|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
URBANIDADE
Vila Maria entra na vanguarda
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O personagem da coluna de hoje não é um
indivíduo, como de costume,
mas um prédio desconhecido,
sem nenhum atrativo arquitetônico capaz de fazê-lo figurar na
história da cidade.
Trata-se do edifício que abriga
a unidade da Febem da Vila
Maria. O fato de estar bem em
frente a um quartel da tropa de
choque da Polícia Militar não foi
suficiente para intimidar os 38
internos que recentemente conseguiram escapar de suas dependências -situação que nos leva
a supor que a fuga tenha ocorrido com a conivência dos monitores. Aliás, com base na confissão
de dois jovens, foi registrado um
boletim de ocorrência, em que se
relata que um monitor lhes teria
cedido uma arma. Assim se vê a
que ponto chegou a Febem.
Rebeliões e fugas fazem parte
da rotina dos jovens privados de
liberdade, muitas vezes vítimas
de maus-tratos. Mas, naquele
ponto da zona norte paulistana,
prepara-se uma experiência que,
ainda que não traga grandes resultados, certamente mudará
um pouco o aspecto daquilo que
tem sido até hoje a Febem.
Escolheu-se aquela unidade da
Vila Maria como um laboratório de engenharia comunitária
para que os jovens não só deixem de fazer rebeliões, encenando as costumeiras fugas, mas
consigam fazer o trajeto da prisão para o mercado de trabalho.
Num reconhecimento de suas limitações, o governo estadual iniciará, na Vila Maria, a experiência de terceirização da Febem,
entregando-a a uma entidade
especializada em educação.
Será firmado contrato de gestão, segundo o qual a entidade
deverá cumprir metas em tempo
determinado. Na Vila Maria,
haverá apenas 120 adolescentes,
divididos em três grupos de 40.
A idéia é fazer as mais diversas
parcerias com a comunidade, reforçando não só o atendimento
psicológico mas também programas de arte e tecnologia, além de
projetos profissionalizantes. A
idéia é que, ao sair, o jovem já esteja habilitado a entrar no mercado de trabalho. Para tanto, algumas empresas se disporiam a
receber menores em regime de liberdade assistida.
Tudo isso está, por enquanto,
só no papel. Levará muito tempo
até que se possa avaliar a experiência, com início previsto para
o próximo semestre. Os riscos de
fracasso são imensos, especialmente se novos funcionários não
forem treinados. Mas, com a iniciativa, a Vila Maria, conhecida
como antigo reduto de admiradores de Jânio Quadros, que a
elegeu como bairro do coração,
entra na vanguarda da experimentação social brasileira.
E-mail - gdimen@uol.com.br
Texto Anterior: Cidades do ABC buscam saída para tratar esgoto Próximo Texto: A cidade é sua: Leitora não consegue remédio contra hepatite C em hospital Índice
|