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Amélia, 80, interrompe sonho de ter vaga na USP para comprar geladeira
CATHARINA NAKASHIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Amélia Pires fará 80 anos
em 6 de dezembro um pouco
mais distante de seu sonho.
Desde 2004, presta a Fuvest.
Quer um diploma do curso de
administração da USP. Neste
ano, porém, não esteve entre
os 138.242 aspirantes a vaga
na universidade. A geladeira
estava imprestável, e o dinheiro da inscrição -ajuda de um
sobrinho- foi usado para pagar a prestação de uma nova.
Moradora da Vila Paulicéia
(zona norte de SP), Amélia vive sozinha com seu cachorro,
Leandro -homenagem ao
cantor. Não tem televisão.
Prefere prestar atenção às letras das músicas no rádio.
Acorda às 6h, passeia com o
cão, arruma a casa e começa a
se preparar para "ir à escola".
Troca os chinelos de pelúcia
por sandálias de salto plataforma, o que acrescenta estatura ao seu 1,50 m. Sai às 10h
rumo à Cidade Universitária,
zona oeste, onde chega em 90
minutos se o trânsito é bom.
Amélia nasceu em Guaranésia (sul de MG). O pai era
administrador da fazenda em
que viviam. Aos 11 anos, já estava em São Paulo. Começou a
trabalhar com contabilidade
aos 14 -aprendeu sozinha,
graças à habilidade com os números. Até hoje, no vestibular,
sai-se melhor em matemática.
Aposentada, fez supletivo e
cursou Biologia na USP, via
programa Universidade Aberta para a Terceira Idade, interrompido por falta de estrutura quando faltaram três disciplinas para ela concluí-lo.
Em uma das greves na USP,
conheceu aquele que se tornaria seu padrinho nos estudos,
o ex-reitor Jacques Marcovitch (1997-2001). Ele a chamou para suas aulas e palestras na FEA (Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da USP). Tornaram-se amigos, trocam cartões de aniversário e Natal.
Amélia insistiu no sonho do
diploma. Fez um ano de cursinho e, na primeira foto para o
formulário da Fuvest, em
2004, usou até seu colar de
pérolas. Continua indo, todos
os dias, à biblioteca da FEA.
Decide ela mesma o que vai
estudar, seguindo o que pode
cair no vestibular. No momento, dedica-se à álgebra.
Em seu RG, mantém o adesivo da prova do ano passado.
Diz que não vai tirar. Ano que
vem espera voltar a fazer a Fuvest, e reza para que os dias,
marcados num calendário de
um cursinho famoso da cidade, passem bastante rápido.
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