São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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Vizinhos doam cestas básicas

DA REPORTAGEM LOCAL

Quase nove anos depois de ter sido acusada indevidamente de abuso sexual de crianças, Paula Milhim Monteiro de Alvarenga vive de cestas básicas que recebe como doação de seus vizinhos.
Logo depois do encerramento do caso pela polícia, o marido de Paula deixou a casa em que o casal morava com duas filhas e foi para o interior. Ela teve de trabalhar para sustentar as duas filhas.
"Eu conseguia trabalhar por alguns meses, até que me reconhecessem. Daí eu precisava procurar um outro emprego. Mas do jeito que a crise está, não consigo mais emprego nenhum. Não tenho experiência e ainda fui dona da Escola Base", afirma Paula, com a voz embargada.
Sem emprego, Paula vê suas dívidas aumentarem cada vez mais. Ela teve seu telefone cortado há mais de dois anos. O fornecimento de água só é feito por causa de uma liminar judicial -há um ano ela deixou de pagar as contas e água foi cortada.
Além disso, Paula não paga o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) há quatro anos e corre o risco de ter sua casa penhorada pelo município. Ela espera que o fornecimento de luz elétrica seja cortado a qualquer momento.
"Eu estava trabalhando honestamente e aconteceu o que aconteceu. Sou uma brasileira que gostaria de voltar a ser útil ao país."

Memória
Após a divulgação das acusações contra Paula e os outros três donos da Escola Base pela polícia, o prédio da escola foi depredado. Os donos, que alugavam a casa, tiveram de reformá-la antes de devolvê-la para os proprietários.
A casa onde Paula morava também foi apedrejada. Pessoas enfurecidas pelas acusações divulgadas pela imprensa invadiram o imóvel com a intenção de linchá-la. Como ela não estava, roubaram alguns de seus pertences.
Os endereços da escola e da casa de Paula foram divulgados por emissoras de televisão, que também exibiram imagens das fachadas das casas. A polícia não tomou nenhuma atitude para impedir os atos da população.
Paula afirma ter sofrido agressões físicas de policiais, que teriam tentado fazê-la confessar o inverídico abuso sexual de crianças do qual eles a acusavam.
Ela também diz que sofreu ameaças de pessoas desconhecidas que prometiam queimar sua casa ou exibiam armas para ela.


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