São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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SP 450

Aos 80, fotógrafo repete programa

DA REPORTAGEM LOCAL

Frederico Sempére já sabe o que fará na noite de hoje. Munido de duas câmaras, uma Pentax ME-Super, de 1982, e uma MZ50, mais moderna, vai ao Vale do Anhangabaú, onde pretende encontrar um bom lugar para fazer fotos.
O paulistano de 80 anos está repetindo exatamente o programa que fez há 50 anos, quando, como fotógrafo amador, andou a cidade inteira capturando imagens do que ia vendo. "Só que, naquela época, eu usava uma Rolleiflex, que era o xodó dos profissionais e dos aspirantes, como eu", revela. "E um flash de mão."
É de sua autoria a foto principal desta página, que retrata o exato momento em que os aviões contratados pela prefeitura começavam a despejar pedaços prateados de papel em forma de triângulo, no que depois ficaria conhecido como chuva de prata. "O efeito dos holofotes refletindo no papel laminado foi enlouquecedor."
Antes, durante o dia, já havia tirado fotografias da parada -que aconteceu no mesmo Anhangabaú- da Miami Jackson Band, uma típica fanfarra norte-americana, com direito ao bloco de metais e às balizas abrindo o desfile.
"Cada menina, rapaz, com uma saiazinha deste tamanhinho", empolga-se. "O pessoal ficou louco." E concede: "Na verdade, eu também". O sr. Frederico não era casado à época, o que viria a acontecer cinco anos depois -hoje é pai de dois filhos, "sem netos".
O Anhangabaú que aparece em suas imagens daquele dia é quase irreconhecível ao paulistano, a não ser por construções que já estavam lá antes e que continuaram depois, como o prédio dos Correios, construído em 1922 pelo escritório de Ramos de Azevedo, e o edifício Matarazzo (1935), mais conhecido como Banespinha, que deve receber o gabinete da prefeita Marta Suplicy a partir de hoje.
O vale de 1954 ligava a avenida 9 de Julho à zona norte, tinha espelho d'água e uma esplanada que conduzia ao viaduto Maria Paula. "Não existiam ainda a avenida 23 de Maio, nem a praça das Bandeiras ou a Câmara dos Vereadores, no Palácio Anchieta."
O sr. Frederico não sabe dizer o que espera das comemorações de hoje. "Em 1954, eu tinha 31 anos e jamais imaginei que chegaria até aqui vivo", conta, relembrando que, naquela época, não era comum que os homens ultrapassassem a barreira dos 50 anos. "Mas, já que estou por aqui, vou aproveitar, não é mesmo?" (SD)



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