ana Paula Vital, 21, busca Alexsandro há quase sete anos. Ela o perdeu em fevereiro de 1996, um dia após o parto, no hospital Santo Amaro, no Guarujá.
"Deixei de viver. Tudo o que faço é em razão dessa procura. Não paro de divulgar porque não posso deixar cair no esquecimento. Esse menino que foi encontrado [Pedrinho" renovou a nossa esperança", disse Francineide.
"Cansei de ir às rádios, de fazer passeata, mas não deu em nada. Agora, depois de ver esse caso na TV, estou esperançosa de novo", afirmou Ana Paula.

Santos
A mulher que levou Felipe vestia uniforme branco. Ela entrou na maternidade e disse que o menino faria um raio-X -durante o parto, ele havia sofrido um deslocamento da clavícula.
Francineide decidiu acompanhar o exame, mas a mulher já havia saído com a criança. "Quando cheguei no posto de enfermagem e perguntei, disseram que não havia raio-X marcado e que ninguém tinha vindo buscar o menino. Foi aí então que caiu a ficha. Eu fiquei desesperada."
O pai, o garçom Francisco Fernandes Dantas, 31, se diz arrependido por ter perdido a chance de fotografar o menino -que tinha um sinal de nascença em uma nádega. Ele respeitou a ordem de um funcionário, que disse que fotos eram proibidas na enfermaria.
O casal não teve outros filhos. "Não temos mais uma vida dedicada a nós. Todos os dias, acordamos pensando no que aconteceu e procurando encontrar uma solução", afirmou Dantas.
O delegado Gaetano Vergine, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), disse que não pode falar sobre a investigação devido ao sigilo decretado pela Justiça.
O diretor regional da Saúde da Baixada Santista, José Ricardo di Renzo, ao qual está subordinado o hospital, afirmou que a sindicância instaurada para apurar o episódio não apontou participação de funcionários no crime.
Mas, segundo ele, detectou falhas de vigilância e resultou na instalação de um circuito interno de TV e de mudanças nos procedimentos de segurança para entrada e saída de veículos e pessoas.

Guarujá
Atualmente desempregada, Ana Paula Vital é mãe de uma menina de três meses. Ela tinha 14 anos quando Alexsandro nasceu. O pai da criança, segundo ela, desapareceu ao saber da gravidez.
O roteiro do sequestro foi semelhante ao de Felipe. "Ela me disse: "Mãe, dá o nenê que eu vou fazer o teste do pezinho nele". Depois ela sumiu", afirmou Ana Paula.
Uma hora mais tarde, ao chegar para a visita, a avó perguntou sobre o neto para uma enfermeira e descobriu que não estava previsto nenhum exame.
O médico Guillermo Bahamonde Manso, interventor municipal no hospital Santo Amaro à época, disse que o procedimento administrativo instaurado na ocasião concluiu não ter havido envolvimento de funcionários e não resultou em punições.
De acordo com o cartório da Delegacia Sede do Guarujá, o inquérito foi relatado, encaminhado para o fórum local e não mais retornou. A reportagem não conseguiu localizar o delegado responsável pelo caso.


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