|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jovens trocam tráfico por assalto, revela pesquisa
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A queda acentuada dos rendimentos do tráfico de drogas
no varejo do Rio tem contribuído para que jovens deixem a
atividade. Mas muitos não largam o crime e passam a praticar assaltos, como os que têm
afetado a zona sul.
Essa é uma das conclusões da
pesquisa "Caminhada de
Crianças, Adolescentes e Jovens no Tráfico de Drogas no
Rio de Janeiro", divulgada ontem pelo Observatório de Favelas, sediado no Complexo da
Maré (zona norte).
Com a ajuda de dez pessoas
que faziam o elo entre entrevistadores e entrevistados, foram
ouvidas 230 pessoas de 34 comunidades, de 11 a 24 anos, em
2004. Parte delas foi acompanhada até maio passado.
Se na pesquisa anterior, de
2001, um vapor (vendedor de
drogas na favela) ganhava até
mais de dez salários mínimos,
agora a maioria recebe entre
um (R$ 350) e três salários.
A concorrência da cocaína
com drogas sintéticas, como o
ecstasy, e os conflitos que assustam usuários estão entre os
motivos da queda das vendas.
"Os chamados "bonde do 155"
[artigo do Código Penal para
furto] e "bonde do 157" [roubo]
tinham menos status que os rapazes do tráfico, mas hoje muitos adolescentes preferem ser
"trabalhadores autônomos", como eles dizem, para não ter patrão e ganhar mais", diz o geógrafo Jailson de Souza e Silva,
coordenador do Observatório.
Com as mortes ou saídas dos
mais velhos -que também se
desencantam ao trabalhar mais
de dez horas por dia, praticamente sem folga- é cada vez
mais baixa a idade com que se
entra e se ascende no tráfico. A
faixa etária mais declarada
(57,4%) foi entre 13 e 15 anos. E
há quem já seja gerente de boca
de fumo nessa idade.
Os pesquisadores acompanharam 152 dos entrevistados
entre junho e outubro de 2004.
Nesse período, 30 (19,7%) deixaram o tráfico. Dos 230, quase
40% relataram já ter se afastado em algum momento da atividade. Para Jailson, os dados
mostram que, havendo caminhos, muitos deixarão o tráfico.
"A maioria da sociedade não
oferece alternativas a um jovem que já tenha passado pelo
sistema [penitenciário ou socioeducativo]."
A evasão do comércio de drogas também está ligada às ações
policiais. Dos entrevistados,
73% disseram ter sofrido agressões e 54,3%, extorsão. Dos
53% apreendidos (menores) ou
detidos (maiores), pouco mais
da metade foi para instituições
ou prisões. "A maioria é executada", diz Jailson. Ele propõe o
conceito de "grupos criminosos
armados" para substituir "facções", lembrando que cresce o
número de comunidades dominadas por milícias.
Texto Anterior: Perfil: Amigos a viam como atlética e engraçada Próximo Texto: Frase Índice
|