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RIO
Risco de contaminação e sujeira não impediram que, ajudados até por PMs, 2.000 moradores de favelas levassem alimentos
Moradores saqueiam Ceasa após incêndio
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Cerca de 2.000 pessoas saquearam ontem alimentos e produtos
de higiene e limpeza queimados,
considerados impróprios para o
uso, na sede da Ceasa (Centrais de
Abastecimento do Estado do Rio
de Janeiro S/ A) no Irajá (zona
norte), atingida por um incêndio.
Moradores de favelas vizinhas
-como Pára Pedro, Acari e
Amarelinho- se amontoavam
no meio dos escombros para conseguir levar para casa arroz, feijão,
latas de óleo, sabonetes e até cerveja e chocolate.
Segundo o Corpo de Bombeiros, os saques começaram na madrugada de ontem, depois que o
fogo foi controlado. O tenente-coronel Jorge Sampaio disse não ter
sido possível impedir que as pessoas revirassem os destroços das
20 lojas queimadas. Bombeiros e
policiais militares se limitaram a
alertar os invasores sobre o risco
de novos desabamentos.
Às 11h30, a área foi isolada e os
saques, interrompidos. Três horas depois, um grupo voltou a pilhar produtos quando a retroescavadeira recolheu entulhos misturados com alimentos. A seguir,
os PMs retiraram as pessoas.
Na busca, muitos acabaram feridos nos escombros, com pés e
mãos cortadas ou arranhadas.
Mulheres (a maioria), homens,
crianças e velhos tentavam carregar o que podiam. Nem o medo
de contaminação os impediu de
levar os produtos -muitos expostos ao tempo desde a véspera,
como batata e leite. Até PMs ajudaram a carregar alimentos, na
tentativa de liberar o local mais
rapidamente.
Sem demonstrar preocupação
com a sujeira e os riscos à saúde,
as pessoas entravam nos destroços, vasculhando os espaços sob
vigas e lajes destruídas pelo fogo.
Ao saírem do meio do cimento e
ferros retorcidos, estavam enegrecidas pela fuligem.
Mesmo assim, elas pareciam felizes. Quando conseguiam pegar
uma boa quantidade de alimentos, gritavam frases como "É fome
zero" e "É Natal sem fome", numa
referência a programas de combate à carência alimentar.
Segundo comerciantes da Ceasa, o fogo teria começado na loja
Doce Trigo, por volta das 13h15 de
anteontem. O fogo rapidamente
se propagou para outros boxes. A
Ceasa tem 16 pavilhões, com uma
média de 48 lojas cada um.
Ainda no sábado, depois que
começou o incêndio, moradores
de favelas vizinhas se aglomeraram em torno do pavilhão para
tentar invadir o lugar. A presença
PM e o medo do fogo, ainda não
debelado, impediram a ação.
A Ceasa informou que existe
um projeto para ampliar a segurança contra incêndios, orçado
em R$ 1 milhão. Ele só deverá começar a ser implantado em 2004.
Histórico de saques
Tanto os incêndios como os saques têm sido comuns na Ceasa.
Sem considerar as pequenas
ocorrências de fogo, esse foi o
quarto incêndio de grandes proporções no local desde 2001.
Em todos, uma rotina se repete:
milhares de pessoas que moram
em favelas vizinhas vão ao local
para pegar alimentos.
A mais grave ocorrência dos últimos anos ocorreu em 2001. Em
junho, 50 boxes ficaram destruídos. O último grande incêndio na
Ceasa foi em janeiro passado e
queimou 70 lojas, com prejuízo
estimado em R$ 145 milhões.
Em 2002, outro incêndio, que
destruiu 50 lojas, levou 3.000 pessoas à Ceasa com o objetivo de catar algo que tivesse escapado das
chamas. Moradores e PMs, na
época, entraram em confronto.
Colaborou MICHEL ALECRIM
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