São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Amélia, 80, interrompe sonho de ter vaga na USP para comprar geladeira

CATHARINA NAKASHIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Amélia Pires fará 80 anos em 6 de dezembro um pouco mais distante de seu sonho. Desde 2004, presta a Fuvest.
Quer um diploma do curso de administração da USP. Neste ano, porém, não esteve entre os 138.242 aspirantes a vaga na universidade. A geladeira estava imprestável, e o dinheiro da inscrição -ajuda de um sobrinho- foi usado para pagar a prestação de uma nova.
Moradora da Vila Paulicéia (zona norte de SP), Amélia vive sozinha com seu cachorro, Leandro -homenagem ao cantor. Não tem televisão.
Prefere prestar atenção às letras das músicas no rádio.
Acorda às 6h, passeia com o cão, arruma a casa e começa a se preparar para "ir à escola".
Troca os chinelos de pelúcia por sandálias de salto plataforma, o que acrescenta estatura ao seu 1,50 m. Sai às 10h rumo à Cidade Universitária, zona oeste, onde chega em 90 minutos se o trânsito é bom.
Amélia nasceu em Guaranésia (sul de MG). O pai era administrador da fazenda em que viviam. Aos 11 anos, já estava em São Paulo. Começou a trabalhar com contabilidade aos 14 -aprendeu sozinha, graças à habilidade com os números. Até hoje, no vestibular, sai-se melhor em matemática.
Aposentada, fez supletivo e cursou Biologia na USP, via programa Universidade Aberta para a Terceira Idade, interrompido por falta de estrutura quando faltaram três disciplinas para ela concluí-lo.
Em uma das greves na USP, conheceu aquele que se tornaria seu padrinho nos estudos, o ex-reitor Jacques Marcovitch (1997-2001). Ele a chamou para suas aulas e palestras na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP). Tornaram-se amigos, trocam cartões de aniversário e Natal.
Amélia insistiu no sonho do diploma. Fez um ano de cursinho e, na primeira foto para o formulário da Fuvest, em 2004, usou até seu colar de pérolas. Continua indo, todos os dias, à biblioteca da FEA.
Decide ela mesma o que vai estudar, seguindo o que pode cair no vestibular. No momento, dedica-se à álgebra.
Em seu RG, mantém o adesivo da prova do ano passado. Diz que não vai tirar. Ano que vem espera voltar a fazer a Fuvest, e reza para que os dias, marcados num calendário de um cursinho famoso da cidade, passem bastante rápido.


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