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SAÚDE
Uma ano após a entrada em vigor da lei de doação presumida, número de transplantes no país é igual aos de 1993
Não-doadores de órgãos passam de 60%
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
O número de pessoas que se declararam não-doadoras de órgãos
neste ano ultrapassa os 60% em alguns Estados do país. É com esse
alto índice de rejeição que a lei de
doação presumida de órgãos completa um ano em vigor.
De acordo com o Instituto de
Identificação Ricardo Gumbleton
Daunt, de São Paulo, de 1.118.620
carteiras de identidade emitidas
neste ano (incluídas as segundas
vias), 693.518 (62%) são de
não-doadores.
Também no Pará, o número de
não-doadores chega a 70%. Na Bahia, a situação é mais complicada:
pesquisa realizada em postos de
atendimento dos dois maiores
shopping centers de Salvador
apontam que apenas 10% das carteiras emitidas são de doadores.
"É absolutamente preocupante", diz Walter Garcia, presidente
da ABTO (Associação Brasileira
de Transplantes de Órgãos).
Segundo ele, as consequências
devem aparecer a longo prazo.
"Daqui há 10 ou 20 anos, quando
essas pessoas começarem a morrer, não haverá doador", diz.
A lei de doação presumida de órgãos, em vigor desde 1º de janeiro,
previa que todas as pessoas maiores de 21 anos que não se manifestassem contra a doação seriam automaticamente doadoras. A recusa deve constar no documento de
identidade dos brasileiros.
Em outubro deste ano, após
grande polêmica que envolveu a
criação dessa lei, uma medida
provisória mudou o conceito de
"doação presumida" para "doação presumida fraca". Ou seja, se
o cidadão declarar que não é doador, vale o que estiver no documento. Se ele não se manifestar, a
família tem de ser consultada.
O Ministério da Saúde confirma
que índices como esses são um
problema para o sistema de transplantes do país. Mas, de acordo
com Newton Wiederhecker, assessor da coordenação de alta
complexidade do ministério, é
possível reverter o quadro com
campanhas de conscientização
(leia abaixo).
O número de transplantes realizados no país permanece praticamente estável desde 93, com algum crescimento em determinados períodos e Estados, segundo a
ABTO.
Em São Paulo, o aumento no
número de transplantes neste ano
em relação ao ano passado é atribuído à organização da captação
de órgãos, que está sendo coordenada por uma central de transplantes. Há centrais em apenas oito Estados do país -e, em outros
cinco, elas estão em fase de implantação. "Não é a lei dos transplantes que vai reverter o quadro
de carência. É preciso haver organização e educação", diz Garcia.
O país realizou, de janeiro a setembro deste ano, 938 transplantes de rim com órgãos de doadores
cadáveres. Para atender a demanda, seria necessária a realização de
9.000 transplantes renais por ano
no país. Segundo a Central de
Transplantes de São Paulo, um
paciente chega a esperar, em média, seis anos e meio por um rim,
227 dias por um fígado e 290 dias
por um coração.
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